Saída do Fluminense, Fernando Diniz, momento do Atlético Nacional-COL e muito mais; confira a entrevista completa com Paulo Autuori






Entrevista completa com Paulo Autuori

Em entrevista concedida ao jornalista Felipe Siqueira, do portal GloboEsporte.com, o técnico Paulo Autuori, do Atlético Nacional-COL, falou sobre a sua saída do Fluminense, como enxerga o momento do time de guerreiros, crise na equipe colombiana e muito mais. Confira abaixo:

O Atlético Nacional estreia na Sul-Americana (após sair na fase pré-grupos da Libertadores) logo contra o Fluminense. Faltou sorte no chaveamento? Qual projeção para a partida?

Sorteio é sorteio. Temos que estar preparados para tudo. O Fluminense vem de grandes resultados, está moralizado. Vamos tentar fazer um jogo que gostamos de fazer. Jogamos no domingo, viagem grande, mas vamos tentar estar bem organizado dentro do campo e poder fazer um bom jogo.

Poderia explicar o que ocorreu nesses últimos dias? No domingo você chegou a colocar o cargo à disposição da diretoria após uma derrota no Campeonato Colombiano. Mas na terça-feira foi informado que você ficaria no comando.

É uma coisa muito simples. Eu aceitei a ida para o Atlético Nacional justamente por um trabalho que eu gosto de fazer, que é integrar o futebol do primeiro time com as categorias de base. Fizemos isso. Três jogadores bem novos já estão completamente solidificados na equipe e esse foi o principal objetivo da direção. Fico contente porque vejo o clube com ideias muito claras e sabendo aquilo que quer.

É difícil. É um clube que estava acostumado a contratar sempre os melhores jogadores e ter um grupo equilibrado de jogadores na idade entre 23 e 28 anos, que é a idade madura do futebolista. E hoje já não faz isso porque tem que se reequilibrar em termos financeiro-econômicos e apostou na suas formações de base, porque tem muita qualidade. E eu acredito muito nisso.

Saímos um pouco desse caminho. A equipe começou muito bem, jogando um futebol que me agradava muito, saindo jogando desde trás. Mas oscilou muito, principalmente em termos mentais. Acho que temos que melhorar bastante nesse sentido.

Há quase um ano, você saiu do Fluminense porque algumas coisas não foram feitas da maneira que havia sido combinadas. Como vê o clube um ano depois? Vê mudanças no Fluminense de hoje?

A pergunta que você me faz eu tenho que te fazer outra pergunta. É em termos financeiros-econômicos? Dificuldades? Isso acho que não alterou, pelo que leio. Desportivamente houve mudanças, ideias. Está sendo construído, mesmo com toda dificuldade financeira, um grupo de qualidade.

Mas só tenho palavras de carinho com todos os funcionários. O ambiente era muito bom. Mas eu sempre critiquei essa dificuldade de cumprir os compromissos. E naquela função eu tinha um acordo com o presidente de que se continuasse isso, não seria possível. Porque eu não iria, a cada mês, contar história para os jogadores. Não faço como treinador, não faria como diretor de a cada dia arrumar uma justificativa. Isso que nos fez não dar continuidade. Mas gosto muito de muitas pessoas. Há excelentes profissionais na comissão técnica, de altíssimo nível, o ambiente no clube é muito bom. Uma torcida fantástica, acostumada a grandes momentos e a títulos. Desejo o melhor.

As instituições em um país como o nosso, onde a economia oscila muito, têm dificuldades de se manter estáveis. As pessoas se esquecem disso, mas é uma realidade que toca a todos. A não ser aqueles que têm a sorte de ter alguém ou uma empresa que possa suportar, como é o caso da Crefisa no Palmeiras.

Como avalia o trabalho de Fernando Diniz e o time atual do Fluminense?

O Diniz é um velho conhecido. Desde a época de jogador eu me dou bastante bem com ele. Tem ideias muito interessantes. A grande dificuldade para as pessoas que pensam dessa maneira é o contexto do futebol brasileiro. Para implantar isso precisa trabalho. E nenhum treinador brasileiro costuma ter condições de trabalhar por mais tempo. Então sofre por vezes.

Precisa também de um plantel muito equilibrado, porque a exigência do jogo é grande. Sofre ele e qualquer outro que queira fazer isso, como sofrem todos os treinadores do Brasil.Enquanto treinadores e corpo técnico não tiverem o tempo minimamente necessário para recuperar os jogadores de um jogo para outro e para treinar, não é possível. A cada três jogos você precisa de uma semana. Se não for bem em algumas semanas já é mandado embora. O que você fez? Que trabalho deu para fazer? Nenhum. Não dá para sustentar as coisas só no papo.

Em entrevista no ano passado você disse que não pretendia mais trabalhar no Brasil como técnico, mas fora do país, sim. Você tem visto diferenças do futebol estrangeiro para o brasileiro?

Isso é uma coisa que está me incomodando na Colômbia, porque, proporcionalmente, é a mesma coisa que se passa no futebol brasileiro. São muitos jogos. Não tem tempo para treinar. Não treinamos a equipe que joga há muito tempo também. Essa crítica eu tenho que estender ao continente sul-americano, à Conmebol… Não há definição de datas com antecedência, você não consegue se programar. Você tenta fazer o itinerário de viagem e tem problemas porque não houve tempo suficiente para marcar com a antecedência que se necessita. Você acaba tendo que fazer um voo que não é aquele que você gostaria de fazer. Nós viemos, por exemplo, em dois voos. Porque foi tudo em cima da hora, a data dos jogos, tudo. Enquanto não tiver um olhar mais profundo para o calendário, é complicado.

E voltaria a trabalhar como técnico no Brasil?

Não posso dizer que não voltarei… Já recebi convites. Mas acho difícil, até pelo tempo de carreira que tenho. Mas não posso dizer não. Nunca sei o dia de amanhã.

Como está sendo trabalhar com Barcos e Hernández, dois conhecidos da torcida brasileira? Qual importância deles em um elenco tão jovem?

O Barcos está nos ajudando fazendo gols e ajuda também nesse trabalho fora do campo. Está sendo muito bom trabalhar com ele. E com o Hernandez também. A experiência que ele teve aqui no Brasil… Está em um momento bom, fazendo gols… Tem um 1 para 1 forte. São dois jogadores interessantes, que nos ajudam. Da mesma maneira quando tive a oportunidade de levar o Lucho González para o Athletico-PR. É um exemplo dentro e fora de campo. Nos treinos é o primeiro a se dedicar. E fora de campo está sempre orientando os mais novos.

Eu não tenho problema nenhum de trabalhar com qualquer grupo ou qualquer tipo de jogador. Meu olhar para eles é sempre o mesmo. Primeiro, o lado pessoal. A verdade é que hoje há muito mais atores do que profissionais. As pessoas passam uma imagem daquilo que não são. Porque interessa para se ganhar visibilidade. A sociedade e o futebol estão criando um montão de fracassados. Sabe por quê? Porque só um pode ganhar. Os demais, que não ganham, são todos fracassados. É a mesma coisa que você dizer em uma sala de aula que só um aluno é o mais inteligente, que o resto é tudo burro. Esse é um tema que transcende ao futebol. Gosto de pensar o futebol com uma visão sistêmica, porque futebol, para mim, é vida. Tudo que passa no mundo do futebol, passa na vida. Uma maneira diferente, com muito mais evidência, a cada três dias você está sendo julgado…

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Por Explosão Tricolor / Fonte: GloboEsporte.com

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