O conto do ponta Curupira




Caio Paulista (Foto: Lucas Merçon / Fluminense F.C.)



O Torcedor que me acompanha na pelada do comentário futebolístico conhece minhas implicâncias, pinimbas e militância fervorosa contra os problemas do futebol brasileiro. Da Lei Pelé ao jornalismo praticado por parte da grande mídia, dos modismos de vocabulário ao fenômeno do jogo, eu sou um crítico e um sátiro. Um crítico chato, repetitivo, insistente. Ultimamente, por fadiga mental, amigos, tenho atenuado o discurso. Hoje, notadamente em virtude do confronto contra o Fortaleza, pretendo retomar alguns raciocínios.

O primeiro suspiro de indignação nasce do aspecto tático e estratégico. Roger Machado incorre no mesmo equívoco de Odair Hellmann. Ele joga com os pontas Curupiras e, tal como a personagem do folclore nacional, nossos pontas jogam com a perna invertida. Diferente do folclore, os pontas do Flu são facilmente abatidos pelo sistema de defesa adversário. O Tricolor atua sem jogadas de fundo. Nossos pontas convergem muito para meio e, quando alcançam o fundo, apresentam notória dificuldade na realização da jogada. O jogo de fundo é um axioma, uma verdade elementar do futebol.

Em alguns momentos do primeiro tempo, senti que o menino André recebeu a missão de jogar mais plantado a frente da dupla de zaga. A ‘’cincada’’ do rapaz produziu lampejos de jogo, pois ‘’forçava’’ a subida dos laterais. Egídio e Calegari ensaiaram algumas subidas, mas, sem aproximação, sem tabela, um-dois e triangulações pelos flancos, o Time de Guerreiros era presa fácil na jaula defensiva do Leão. Na primeira etapa, tal como no jogo contra o Santos, fizemos poucas jogadas de fundo. Contra o Alvinegro Praiano, o Amado Clube de Laranjeiras fez duas jogadas – uma ficou na trave e da outra saiu o gol.

A jogada de fundo, amigo leitor, faz parte do ‘’beabá’ do futebol. Ela empurra o bloco de defesa do adversário para trás, permite o avanço e o domínio do campo do adversário – é o princípio básico da pressão. E não me venham com dualismos e falsas dicotomias, com estatísticas de posse de bola ou o tolo debate entre ‘’ferrolho x jogo ofensivo’’. Não. São falsos dilemas. Peguem o jogo contra o São Paulo. O Pó de Arroz foi superior e, ao mesmo tempo, o adversário ficou com a bola. O São Paulo dormiu com a bola; o Flu, por outro lado, foi objetivo e efetivo com a pelota nos pés.

Contra a maioria da mídia tradicional, contra os novos ‘’entendidos’’ egressos do futebol de vídeo game, eu gostaria de dizer uma verdade: -a posse de bola é mais irreal que o folclore. O verdadeiro curupira é a estatística de posse de bola. Em si mesmo, estimado leitor, os números são mudos. Não importa a posse de bola ou a proposta de jogo -se mais ofensiva ou defensiva-; o que importa é ter uma equipe entrosada, um time que sabe o que vai fazer com a redonda, que é eficiente em sua forma de jogar. E o Fluzão? Foi o avesso do avesso de um time de futebol bem treinado, uma equipe desorganizada e previsível.

No segundo tempo, especificamente nos primeiros minutos, o Fluminense buscou um pouco mais o fundo com seus laterais e parecia ensaiar uma mudança de postura. O escanteio que gerou o gol Tricolor, nasceu em uma subida do lateral direito que, por sua vez, teve o cruzamento interceptado. Fizemos o gol usando uma das nossas poucas virtudes: a bola parada! No segundo tempo, logo após o gol do artilheiro do imaginário, o jogo retomou a tônica do primeiro tempo. Mais organizado e disposto, o então líder do campeonato mostrou os motivos de sua liderança. No conjunto do jogo, o Fortaleza foi inegavelmente superior ao Tricolor de Laranjeiras.

Aproveitando a desorganização do Nense, o Leão soube explorar os espaços cedidos na intermediária pelo nosso débil sistema de jogo. A equipe da capital cearense usava bem os lançamentos, notadamente as bolas enfiadas em diagonal e, em uma dessas enfiadas, o adversário alcançou o fundo, centrou a bola e empatou – o Flu foi facilmente envolvido. O Fortaleza soube aproveitar os espaços que o Tricolor oferecia. Notadamente quando a equipe avançava, perdia a bola e fracassava na retomada defensiva. Quando estava sem a bola, o Flu oferecia o espaço recuando exageradamente e, para tal, fazia voltar os curupiras – o menino Teixeira, com todo o seu talento, foi transformado em mero secretário de lateral.

O Time de Guerreiros luta, briga, batalha, mas, desorganizado, mal treinado e orientado, nossos esforços são inúteis. Além da bola parada e de algumas bolas roubadas no campo adversário, o Eterno Campeão é previsível, monótono e demonstra uma grande dificuldade na armação de jogadas. Repito: não há aproximação, toque de bola rápido em direção ao gol e, claramente, somos uma equipe que não sabe o que fazer com a bola. Recuamos para não contra-atacar; quando avançamos somos previsíveis e, no geral, somos facilmente neutralizados pelo adversário. Com quantos treinos se faz uma equipe azeitada?

Sintoma: quantas bolas o Fred recebeu em condições de concluir nos últimos dois jogos? Já estamos no meio da temporada e, até agora, a equipe não apresentou o mínimo conjunto, o mais elementar entrosamento. Só nos resta torcer e admitir: o Fortaleza foi superior, mereceu vencer e Roger Machado sofreu um vexatório nó tático. Sim, amigos! Um nó tático! Para nossa sorte, a equipe cearense pecou muito no último passe e na conclusão das jogadas. Tendo em vista as circunstâncias do jogo, o empate não foi tão ruim para o Flu. Repito: sofremos um nó tático vexatório!

Uma última reflexão: depois de levar um nó tático, que sabor o treinador Roger Machado vai atribuir ao embate contra Fortaleza?

Teixeira Mendes



Agenda tricolor

6ª rodada

23/06 – Quarta-feira – 19h – Atlético-GO x Fluminense – Antônio Accioly

7ª rodada

27/06 – Domingo – 16h – Fluminense x Corinthians – São Januário

8ª rodada

30/06 – Quarta-feira – 20h30 – Fluminense x Athletico-PR – Local indefinido

9ª rodada

04/07 – Domingo – 16h – Flamengo x Fluminense – Local indefinido

10ª rodada

07/07 – Quarta-feira – 21h30 – Fluminense x Ceará – Local indefinido



Quinta rodada do Brasileirão 2021

Sábado (19/06)

21h

Flamengo 2×3 RB Bragantino – Maracanã

Domingo (20/06)

11h

Palmeiras 2×1 América-MG – Allianz Parque

16h

Internacional 1×1 Ceará – Beira-Rio

Bahia 0x0 Corinthians – Pituaçu

18h15

Fortaleza 1×1 Fluminense – Castelão

Athletico-PR 2×1 Atlético-GO

20h30

Juventude 1×0 Sport – Alfredo Jaconi

Segunda-Feira (21/06)

20h

Atlético-MG x Chapecoense – Mineirão

Cuiabá x Grêmio – Presidente Dutra



Classificados às oitavas de final da Copa do Brasil

Fluminense (Série A)

Athletico-PR (Série A)

Atlético-MG (Série A)

Atlético-GO (Série A)

Bahia (Série A)

Flamengo (Série A)

Fortaleza (Série A)

Grêmio (Série A)

São Paulo (Série A)

Santos (Série A)

CRB (Série B)

Vasco da Gama (Série B)

Vitória (Série B)

Criciúma (Série C)

ABC (Série D)

Juazeirense (Série D)