Em live, Mário Bittencourt fala sobre a manutenção do quadro de funcionários, redução salarial dos jogadores e retorno dos treinos; leia a íntegra






Mandatário tricolor participou de uma live no Instagram

Na última segunda-feira (11), o presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, participou de uma live no Instagram, através do perfil “Papo Trabalhista”. Durante o bate-papo com o juiz do trabalho Marcos Dias, o mandatário tricolor falou sobre a manutenção do quadro de funcionários do clube, redução salarial dos jogadores, retorno dos treinos e muito mais. Leia a íntegra abaixo:

Manutenção do quadro de funcionários

“Nenhuma. Nós tivemos um movimento muito bacana logo assim que paralisou o clube: os nossos gerentes e diretores mandaram uma carta para mim propondo uma redução dos próprios salários em função das pessoas menos favorecidas. Acredito que isso tenha ocorrido em razão da maneira que viemos trabalhando desde que assumiu em junho do ano passado.
Quando a gente assumiu tinha quase três meses de salário atrasado e o 13º de 2018. Em nove meses de gestão, a gente conseguiu quitar 12 meses. Sendo muito honesto e transparente, é óbvio que ainda exite buraco, mas em respeito ao trabalho que vem sendo feito o primeiro ato deles foi esse. Com essas pessoas se fez acordos individuais, baseado no artigo 444 (CLT), e em razão disso se teve um alívio na folha.
Pessoas de maior salário fizeram o redutor, e se conseguiu ir mantendo os empregos das pessoas que possuem maior dificuldade. E dando outras ajudas no mês que passou, e devemos repetir, aos funcionários que ganham até R$ 4 mil a gente ofertou cestas básicas. Foram 443 cestas com duração de um mês, bem sortidas, e teve ótima repercussão. Até o momento não tivemos nenhuma demissão após a paralisação.”

Retorno dos treinos

“Não vou comparar o Brasil com a Alemanha, com todo respeito. Quando falo com as pessoas sobre isso, digo: “Então vamos usar o critério alemão para tudo. Dividir as cotas como na Alemanha, a tabela, o mesmo calendário… Aí pode se comparar”. Usar só a parte boa, que a Alemanha vai voltar, sendo que lá o controle e isolamento social foi maior. Em um país de dimensão continental como o Brasil, vai ter uma situação em cada lugar. Grêmio e Inter voltaram a treinar. Parece que só morreram 17 em Porto Alegre, e o governo de lá disse que os CTs estão na faixa laranja, onde é permitido o trabalho com algumas restrições.
No Fluminense fizemos várias reuniões, minha com a comissão técnica, mas que engloba todo mundo: médico, psicólogo… E a posição que recebi deles foi a seguinte: se os atletas treinarem no CT de forma individual, sem bola, sem coletivo, vão ter ganho de 7% a 10% a mais do que teriam treinando em casa. Diante disso, acho que, sinceramente, no pico da pandemia, com o número de mortes elevados todos os dias, para mim é um contra senso ouvir da parte técnica esse ganho e tirar as pessoas de casa, para fazerem esse percurso de ir e voltar e possam carregar o vírus para lá e para cá.
Engraçado que o preparador físico do Grêmio deu entrevista que voltaria, mas o ganho dos treinos seria 5% a mais do que se estivesse em casa. Ou seja, até menos do que a gente avaliou. Entendo o posicionamento do Grêmio, eles têm a teoria de que saindo de casa os atletas arejam a cabeça, o acompanhamento psicológico é melhor… Mas acho que são visões distintas, não adversárias. A equipe do Fluminense, com a minha concordância, optou por enquanto em seguir o treinando de casa.
E entra na esfera trabalhista também. Com a decisão do STF recente, com relação à doença ocupacional, a partir do momento que se testa 40 jogadores e eles não estão infectados, você atrai o ônus para o empregador, pelo menos na minha visão. Se o funcionário entra, não tem nada e contrai o vírus depois que retornou… Não posso negar que muitos atletas, não só do Fluminense, gostariam de voltar a treinar presencialmente. Tenho dito que vai chegar esse momento, mas quando a gente entender que não está se colocando a vida dos outros em risco. O argumento de que atleta não é grupo de risco não me convence como ser humano. Todos têm avôs, esposas, filhos em casa.
Se tivéssemos a possibilidade de ficar toda a comunidade do futebol confinada em três, quatro hotéis, e jogar, diminuiria muito o risco do contágio. Mas como as realidades são diferentes… Ouço pessoas falando assim: “Estamos no mesmo barco”. Não! Estamos na mesma tempestade, mas os barcos são diferentes. Tem gente de navio, lancha, iate e canoa sem remo. Existem clubes de menor expressão que não têm CT, têm mais dificuldades. No nosso próprio CT, a parte de campo e vestiário está terminada, mas não temos dormitório, por exemplo.
Não sou inocente e infantil a ponto de achar que quando tudo retornar não vamos conviver com o vírus. Óbvio que vai, certamente continuaremos de máscara, pelo que tenho ouvido de médicos experientes. Que isso siga até setembro, outubro, novembro… A discussão é matemática. Quando a gente olhar e tiverem 30 mortes por mês, e estiverem sobrando mil leitos, aí sim voltam as atividades para manter a economia funcionando. Vamos atender a todos os protocolos, invariavelmente uma ou outra pessoa vai se contaminar, mas tendo a possibilidade de todos serem atendidos.
Suponhamos que voltem os jogos no pico pandêmico, um atleta se choca com outro no ar, bata a cabeça e precisa de uma UTI porque teve uma lesão mais grave, uma fratura… Corremos o risco de não ter UTI para atender, como não somos serviço essencial. Em que pese que o povo inteiro ama. Futebol sempre fez parte da minha vida e hoje, como presidente, faz da minha vida e do meu trabalho. Não estamos nem 60 dias em casa. Diante de tantos anos que a gente passa pelo mundo, tem tanta vida pela frente, por que não pode esperar só mais um pouquinho e voltar com mais segurança e preservando as pessoas?”

Férias coletivas

“Das férias coletivas, acabou se fazendo um acordo de todos os clubes. A nossa ideia principal era que dando ferias coletivas a gente ganhava um mês de calendário. Ficou meio que combinado que, voltando o campeonato, a gente vai explodir dezembro e quem sabe até adentrar janeiro para não perder as 38 datas do Brasileiro. Diria que foi um acordo geral. Entretanto, por divergências de opiniões, a maioria dos sindicatos não reconhece a Fenapaf (Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol) como sua representante, ficou decidido entre os clubes de cada um tentar seus acordos com os elencos.”

Redução salarial dos jogadores

“Não vou citar nomes de clubes, mas alguns fizeram imposição de maneira unilateral, o que eu discordo. A maioria, pelo que se leu, foi que impôs a condição, e isso pode virar uma enxurrada de ações trabalhistas. E no futuro alguém vai pagar essa conta. Eu optei por outro caminho, tenho uma relação muito boa com os jogadores, de transparência. Por quê? Porque fui muitos anos advogado do clube e os defendia no STJD. Eles sempre tiveram uma boa relação comigo, e depois quando fui vice de futebol por dois anos. Óbvio que não são os mesmos jogadores, mas há aquela historia do “boca a boca”, um fala para o outro, então eles sempre deixam claro que sou de relação transparente.
Tudo que a gente tem que conversar eu mostro os números: porque não pagou isso ou aquilo, o fluxo de caixa do clube… Mostro que a gente pegou um clube com faturamento médio por ano de R$ 200 milhões, com um custo médio de R$ 180, R$ 190 milhões. Mas uma dívida de R$ 700 milhões, dos quais R$ 200 e poucos milhões são a curto prazo. Então só o que a gente tem de penhora come mais do que o lucro que teria. Por isso temos uma folha salarial bem abaixo dos maiores clubes do Brasil hoje, diria que talvez sejamos a 12ª ou 13ª folha do futebol brasileiro nesse momento.
E fomos construindo essa relação. Mostro que é muito difícil, mas me empenho bastante para tentar resolver minimamente os problemas da instituição. Eles criaram uma comissão, um grupo de cinco atletas, e nós em um grupo de “WhatsApp” fomos negociando. Não diria que foi dura, mas ela foi longa. Por quê? Porque, em que pese eles acreditarem bastante naquilo que venho fazendo na minha gestão, todos são ressabiados com coisas que passaram em outros momentos na vida profissional. Foram se falando entre eles, criaram um fórum, os que me conheciam a mais tempo foram passando aos outros. E para preservar os empregos dos mais humildes, que têm um carinho enorme deles. Até ao longo do ano, antes da pandemia, ajudam com cestas básicas. Eles entenderam.
Nosso diretor, Paulo Angioni, tem 40 anos de futebol, trabalhou nos maiores clubes, e tem um pensamento muito alinhado com meu. Nosso dia a dia lá é assim: primeiro se trata o homem, depois o atleta. Então foi um elo importantíssimo. O Odair ajudou muito, é um cara de grande caráter, uma história de vida muito bonita. Foi um dos que colocou seu salário à disposição logo de cara. E os jogadores foram ótimos, humanos, entenderam bastante.
A gente construiu um acordo excelente: no mês de março eles renunciaram 15%; vamos pagar 65%, com os 20% para completar 85% para pagar até final do ano. As férias de abril serão pagas 50% agora em maio e 50% e mais o terço constitucional em dezembro. E em maio eles renunciaram a 25% integralmente. Ainda colocamos uma cláusula, chegando em junho e não retornando o futebol, a gente senta para conversar novamente. Ou para redução, ou suspensão (do contrato) com prorrogação pelo tempo que ficou suspenso…
Coloquei uma cláusula para protegê-los também, achei que eles tinham esse direito. Propus que tudo que tivesse atrasado a gente ir quitando parceladamente até dezembro. Se não quitar, lá na frente a gente devolve o que eles abriram mão. Eles gostaram muito dessa cláusula. Negociaram também com o Alfredo Sampaio, presidente do sindicato dos atletas. Foi uma negociação de alto nível, já homologamos (o acordo), registramos no ministério da economia e estamos totalmente cobertos pela legislação. Já estamos em tratativas de discutir possibilidades do retorno, costurar também um acordo que proteja a saúde deles e a instituição.
Todos os atletas assinaram e houve uma assembleia por videoconferência do presidente do sindicato com eles. 99% dos atletas concordaram. Teve um que não concordou, mas porque tinha algumas dúvidas. Quando foram sanadas, percebeu todos os trâmites da gestão coletiva. Durante 18 anos fiquei na ponta onde estouram os problemas, vendo o clube ser condenado em centenas de verbas justamente por não ter paciência para negociar. Acho que fiz o correto, protegi a instituição e ao mesmo tempo os atletas.
Tenho recebido ligações e mensagens deles agradecendo por não voltar aos treinos presencialmente, que se sentem seguros. A hora que disser “agora está na hora”, as autoridades de saúde autorizaram, a pandemia está baixando, tenho certeza que vão retornar tranquilamente porque sabem que tem uma diretoria e comissão técnica maravilhosas, setor jurídico, financeiro… Fui agraciado com uma equipe espetacular. Temos sido estremamento habilidosos nesse momento e espero que a gente consiga continuar tendo essa habilidade.”

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Por Explosão Tricolor

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