Sob a regência do capitão Fred




Fonte: André Durão - globoesporte.com
Fonte: André Durão – globoesporte.com

Foi de arrepiar!

Eu não tenho palavras para descrever o que foi a apoteose de ontem, em um momento em que todos os tricolores receavam os desfalques (por venda ou contusão) no difícil jogo contra o atual bicampeão brasileiro.

Não é possível que exista tricolor no mundo que não tenha se preocupado ao ver que nosso lateral esquerdo seria Victor Oliveira, que o Gustavo Scarpa faria sua estreia no time titular ao lado de um Gérson ainda verde, e que as peças para mudar o jogo no banco de reservas seriam Higor e Lucas Gomes.

E o que vimos no jogo foi uma áurea, uma energia, uma entrega que há muito não se fazia presente.

Neste contexto, como não exaltar o nosso Fred! Que me perdoem os seus críticos (e sei que ainda subsistem uns poucos na torcida tricolor), mas somos privilegiados em ver este cara em campo.

O Fred não é apenas artilheiro. Ele é um capitão que não existe no futebol nacional, ou mesmo nos jogadores brasileiros que atuam no exterior.

Há poucos dias, a imprensa toda estava debatendo a ausência de um capitão eficiente na seleção brasileira, não havendo ninguém com este perfil no grupo convocado pelo Dunga.

E é por isso que a torcida tricolor é diferenciada. Enquanto grande parte do país, manipulado por uma imprensa que não tem nenhum compromisso com o futebol brasileiro, crucificava nosso centroavante, a torcida tricolor o abraçou em sua volta da Copa do Mundo, e está colhendo todos os frutos em uma das temporadas mais difíceis de sua longa história centenária.

Chega a ser cômico ver o Brasil inteiro em busca de um centroavante, atuando com jogadores que não fazem jus à tradição da camisa canarinho e procurando um líder capaz de comandar a renovação da seleção, enquanto temos isso tudo no Fluminense.

Não sou daqueles que torcem contra a seleção. Longe disso. Mas a culpa disso tudo é dos próprios brasileiros, que em geral não conseguem pensar por si mesmos, encampando sem nenhuma contestação tudo o que lhes é enfiado goela abaixo por uma imprensa pouco comprometida com o sucesso do nosso futebol.

Impossível não questionarmos se o tratamento dado ao Fred seria o mesmo se ele jogasse no “mais querido”. Vide o caso Zico.

Amigos, o Zico não chegou perto do que o Fred conquistou com a camisa brasileira. Aliás, o Zico nunca foi campeão de absolutamente nada com a seleção. O Zico perdeu o pênalti que nos eliminou da Copa do Mundo de 1986. E vocês veem alguém da imprensa questionando sua capacidade? Pelo contrário, ainda assistimos uma tentativa doentia de transformar o Zico em ídolo nacional, como se figurar como o maior ídolo do Flamengo já não fosse suficiente para a carreira do cara.

Alguém de nós tenta transformar o Fred em ídolo nacional? Não! Porque para nós, o Fluminense basta! Não precisamos da bajulação da imprensa. Não precisamos ficar superestimando nosso clube, pois temos consciência de seu gigantismo.

Aqui não tem essa de “deixou chegar, já era” “a torcida que mais pressiona” “maior torcida do mundo” ou outras empáfias que ouvimos dia após dia. Aqui já somos diferentes, simplesmente por sermos Fluminense. E assim também é com o Fred.

Fred é ídolo do Fluminense. Ponto. Isso nos basta, e não pretendemos dividir com mais ninguém.

Ontem ele foi, mais uma vez, o capitão perfeito de uma equipe ainda em formação, e que tem nele o maior espelho de um profissional de sucesso.

O que nosso capitão correu em campo não foi brincadeira. Se aquele lindo voleio tivesse entrado, seria a coroação de uma partida perfeita como centroavante, capitão e maior símbolo do Fluminense nos últimos 30 anos.

Um lance emblemático ocorreu no início do segundo tempo. Gérson pegou uma bola na esquerda da grande área, e isolou.

Nosso capitão não esperou nem a bola tomar sua trajetória descendente. Já foi direto até as arquibancadas, tentar abafar qualquer manifestação contrária ao garoto. Ele sentiu o momento, e sabia que aquela energia não poderia ser quebrada.

E depois disso, no final do jogo, foi aquela coisa linda que vimos.

Uma figura que entende a sua importância, mas que sabe do momento ímpar que está vivendo. De se tornar um dos maiores ídolos do gigante mais tradicional do Brasil.

Aqueles olhos marejados também eram de cada tricolor. Aquelas palavras estavam entaladas na garganta de cada um de nós.

E só temos a agradecer por estarmos presenciando este momento.

Quero falar também do menino Scarpa. Olha, há muito tempo não me empolgo tanto com um jogador vindo de Xerém, como me empolguei com este garoto ontem.

Scarpa parecia um veterano. Correu o campo todo, foi bastante participativo, e demonstrou uma boa qualidade técnica.

Não sei se chegará a se tornar um craque algum dia, mas parece ser muito bom jogador.

O garoto chegou, e tomou conta da antes ineficiente bola parada tricolor. E olha que os responsáveis pelas nossas cobranças eram jogadores experientes como Jean e Wagner.

Antes mesmo do gol, comentei no twitter que, enfim, nossas bolas paradas voltavam a levar perigo ao gol adversário.

Sem fazer muito esforço, me lembro rapidamente da cabeçada na trave no início do primeiro tempo, e de um escanteio em que acabou sendo assinalado impedimento do Fred no segundo tempo. De qualquer forma, as cobranças voltaram a gerar apreensão na defesa adversária.

Não vou nem mencionar o gol, pois é muito óbvio. Mas fato é que Scarpa foi uma gratíssima surpresa num momento em que se colocava em xeque a capacidade de nosso elenco de brigar em um campeonato longo e disputado como o Brasileiro.

E nessa linha, é preciso abrir um parêntese para falar de Xerém. Marlon, Gérson, Kenedy, Marcos Junior e Scarpa, para ficar apenas nos que já tiveram maior relevância em alguma atuação pelos profissionais.

Em seis meses, são cinco jogadores vindos das categorias de base, e que atuam/atuaram com eficiência. O trabalho que está sendo feito em Xerém deve ser exaltado.

O Kenedy foi vendido, mas os outros quatro ainda estão no elenco, e ainda temos alguma expectativa sobre Robert e Higor.

Precisamos destacar também o trabalho do Enderson até aqui. A transformação é evidente. O time mostra uma vontade incrível de ganhar os jogos. A defesa está arrumada, e o time está evoluindo mesmo com venda de jogadores e desfalques por contusão.

E, por fim, queria destacar a torcida tricolor. Os 15 mil de sempre passaram uma energia, uma vibração, uma comunhão com o time, uma sensibilidade pelo momento, que desafio encontrarem em qualquer outra torcida do país.

Principalmente naquela que dizem apoiar o tempo todo, mas que quando chega no Fla-Flu, é aquele silêncio…

Agora está na hora de aumentarmos estes 15 mil. Mas sem perder a qualidade da torcida. Logo, os que forem nos próximos jogos, precisam ter em mente que a sinergia precisa continuar.

Eu também continuo tendo algumas críticas, mas hoje não é dia para isso.

Hoje é dia de exaltar o time de guerreiros. Hoje é dia de exaltar o clube mais tradicional do Brasil.

Vamos exaltar o Fluminense, que não se cansa de ensinar para esta imprensa clubista, como se contam histórias no país. E nós somos a história.

Ano após ano, tentam acabar com o Fluminense.

E no fundo eles sabem, que nunca alguém conseguirá tirar a tentativa desta frase.

Abs,

Alan Petersen