O polêmico Fla-Flu da trigésima-rodada do Campeonato Brasileiro parece não ter fim. Mesmo com o Fluminense agindo de acordo com a lei, parte da imprensa esportiva parece ter uma grande dificuldade em aceitar o cumprimento de regras. Nesta quarta, o advogado rubro-negro Michel Assef Filho resolveu deixar a razão de lado. Segundo o representante jurídico do Flamengo, a tentativa de pedir a anulação do último Fla-Flu é tão absurdo quanto pular de série no Campeonato Brasileiro. A cutucada foi uma alusão à participação do Fluminense no Módulo Azul, equivalente à Primeira Divisão, da Copa João Havelange de 2000, um ano após conquistar a terceira divisão.
– Não gosto de antecipar defesa, mas temos diversos argumentos. Se o Fluminense se baseia nessa reportagem (da ‘TV Globo’, com leitura labial), não serve para nada. Não posso admitir isso como prova. É lícita, mas não presta, não tem o contexto completo do que aconteceu. A nossa defesa vai mostrar que essa pretensão do Fluminense é absurda. Tão absurda quanto subir da Terceira para a Primeira Divisão, sem passar pela Segunda – disse Michel Assef, que ainda criticou o fato do Fluminense estar tentando validar um gol inválido, entretanto, o advogado não menciona a utilização de imagens externas da TV, que influenciaram decisivamente a mudança de decisão do árbitro Sandro Meira Ricci:
– Ofende fundamentalmente o princípio da moralidade, princípio básico do direito esportivo. Tentar validar um gol claramente inválido e que foi anulado instantaneamente pelos árbitros é um absurdo, ofende frontalmente o princípio da legalidade – disse.
“Estarrecido com a declaração abjeta do defensor do Flamengo para a grande mídia sobre sua linha de defesa, ao afirmar que “a pretensão do Fluminense é absurda. Tão absurda quanto subir da Terceira para a Primeira Divisão, sem passar pela Segunda”.
Uma coisa é ser torcedor e se manifestar como tal. Outra é ser um profissional do direito, zelar pelo cumprimento das normas e ter o mínimo de respeito pelo seu trabalho.
Eu entendo que todo defensor de clube seja também torcedor. Mas a vontade de “jogar pra galera” não deveria suplantar a técnica.
Assim, fico estarrecido por perceber que, ou falta respeito, ou falta conhecimento jurídico. Qualquer um dos dois é reprovável.
Todos sabem que o ano 2000 reuniu times de todas as divisões do campeonato brasileiro (116 clubes!), e o Fluminense foi o nono colocado geral, tendo perdido a semifinal para o São Caetano. O Flamengo foi o 19º classificado.
Vale lembrar que o Fluminense disputou o módulo azul, que reunia times das séries A e B – à qual o clube ascendeu após se sagrar campeão da série C em 1999.
Logo, é de dar pena que o advogado do Flamengo ou bem não conheça a história do futebol, ou suas regras ao longo do tempo. Até porque, a rigor, se conhecesse um pouco da história do futebol, saberia que o clube de REGATAS Flamengo, ao iniciar seu futebol em 1912, não disputou o torneio de acesso. Ao contrário, entrou direto na Liga Metropolitana “pela janela”, graças a uma carta do… Fluminense. Sim, isso está documentado, e faz parte do livro “Histórias do Flamengo” escrito pelo imortalizado Mario Filho. Seguem abaixo as páginas em que isso está posto.
105 anos depois eu me envergonho dessa decisão do Fluminense. Eu luto pelo cumprimento das regras. Mas há quem se esqueça disso quando convém. O que somente realça a desfaçatez do defensor do Flamengo, mas nos permite fazer a diagnose: a incubadora do prematuro surgimento do futebol do Flamengo na Liga Metropolitana foi a burla.
Mas eu entendo mais uma vez o fascínio pelas cartas. Uma outra igual a essa foi usada pelo Flamengo para, vangloriando-se de um WO na partida final do campeonato de 1987, arrogou-se campeão brasileiro daquele ano não com base nas regras, mas por uma – veja só – carta assinada pelos clubes dizendo que seria errado que os módulos disputassem a finalíssima do campeonato.
Óbvio que perderam a discussão, como literalmente entregaram o campeonato ao Sport Club do Recife. Sem contar que, pelas regras (mais uma vez elas!), WO em tese implica eliminação e consequente… rebaixamento. Pois é.
Nada obstante isso, e também em que pese o alarde de que “o resultado de campo é o que importa”, o Flamengo foi ao Supremo Tribunal Federal, ou seja, pelos seus termos tentou ganhar o campeonato “no tapetão”. E perdeu, como era de se esperar: nenhuma carta deveria se sobrepor à regra.
Fato é que, 102 anos depois daquela antiga decisão, o próprio defensor do Flamengo, que hoje alardeia o absurdo da tese do Fluminense, assim se manifestou: “AO LONGO DE DEZ ANOS DEFENDENDO O NOSSO FLAMENGO NOS TRIBUNAIS DESPORTIVOS, ACREDITO QUE ADQUIRI EXPERIÊNCIA PARA OPINAR SOBRE O ASSUNTO. NÃO PODEMOS NOS ESQUECER QUE SE NÃO FOSSE O DESCUIDO DA PORTUGUESA, ÉRAMOS NÓS NA SÉRIE B”. Segue abaixo também o print da matéria jornalística com esse excerto destacado.
Ironicamente, no mesmo ano o Flamengo se utilizou do mesmo expediente que hoje critica, porém no âmbito do campeonato estadual: buscou anulação da partida por erro de direito, precisamente sob alegação de interferência externa. Algo totalmente legítimo, porém incoerente quando confrontado com o discurso do seu defensor.
Na época o mesmo defensor do Flamengo afirmou: “Nós precisamos apurar se houve auxílio externo, interferência no trabalho da arbitragem. É importante que isso seja verificado”.
Diante disso, a conclusão a que chego é que não falta conhecimento de regra. A falta é de respeito mesmo. Mas francamente, talvez o Fluminense historicamente mereça: graças a uma centenária burla em seu parto, o futebol do Flamengo, mestiço da grandeza de seu pai Tricolor com a mãe Trapaça, hoje está aí, acostumado a jogar à sombra das normas.
Que o STJD lhes dê a mesma lição que o STF já deu: a justiça.”
Por Explosão Tricolor / Fonte: Facebook
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