Vice-presidente jurídico do Fluminense responde provocação do advogado do Flamengo




O polêmico Fla-Flu da trigésima-rodada do Campeonato Brasileiro parece não ter fim. Mesmo com o Fluminense agindo de acordo com a lei, parte da imprensa esportiva parece ter uma grande dificuldade em aceitar o cumprimento de regras. Nesta quarta, o advogado rubro-negro Michel Assef Filho resolveu deixar a razão de lado. Segundo o representante jurídico do Flamengo, a tentativa de pedir a anulação do último Fla-Flu é tão absurdo quanto pular de série no Campeonato Brasileiro. A cutucada foi uma alusão à participação do Fluminense no Módulo Azul, equivalente à Primeira Divisão, da Copa João Havelange de 2000, um ano após conquistar a terceira divisão.

– Não gosto de antecipar defesa, mas temos diversos argumentos. Se o Fluminense se baseia nessa reportagem (da ‘TV Globo’, com leitura labial), não serve para nada. Não posso admitir isso como prova. É lícita, mas não presta, não tem o contexto completo do que aconteceu. A nossa defesa vai mostrar que essa pretensão do Fluminense é absurda. Tão absurda quanto subir da Terceira para a Primeira Divisão, sem passar pela Segunda – disse Michel Assef, que ainda criticou o fato do Fluminense estar tentando validar um gol inválido, entretanto, o advogado não menciona a utilização de imagens externas da TV, que influenciaram decisivamente a mudança de decisão do árbitro Sandro Meira Ricci:

– Ofende fundamentalmente o princípio da moralidade, princípio básico do direito esportivo. Tentar validar um gol claramente inválido e que foi anulado instantaneamente pelos árbitros é um absurdo, ofende frontalmente o princípio da legalidade – disse.

VICE-PRESIDENTE JURÍDICO DO FLUMINENSE SE MANIFESTA SOBRE AS DECLARAÇÕES DE ADVOGADO RUBRO-NEGRO
O advogado Bruno Curi,  que é vice-presidente jurídico do Fluminense, se manifestou sobre as declarações do advogado rubro-negro. Confira abaixo a íntegra do texto do advogado tricolor publicado no seu perfil do Facebook:

“Estarrecido com a declaração abjeta do defensor do Flamengo para a grande mídia sobre sua linha de defesa, ao afirmar que “a pretensão do Fluminense é absurda. Tão absurda quanto subir da Terceira para a Primeira Divisão, sem passar pela Segunda”.

Uma coisa é ser torcedor e se manifestar como tal. Outra é ser um profissional do direito, zelar pelo cumprimento das normas e ter o mínimo de respeito pelo seu trabalho.

Eu entendo que todo defensor de clube seja também torcedor. Mas a vontade de “jogar pra galera” não deveria suplantar a técnica.

Assim, fico estarrecido por perceber que, ou falta respeito, ou falta conhecimento jurídico. Qualquer um dos dois é reprovável.

Todos sabem que o ano 2000 reuniu times de todas as divisões do campeonato brasileiro (116 clubes!), e o Fluminense foi o nono colocado geral, tendo perdido a semifinal para o São Caetano. O Flamengo foi o 19º classificado.

Vale lembrar que o Fluminense disputou o módulo azul, que reunia times das séries A e B – à qual o clube ascendeu após se sagrar campeão da série C em 1999.

Logo, é de dar pena que o advogado do Flamengo ou bem não conheça a história do futebol, ou suas regras ao longo do tempo. Até porque, a rigor, se conhecesse um pouco da história do futebol, saberia que o clube de REGATAS Flamengo, ao iniciar seu futebol em 1912, não disputou o torneio de acesso. Ao contrário, entrou direto na Liga Metropolitana “pela janela”, graças a uma carta do… Fluminense. Sim, isso está documentado, e faz parte do livro “Histórias do Flamengo” escrito pelo imortalizado Mario Filho. Seguem abaixo as páginas em que isso está posto.

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105 anos depois eu me envergonho dessa decisão do Fluminense. Eu luto pelo cumprimento das regras. Mas há quem se esqueça disso quando convém. O que somente realça a desfaçatez do defensor do Flamengo, mas nos permite fazer a diagnose: a incubadora do prematuro surgimento do futebol do Flamengo na Liga Metropolitana foi a burla.

Mas eu entendo mais uma vez o fascínio pelas cartas. Uma outra igual a essa foi usada pelo Flamengo para, vangloriando-se de um WO na partida final do campeonato de 1987, arrogou-se campeão brasileiro daquele ano não com base nas regras, mas por uma – veja só – carta assinada pelos clubes dizendo que seria errado que os módulos disputassem a finalíssima do campeonato.

Óbvio que perderam a discussão, como literalmente entregaram o campeonato ao Sport Club do Recife. Sem contar que, pelas regras (mais uma vez elas!), WO em tese implica eliminação e consequente… rebaixamento. Pois é.

Nada obstante isso, e também em que pese o alarde de que “o resultado de campo é o que importa”, o Flamengo foi ao Supremo Tribunal Federal, ou seja, pelos seus termos tentou ganhar o campeonato “no tapetão”. E perdeu, como era de se esperar: nenhuma carta deveria se sobrepor à regra.

Fato é que, 102 anos depois daquela antiga decisão, o próprio defensor do Flamengo, que hoje alardeia o absurdo da tese do Fluminense, assim se manifestou: “AO LONGO DE DEZ ANOS DEFENDENDO O NOSSO FLAMENGO NOS TRIBUNAIS DESPORTIVOS, ACREDITO QUE ADQUIRI EXPERIÊNCIA PARA OPINAR SOBRE O ASSUNTO. NÃO PODEMOS NOS ESQUECER QUE SE NÃO FOSSE O DESCUIDO DA PORTUGUESA, ÉRAMOS NÓS NA SÉRIE B”. Segue abaixo também o print da matéria jornalística com esse excerto destacado.

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Ironicamente, no mesmo ano o Flamengo se utilizou do mesmo expediente que hoje critica, porém no âmbito do campeonato estadual: buscou anulação da partida por erro de direito, precisamente sob alegação de interferência externa. Algo totalmente legítimo, porém incoerente quando confrontado com o discurso do seu defensor.

Na época o mesmo defensor do Flamengo afirmou: “Nós precisamos apurar se houve auxílio externo, interferência no trabalho da arbitragem. É importante que isso seja verificado”.

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Diante disso, a conclusão a que chego é que não falta conhecimento de regra. A falta é de respeito mesmo. Mas francamente, talvez o Fluminense historicamente mereça: graças a uma centenária burla em seu parto, o futebol do Flamengo, mestiço da grandeza de seu pai Tricolor com a mãe Trapaça, hoje está aí, acostumado a jogar à sombra das normas.

Que o STJD lhes dê a mesma lição que o STF já deu: a justiça.”

Por Explosão Tricolor / Fonte: Facebook 

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