Balanço da temporada do Fluminense e a paciência necessária para Eduardo Baptista




A temporada 2015, definitivamente, não foi das melhores para o Fluminense. É óbvio. Mas dos males, o menor. O clube que iniciou o ano como incógnita, tanto para sua torcida, como imprensa que, como de praxe, fez parecer que não havia vida nas Laranjeiras sem a Unimed – compreensível, porém exagero -, conseguiu terminar o ano sem rebaixamento, como alguns especularam.

E talvez aí, que o maior problema tenha surgido. Com a ânsia de poder provar que tudo e todos estavam errados, a cúpula de futebol tricolor, errou. E muito. O planejamento parecia promissor, mas a forma como o mesmo foi levado talvez tenha colocado tudo a perder.

Peter, Mário e Simone apostaram no scout e nas promessas de Xerém. Entre às contratações, apenas uma rendeu – Vinícius; mas com prazo de validade. Cristóvão, então, tentou achar um time em um elenco que acabara de perder Conca, Rafael Sóbis, Bruno e Carlinhos, entre os nomes de maior importância. Falhou.

Porque na execução do 4-1-4-1 como esquema base no início da temporada, o Fluminense que apresentara problemas nas transições rápidas em 2014, agora via-se engessado. Pouco repertório, saída de bola quase inexistente, e a aflição por parte das contratações que não rendiam. Após o empate em 1 a 1 contra o Tigres do Brasil, pela 11ª rodada do estadual, o estopim. Cristóvão foi demitido pela diretoria tricolor.

Formatação do Fluminense na derrota para o Vasco, na 6ª rodada da Taça Guanabara. (Tactical Pad)
Formatação do Fluminense na derrota para o Vasco, na 6ª rodada da Taça Guanabara. (Tactical Pad)

Ricardo Drubscky chegou para substituir Cristóvão pela fama de bom teórico. Entre seminários e livros, o técnico sempre foi estudioso e tinha na cautela para transição entre profissional e base como uma das principais características que agradaram a diretoria do Fluminense. Entretanto, faltava experiência em clubes de maior expressão.

Ainda no estadual, conseguiu alguns bons resultados. Como a vitória para cima do Botafogo, no primeiro jogo da semifinal do Carioca. Já no segundo jogo, errou em alguns movimentos que o levaram a se perder no trabalho.

Prova disso foram as opções no início do Campeonato Brasileiro. O técnico lançou à campo Pierre, Edson e Jean juntos na execução do 4-2-3-1 com o último adiantado na ponta esquerda com funções mais defensivas para cobrir as investidas de Giovanni.

Equipe com dificuldade de propor e mais ainda para compactar-se em seu campo, o que ficou bem claro na goleada do Atlético – MG, por 4 a 1, em Brasília. Resultado: demitido.

Base do 4-2-3-1 proposto por Drubscky. (Tactical Pad)
Base do 4-2-3-1 proposto por Drubscky. (Tactical Pad)

Enderson Moreira chegou como substituto e entre a saída de Wagner, a contusão de Vinícius, e o surgimento das agradáveis surpresas que foram Gustavo Scarpa e Marcos Júnior, o técnico fez boa campanha dentro do que pôde tirar do elenco. Terminou o primeiro turno com o Fluminense no G4, e a esperança de conseguir a vaga na Libertadores em 2016.

No segundo turno, entretanto, em meio às especulações de mal-estar no elenco, a obrigação em escalar Ronaldinho como uma peça que, na mente da maioria dos torcedores, deveria render de imediato – mesmo sem qualquer tipo de preparação adequada após meses parado, a equipe caiu de produção e viu mais um técnico ser demitido. Desta vez, após a goleada sofrida para o Palmeiras, no Maracanã.

Enderson foi conservador na escalação. Trio central composto por revelações de Xerém; profundidade com M. Júnior e velocidade do regular G. Scarpa. 4-2-3-1.
Enderson foi conservador na escalação. Trio central composto por revelações de Xerém; profundidade com M. Júnior e velocidade do regular G. Scarpa. 4-2-3-1.

Eduardo Baptista, então, chegou e rapidamente impôs seu padrão na equipe: Linhas compactadas – ofensiva e defensivamente; volantes de boa saída para o jogo (Jean e Cícero), estreitamento diagonal e demais outros aspectos. Conceitos modernos!

Marcação alta e compactação em 25/30 metros. Mais alguns conceitos de Eduardo Baptista. (Foto – Montagem – Adriano Motta)
Marcação alta e compactação em 25/30 metros. Mais alguns conceitos de Eduardo Baptista. (Foto – Montagem – Adriano Motta)

Marcação alta e compactação em 25/30 metros. Mais alguns conceitos de Eduardo Baptista. (Foto – Montagem – Adriano Motta)

O técnico revelado pelo Sport logo demonstrou evolução por parte do time, e é por isso que precisa de paciência. Trabalho à longo prazo é desenvolvido a partir de etapas. E diferentemente dos bons resultados conquistados logo com sua chegada – levar o time até à semifinal da Copa do Brasil -, a perspectiva inicial para 2016 pode não ser a mesma. Por isso, ressalvo: a paciência tem que existir.

A chegada de Eduardo pode ser indicativo de um prelúdio da reestruturação do Fluminense a partir do trabalho em comum acordo com a atual gestão. Afinal, o Sport, sua ex-equipe, chegou no atual patamar muito por méritos do trabalho da pessoa Eduardo Baptista dentro e fora de campo – não comparo a representatividade e grandeza do Fluminense com o time pernambucano, mas dentro do futebol moderno, todo exemplo é válido.

Assim como também não digo que a pressão tem que deixar de existir. Faz parte. O Fluminense é grande. Enorme. E todo profissional sabe disso. Mas um pouco de racionalidade também deve ter vez na opinião do torcedor.

Eduardo não busca resultados imediatos. Busca evolução. E a partir disso, com o passar do tempo, o resultado será satisfatório. Mas, para tanto, a torcida tricolor deve deixar de queimar técnicos com tanta frequência e pensar não só no presente, mas também no futuro.

Façamos do Fluminense um clube maior do que já é!

Deixando em aberto o futuro de alguns jogadores, o esboço de um eventual Fluminense para 2016. Cícero fazendo a transição com bola; Gustavo Scarpa sem a mesma. Biro-Biro e Marcos Júnior com velocidade pelos flancos. (Tactical Pad)
Deixando em aberto o futuro de alguns jogadores, o esboço de um eventual Fluminense para 2016. Cícero fazendo a transição com bola; Gustavo Scarpa sem a mesma. Biro-Biro e Marcos Júnior com velocidade pelos flancos. (Tactical Pad)

Adriano Motta / Explosão Tricolor

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