Em entrevista, Marcelo Teixeira revela todo o funcionamento do futebol profissional e da divisão de base




O gerente de futebol do Fluminense, Marcelo Teixeira, concedeu uma entrevista ao jornalista Mauro Cezar, do portal ESPN Brasil. O dirigente tricolor comentou sobre vários assuntos importantes do futebol profissional e divisão de base do clube. Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Você é o responsável pela estruturação do departamento de futebol amador do Fluminense, que voltou a revelar bons jogadores, trazendo resultados técnicos e financeiros. Quando e como encontrou Xerém e o que foi feito desde então?
Marcelo Teixeira: Cheguei ao Fluminense em 2011 e logo após veio o Rodrigo Caetano, que era o diretor executivo e eu o gerente de futebol. Ele me direcionou desde aquele momento para olhar o trabalho da base. Tínhamos toda a estrutura de comando em Xerém, com o Klauss (Câmara), que está no Cruzeiro, o Fernando Simone, e eu trabalhava acima pensando em projetos para a base do Fluminense, que não existiam. Desenvolvemos o internacional, plano de carreira, aula de inglês para os atletas, captação do Fluminense, montando o departamento que não existia… Fiquei responsável pela parte de estruturação de projetos especiais, pessoal, estrutura, foi aí que começamos a transformar e colocar o trabalho de Xerém numa linha de evolução muito bacana.

De que maneira essa experiência poderá ajudá-lo agora que assume novas responsabilidades, no futebol profissional tricolor?
Marcelo Teixeira: Na verdade continuo sendo responsável pelas divisões de base do Fluminense e pelo projeto FluEuropa. A diferença é que hoje eu tenho mais responsabilidade porque faço parte de um comitê no qual se toma as decisões para o futebol do Fluminense. Claro que por ser o mais antigo, com seis anos de clube, é natural que tenha participação destacada, pois tenho experiência grande aqui e os demais chegaram agora, o presidente Pedro Abad, o vice de futebol Fernando Veiga, o Alexandre Torres, que é gerente de futebol responsável pelo dia a dia, e o Abel Braga (técnico). A diferença é que hoje tenho uma responsabilidade maior, mais próximo do profissional, frequentando treinas e alguns jogos, integrando um comitê que toma todas as decisões estratégicas relativas ao futebol do clube de maneira geral, profissional, base e Europa.

Como funciona a nova estrutura do departamento de futebol do Fluminense?
Marcelo Teixeira: O grande conceito da estrutura de futebol do Fluminense é que não existe mais a figura centralizadora, o poderoso chefão, aquele que personifica todas as decisões e a cara do futebol. Se tivéssemos que personificar seria no Abel, que não é um técnico, ele atua como um manager participa de todas as decisões estratégicas do futebol. E ele encabeça. É o cara que tem a liderança e toma as principais decisões. Claro que existe a política e a filosofia do clube, o que foi conversado na chegada dele. A estrutura é bem simples. Abel e Torres tocam o profissional, eu fico com Europa e base, o vice-presidente de futebol coordena todo esse nosso trabalho, e as decisões estratégicas ficam com o comitê.

Quais os atletas mais próximos de aproveitamento entre os profissionais que o torcedor ainda conhecerá melhor?
Marcelo Teixeira: É difícil citar nomes de jogadores que estão no Sub 20, mas existem os que estão chegando e começando a ser utilizados, como o Pedro, que já teve uma oportunidade contra o Criciúma e é uma atleta que no ano passado foi artilheiro da base no Brasil, teve um desempenho muito bom na equipe Sub 20. Tem o Marquinhos Calazans, que ainda não teve chance, mas deve estar jogando a qualquer momento, ele fez parte de nosso plano de carreira, jogou na Europa (Slovan Liberec da República Tcheca)e já tem um ano de experiência lá. O Ygor Nogueira, que fez um jogo ano passado e agora mais três ou quatro, mas é outro atleta que está recebendo oportunidades. Tem o Wesley Frazan, zagueiro que subimos dos juniores. São jogadores que estão no profissional e começam a ter chances.

Como Abel Braga tem lidado com essa situação, com esse momento do clube, mais voltado do que nunca, talvez, ao aproveitamento da base?
Marcelo Teixeira: Sempre temos que exaltar o nome do Abel. A escolha do nome dele foi muito pensada em cima da filosofia que queremos implementar. Trabalhei com ele no Fluminense em 2011, 2012 e 2013. E conheço bem o Abel, que foi um atleta formado na base do clube, tem uma identificação muito grande com o Fluminense e sempre exalta seu caráter moldado aqui. É super vencedor e ganhou tudo quanto que é título em todos os lugares, venceu no Fluminense, e na passagem que teve aqui sempre se preocupou com a base. Então na primeira conversa que tivemos vimos que as duas filosofias eram praticamente idênticas, e o que ele pensava para 2017 era praticamente o que tínhamos em mente no planejamento. Foi um ajuste de sintonia entre as partes e ali se traçou uma ideia de trabalho que ele vem conduzindo de forma magistral.

Quais as maiores dificuldades enfrentadas na captação de jovens jogadores?
Marcelo Teixeira: Antes e vir para o Fluminense trabalhei cinco anos como scout do Manchester United, cobrindo Brasil e América do Sul. Então já tinha um conhecimento bastante grande do processo de avaliação, identificação de talentos, captação. Aqui no Fluminense, a partir das ideias que aprendi no Manchester, montamos um departamento que hoje é bastante grande, totalmente integrado profissional e base. Desde o primeiro momento, de 2011 para 2012, fiz questão que fosse um processo único, como funcionava no Manchester United, e hoje é um departamento que funciona como um relógio, com 12 pessoas trabalhando, divididas entre profissional e base. Mas é claro que existem dificuldades porque ninguém é melhor do que ninguém e todos os outros clubes também possuem departamentos de captação e fazem trabalho forte nessa área. A concorrência é grande no Brasil, com 20 a 25 clubes grandes correndo atrás de atleta, os do exterior aqui captando, empresários… Essa é a dificuldade, a concorrência. Mas o Fluminense vem fazendo um trabalho forte e colhendo frutos. O Scarpa é um exemplo legal para ser citado, o Lucas Fernandes outro que podemos destacar, o Fabinho (Mônaco) chamado para a seleção brasileira também.

Fale sobre o projeto europeu do Fluminense, com o STK Fluminense Samorin da Eslováquia. O FluEuropa funciona como e quais frutos rende ou estar prestes a render?
Marcelo Teixeira: O FluEuropa é um projeto do Fluminense que visa complementar trabalho que fazemos na formação e desenvolvimento dos jogadores. Começamos no Futsal e nas escolas de futebol, que são os “Guerreirinhos”, que é o nosso jardim e infância e primário, depois os meninos vão para a academia do Fluminense em Xerém, que eu diria que é o nosso ginásio, nosso segundo grau e a nossa faculdade. E criamos agora a pós-graduação, que é um projeto na Europa no qual os meninos têm a oportunidade de vivenciar uma experiência diferente fora do campo, sempre buscando o lema do Fluminense, que é faça uma melhor pessoa e teremos um melhor jogador de futebol, e acabam vivendo também dentro do campo uma experiência ímpar para eles, já que vão jogar no futebol taticamente muito mais evoluído do que o brasileiro, a força física é muito maior, eles como jovens jogadores enfrentam outros mais velhos, experientes do que eles e rodados, então têm oportunidade de vivenciar um projeto no qual evolui como ser humano e atleta. E ainda conseguimos oferecer aos profissionais que trabalham na base do Fluminense um projeto no qual eles podem trabalhar no exterior como auxiliares técnicos, já que o treinador da equipe vai ser sempre europeu. Quatro profissionais do clube já estiveram na Europa e retornaram, mas é um projeto de médio e longo prazo, só começaremos a sentir o cheiro do que planejamos em alguns anos. O projeto é capitaneado pelo Marco Manso, ele é o diretor esportivo, radicado na Finlândia, onde foi o jogador brasileiro que obteve mais sucesso no país. Ele é meu grande parceiro nesse projeto, trabalha sob minha responsabilidade, mas é o cara que toca no dia a dia todas as atividades, já que ele conhece as dificuldades de viver e jogar num país europeu.

Quantos jogadores revelados em Xerém e sem espaço por aqui estão espalhados pelo mundo e em quais países?
Marcelo Teixeira: Hoje temos cerca de 20 jogadores formados na base do Fluminense que estão emprestados, no Brasil e na Europa, a concentração maior está no Samorin, claro, mas temos jogadores em Portugal, Estados Unidos e outros no Brasil. Nosso foco fora do país é muito direcionado ao Samorin.

Agora com um CT profissional, o que dizer da estrutura de Xerém? Satisfatória?
Marcelo Teixeira: Fluminense tem um CT da base que não é ótimo, mas é bom, muito bom em muitas coisas, temos campos muito bons, campo de grama sintética, alimentação excelente, excelentes profissionais, mas sempre há espaço para aprimorar, seja em aparelhagem, em tecnologia, em infraestrutura. Temos alguns projetos para que nos próximos anos possamos melhorar a estrutura de Xerém.

Quais as metas do Fluminense para o futebol, da base ao profissional, na administração do presidente Pedro Abad, que está no começo?
Marcelo Teixeira: O presidente atual chega com uma filosofia de mudar um pouco o futebol, começando por não ter mais aquela figura centralizadora. E uma das ideias dele é montaram projeto com a integração de tudo que fazemos na base com o futebol profissional. Então desenvolvemos vários projetos e a ideai é integrar todo esse trabalho com o time profissional. É claro que isso leva a um raciocínio lógico pelo maior aproveitamento dos atletas da base, mas eu diria que é um aproveitamento mais racional, pois hoje eles passam por um processo de amadurecimento fora, seja via plano de carreira ou em nosso time na Europa. Alguns saem da base para o profissional, mas muitos vão rodar em outros clubes. Assim que começamos a planejar o elenco desse ano com Abel e o Torres. Trouxemos de volta o Luiz Fernando, que estava no Samorin na Eslováquia e foi o principal destaque lá, já com 22 anos, atleta que conhecíamos bem da base; trouxemos de volta o Lucas Fernandes, que fez um ótimo campeonato brasileiro pelo Atlético Paranaense, mas já estava há quase dois anos sendo emprestado para maturar; trouxemos de volta o Léo Pelé, que foi um dos melhores laterais-esquerdo da Série B pelo Londrina; trouxemos de volta o zagueiro Reginaldo, que foi um destaque no Vila Nova. Isso tudo foi pensado para que não tenha que sair ao mercado e contratar jogador mediano e pagar valores altíssimos de comissão, luvas, salário. Você faz o jogador em casa, coloca no mercado, matura, deixa evoluir e traz de volta, pra dentro de casa. Então foram quatro jogadores que retornaram, que conhecemos da base do Fluminense e nos quais confiamos. Chegaram como reforços, pois foram destaques em outros clubes.

Por Explosão Tricolor / Fonte: ESPN / Foto: Fluminense FC

http://explosaotricolor.xtechcommerce.com/

Acesse a loja oficial do Explosão Tricolor: explosaotricolor.xtechcommerce.com

Siga-nos no Twitter e curta nossa página no Facebook

INSCREVA-SE no nosso canal do YouTube e acompanhe os nossos programas!

SEJA PARCEIRO DO EXPLOSÃO TRICOLOR! – Entre em contato através do e-mail:explosao.tricolor@gmail.com