Só teve aquele gol…




Abriremos o Campeonato Carioca de 2017 logo com um clássico! E bota clássico nisso. Clássico que já decidiu Brasileirão (a nosso favor)! Clássico que já decidiu (inúmeras vezes) o campeonato regional mais charmoso do Brasil. O maior time que já vi na vida, que provavelmente nunca mais haverá igual (a máquina de 1976) ganhou seu único título em nossas terras (ganhou outros na Europa) em cima do Vasco, com gol de Doval, na prorrogação. Clássico que em 1985 ocorreu por duas vezes na Taça Libertadores: 0 a 0 e 3 a 3! Este jogo, este confronto, este duelo, esta verdadeira guerra, abrirá o Cariocão 2017. Seria jogo pra Maracanã. Sem nenhuma dúvida. Não há estádio em todo o mundo que comporte, como merecem, Vasco e Fluminense. O estádio disponível, o escolhido, foi o Engenhão. Longe do ideal, mas excelente estádio.

Romerito, o herói de do bicampeonato brasileiro 1984
Romerito, o herói de do bicampeonato brasileiro 1984

Meus amigos tricolores. Me propus a escrever sobre um desses inúmeros confrontos, entre Fluminense e Vasco. Sabe quando os treinadores que têm duas ou três ótimas opções para uma mesma posição? Eles falam: dor de cabeça boa! Pois bem. Tive uma dessas “ótimas” dores de cabeça. Quantos clássicos eu, de corpo presente, já assisti. O gol de falta de Edinho foi no segundo tempo, ou seja, foi do lado da nossa torcida (os capitães tinham a delicadeza de escolherem os lados, de modo que o segundo tempo os times sempre atacassem para sua torcida). O de Doval, em 1976 foi do outro lado, no finalzinho da prorrogação. Não vi direito, mas pulei muito! O 0 a 0 da segunda partida da final do Brasileirão de 1984 assisti com as pernas penduradas pra fora das arquibancadas, pois não havia mais lugar (assisti a primeira partida também, a do gol do Romerito). Quando o Assis, com um drible de corpo genial, bateu o zagueiro deles (Daniel Gonzales) e chutou à milímetros da trave esquerda de Roberto Costa, nossa torcida quase me derrubou lá de cima! O Maraca tremia! Nunca ví nada igual! Qual Fluminense e Vasco escolher…

Meu critério foi o seguinte: escolher um jogo que não fosse decisão, que não valesse taça. Que fosse o jogo pelo jogo. Pensei eu: “ Fluminense x Vasco é um desses jogos que não precisam de mais nada. O vencedor deste grande clássico é um verdadeiro campeão!”. Pasmem: a tal “dor de cabeça” ainda era grande! Aquele do gol do Washington (do casal 20), que arrancou do meio de campo, driblou toda a defesa vascaína, e o goleiro Acácio por duas vezes, antes de marcar, veio à cabeça, logo, logo. Aquele, que perdemos de 2×1 (havíamos ganho o primeiro jogo de 1×0, gol contra de Zé do Carmo), mas ganhamos de 2×0 na prorrogação, em 1988, com outro golaço de Washington, outra vez em cima do Acácio. Aquele 2×2 em pleno São Januário, em 2000, quando o bacalhau espremeu nossa torcida num cantinho, zombavam de nós, recém promovidos da terceira divisão. 

Time bicampeão brasileiro em 1984
Time bicampeão brasileiro em 1984

Chorei muito nesse jogo. Foi uma grande vitória (foi 2 a 2, mas havíamos empatado em 1 a 1 no Maraca, o jogo era de Copa do Brasil e passamos de fase). O moleque Roger (atual Roger Flores, Sportv) fez uma jogada de gênio na assistência pro gol do Agnaldo. O Cronista do jornal “O GLOBO”, Fernando Calazans, em homenagem a este passe, deu o seguinte título à sua crônica: “A JOGADA”. Sua crônica tratou de tentar explicar este incrível passe que o Roger deu. Eu até hoje não sei explicar como ele fez “aquilo”. Todos grandes jogos. Mas houve um, antes de todos esses, que mereceu ser o jogo que deixou esse que vos escreve, muito orgulhoso. Fico até “metido”, fico mesmo “marrento”, de ter assistido a este jogo. Meu afilhado (grande tricolor) se gaba de ter assistido, no mesmo Engenhão que sediará a abertura do carioca de 2017, aquele inesquecível lençol de Deco, no jogo contra o Avaí, em 2011. Ele é um jovem que fez 21 anos há pouco. Até concordo com ele que aquela jogada do Deco é uma das grandes jogadas de todos os tempos. Todo tricolor se gaba daquela jogada. Ela nos elevou (ainda mais) ao topo. Mas… tenho 53 anos. Andei vendo algumas coisas nesse tempo. E, assim como disse a ele, direi a todos vocês. Houve, em um Fluminense x Vasco, uma jogada ainda mais famosa. Uma jogada que fez, durante anos a fio, muitas crianças (quase todas que gostavam de futebol), tentarem repetir em suas peladas, sozinho no quarto, com sua bola, em pensamento… de tudo o que é jeito! Foi o gol do Rivellino em 1975. O GOL DO ELÁSTICO! Fluminense 1 x 0 Vasco. Meu primeiro clássico, aos 11 anos de idade. 

As feras PC Caju e Rivellino
As feras PC Caju e Rivellino

1975 foi o ano em que o Fluminense virou o centro do universo. Hoje vemos nosso time com inúmeras dificuldades de expandir a marca. Imaginem o Fluminense passando o campeonato brasileiro durante 2 anos (1976 foi ainda mais, muito mais) lotando todos os estádios do Brasil. Não só no Brasil. Europa, América do Sul. Começou o ano futebolístico deste 1975 no sábado de Carnaval. Estreia de Rivellino, contra o ex clube, Corínthians. Maraca (quase) lotado para um amistoso. Durante o Carioca, sempre tínhamos casa cheia. Eu ficava louco. Não há nenhum exagero nesta palavra: louco! Mas meu pai só me levava contra os pequenos. “Clássicos enchem muito. Você é pequeno ainda”, dizia ele. Mas, vocês sabem como é criança, não é? Perturbei o papai. Pronto, iria ao Flu x Vasco! Ele chamou nosso vizinho, amigo dele, e, junto com minha mãe, fomos ao Maracanã. Vocês sabem. As torcidas entravam juntas e uma ia para um lado, outra pro outro. O Flu tinha sérios desfalques. Na época, me preocupei com o de P C Caju e Gil. Fui dar agora uma olhada na súmula, e vi que Carlos Alberto Torres também não jogou. Nem o reserva imediato de Gil, o Cafuringa. Percebem? Paulo César Caju, C A Torres, e Gil, todos de Copa do Mundo! Três desfalques. Mas jogamos com Félix, Toninho, Silveira, Assis e Marco Antônio; Zé Mário, Cléber (jogava demais e era banco), Rivellino e Mário Sérgio (jogava muito e faleceu no voo da Chapecoense); Wilton e Manfrini. Três desfalques de Copa do Mundo. Quatro jogadores de Copa do Mundo em campo: Felix, Toninho, Marco Antônio e Rivellino (e o “bagulho” ficaria ainda mais “frenético” no ano seguinte, quando todo o time era de seleção, Doval seleção argentina, e só ele, Pintinho e Miguel, embora com várias convocações, não jogaram Copa do Mundo). Esse era nosso time. Só se falava em Fluminense. Só dava Fluminense! Nesse jogo, válido pelo 2° turno do Carioca, o Maracanã não encheu todo. “Só” 58 mil pagantes. Só! Nosso lado do anel estava mais cheio. Normal naquela época. Tinham medo de serem goleados. Essa era a verdade!

O famoso gol do elástico do Rivellino em cima do Vasco
O famoso gol do elástico do Rivellino em cima do Vasco

Vocês ainda se lembram do título que escolhi lá em cima? Isso mesmo. Foi um jogo muito truncado, morno até. Mas, querem saber de uma coisa que acontecia muito com aquele time? Os comentaristas, muitas vezes falavam: “Só precisaram jogar 15 minutos!” ; ou “Passaram o jogo cozinhando o adversário, só no fim construíram a goleada”; “O Fluminense, às vezes, parece que está morto, até que acorda!”; “Quando o Rivellino está apagado, aparece o P C Caju”. E era assim mesmo! De repente, uma goleada! Uma virada! E naquele domingo, a partida estava equilibrada. De repente, na metade do 2° tempo, Manfrini, deslocado pela direita, toca na meia pro Rivellino. É tudo de concreto que me lembro do jogo inteiro. Como o jogo estava em banho maria, os ambulantes estavam pra lá e pra cá, todo mundo comprando tranquilamente aquele cachorro quente Genial, o Mate Leão… parece até que o locutor oficial do Maracanã avisou: “A SUDERJ informa!! Prestem atenção, pois algo de extraordinário acontecerá agora!”. Isso não me sai da cabeça. A sensação no estádio, tudo parou. Quando o Rivellino recebeu a bola, e ficou gingando à frente do Alcir, fez-se silêncio total; os ambulantes colocaram seus isopores e outros recipientes no chão. Se viraram para o campo, como se soubessem o que viria. Nossa torcida, que estava um pouco agitada, se calou. Silêncio absoluto no estádio. Rivellino diante do Alcir, ainda. Passando o pé por cima da bola, esperando que todo o estádio ficasse quieto, todos olhando para ele. Defesa fechada. Manfrini deslocado pela direita. Alcir marcando ele, e os dois zagueiros um pouco atrás. Rivellino deu um desses dribles impossíveis, inacreditáveis: o elástico! Mas ainda tinham dois zagueiros, que fecharam em cima dele na entrada da área. Ele deu um tapa pra frente, com uma condução de bola perfeita, com ela bem próxima do corpo, e os deixou pra trás. A bola ficou boa pra concluir de pé direito. O certo, o normal, seria bater de direita, cruzado. Andrada deve ter pensado assim. Não o culpo. Não o culpo de nem ao menos ter saído na foto que foi pro jornal dos Sports de segunda feira. Rivellino, contra todos os prognósticos, posicionou o corpo e concluiu com sua canhota mortífera, para a esquerda de Andrada, que caiu para a direita, como em um pênalti. É provável que eu nunca mais tenha assistido a um gol desses. Talvez nem assista. Ao chegar no carro, meu pai ligou o rádio. Era a resenha. João Saldanha estava maravilhado. Me lembro que falou. “Um jogo morno, que valeu pelo gol. Ouçam como contou o gol o grande Jorge Cury”. E ouvi a narração do Cury. Meu pai disfarçou. O Léo, meu vizinho também. Mas eu era criança. Criança não consegue disfarçar.

Saudações tricolores! Saudações Explosão Tricolor!

André Luiz de Souza

Por Explosão Tricolor

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