ENTREVISTA – Henrique tenta vingar no Fluminense




Henrique tenta vingar no Fluminense (Foto: Richard Souza/GloboEsporte.com)
Henrique tenta vingar no Fluminense (Foto: Richard Souza/GloboEsporte.com)

Fred Huber e Richard Souza, ambos do portal GloboEsporte.com, fizeram uma excelente entrevista com o zagueiro Henrique. O jogador do Fluminense comentou sobre vários assuntos. Confira abaixo:

Foram praticamente dez anos na França. Quantos Cariocas você jogou?

Joguei mesmo só um. Em 2004 (pelo Flamengo).

E depois de tanto tempo como é reencontrar o cenário do futebol do Rio?

É bom, né? Tem o confronto com as equipes pequenas, que são sempre difíceis, pessoal se prepara melhor fisicamente, com mais tempo de treinamento. Os jogos contra os grandes são os jogos da vida desses jogadores. Tem a rivalidade também. Ainda não enfrentei um clássico no Carioca, mas o campeonato é muito atrativo. Não é o de melhor nível, já que o pessoal fala muito do de São Paulo, mas é um campeonato bonito de se ver.

É tudo muito diferente do que você viveu por lá? Campos ruins, estádios acanhados. É um choque de realidade?

Ah, muita coisa (risos). Quando eu vi a foto do campo de Volta Redonda eu me assustei. Nossa! É verdade que vai ter jogo profissional nesse campo? Mas depois a gente estava lá, vimos que não estava tão ruim como na foto. Quando optei por vir para cá, sabia que teria dificuldades, ainda mais pelo Carioca, campos ruins, estádios ruins também, mas a gente vai levando. É chocante, mas eu evito fazer comparação. Quando um jogador sai do Brasil e vai para a Europa, não vai viver lá o que vive aqui. Quando decidi voltar, já tinha isso em mente, bem resolvido. Sabia da dificuldade de jogar quarta e domingo, das longas viagens.

E os problemas que não ficam no campo? Existem as polêmicas, discussão sobre o lado que a torcida vai ficar, briga com a Federação. Como é lidar com isso também?

É difícil, né? Como jogador, e por ter passado muito tempo fora, tinha esquecido um pouco como era essa politicagem, achei estranho. O futebol é tão bonito. Nesse caso do jogo contra o Vasco, dessa briga, poderíamos jogar o clássico no Maracanã. O Maracanã hoje é muito bonito, um dos mais bonitos do mundo. E não ter esse clássico no Maracanã acaba punindo todo mundo. Os torcedores vão perder um bom espetáculo num ótimo estádio (o jogo será no Engenhão).

E que avaliação você faz da sua volta até aqui?

Difícil. Quando voltei, tinha na minha cabeça que seria tudo diferente. Começou até bem, tive um entrosamento legal com o Gum, com a equipe toda, e na hora que pensei que a gente ia deslanchar, ia brigar na liderança, tive um problema que não pude jogar contra o Coritiba, e nesse jogo, por lesão, o Gum se machucou e teve um problema sério. Quando voltei, não voltei legal. Estava jogando praticamente no sacrifício, com problema no joelho. Depois do joelho, passou para o outro, depois problema nas costas. Mesmo assim tentando jogar, mas não 100%. Chegou a hora que não aguentei mais e tive que fazer a operação. Fiquei triste, pois quando cheguei eu vi a possibilidade de o time ser campeão. Vi que problemas de lesão, como a do Gum, que é nosso líder com o Fred, prejudicaram nosso campeonato. O clube sofreu, não vieram alguns resultados contra pequenos. Acabamos ficando fora da Libertadores. Eu sei que isso não vem por azar ou sorte, tem um significado. Tento me apegar nisso. Sei que ainda tenho uma margem de progressão para tudo dar certo e eu chegar aonde quero com o clube.

E quer chegar em que lugar?

Conquistar grandes coisas. Pensei em voltar ao Brasil, abri mão de muita coisa, de um contrato melhor no meu antigo clube, abri mão de um patrocínio que eu tinha importante na França. Deixei de ir para outro clube para receber mais porque eu tenho esse desejo de ganhar uma Libertadores. Quando surgiu a chance no Fluminense, decidi vir para ganhar o Brasileiro ou ajudar a classificar e no ano seguinte ganhar a Libertadores. Ganhar a Libertadores num grande clube como o Fluminense, na minha cidade, terra da minha família, é um sonho que eu tenho. Não vou conseguir realizar nesse ano, mas espero que no próximo a gente possa participar e ganhar a Libertadores.

Como você está fisicamente? Como estão os joelhos?  

Me sinto muito bem fisicamente, a lesão no joelho está praticamente curada. Algumas pessoas, por não saberem, cogitaram que cheguei ao Fluminense machucado. Não foi isso. Tanto é que fui eleito o melhor jogador da minha ex-equipe. Eu vinha de quatro temporadas sem problema no joelho. Cheguei aqui, fui fazer algumas coisas que não era acostumado e acabou afetando meu joelho. Fisicamente estou bem, preciso e tenho condições de melhorar, fiquei muito tempo parado por causa da lesão, tenho que pegar ritmo, tenho evoluído bem. Ainda tenho muito a evoluir.

A questão da readaptação ao estilo de jogo no Brasil está superada?

Sim, sim. Mas estava conversando com o pessoal e, apesar de não estar bem fisicamente, com o o nível de jogo contra os clubes da Alemanha (no Torneio da Flórida) me senti melhor do que contra os times do Brasil, pelo Carioca. Amigo meu disse que há muito tempo estava num nível diferente, lá é um futebol com ritmo mais pesado, aqui é mais cadenciado. Mas acho que tenho tudo para progredir e ajudar o clube.

Como você está encarando o processo de reformulação do Fluminense? Você veio para um projeto que mudou no meio do caminho.

Estou achando bacana. Alguns torcedores podem ter pensado que por antigamente as contratações serem de jogadores renomados, e essas foram pontuais, sem alarde da imprensa, que não seriam bons reforços. Mas são ótimos jogadores. Todos que chegaram vão ajudar e já estão ajudando de forma positiva. É muito difícil reformular de uma hora para outra e ter resultados. Geralmente demora. No sistema defensivo, por exemplo, só ficamos Diego e eu, que no ano passado joguei pouco e me lesionei. E eles estão tendo bom rendimento. Acho que é uma satisfação eles terem chegado.

Você foi um dos últimos jogadores a chegar com suporte financeiro do antigo patrocinador. E com a saída da Unimed a permanência de jogadores como você ficou indefinida. Como está a sua situação, já que começaria a receber os direitos de imagem a partir deste ano?

Eu deixei na mão do meu agente. Ele que sentou com as duas partes e desde começo está tratando. Fico neutro, procuro me concentrar no campo. Tenho um tio meu que me ajuda muito também. Eles me passam quando está resolvido. Eles que vão definir a melhor solução. Hoje, não tenho muito o que falar sobre essa minha relação com a Unimed.

Mas a vontade é ficar no clube?   

Ah, o futebol é muito dinâmico, né? Vim para cá com o pensamento de ganhar a Libertadores. Seria muito difícil jogar em outro clube no Brasil, até porque sou do Rio, gosto de ficar perto da família. Sei que o mercado na Europa vai abrir no meio do ano, no começo do ano algumas pessoas da Europa me ligaram para perguntar da minha situação, a janela de verão, mas falei que não seria o momento de voltar, mas como o mercado mexe muito não posso falar que vou continuar. Querer eu quero. Mas se surgir uma boa chance para o clube e, para mim, não vejo porque não.

Além da questão da estrutura, do nível do futebol, como é voltar a conviver com a notícia de atraso de salário?

É um pouco complicado, em dez anos da minha carreira sempre foi tudo certo, nem me preocupava com isso, não ouvia nada sobre isso. O pessoal do Fluminense tem feito o possível, não sabia que os bens do clube estavam bloqueados, o pessoal tenta organizar as coisas. Infelizmente no Brasil é assim. O pessoal paga pelos erros cometidos lá atrás. É ter paciência, tentar ir levando, conversando com alguns companheiros. Estão tentando resolver muito a vida do Fluminense.

Cristóvão e alguns jogadores disseram que isso atrapalhou muito no ano passado. Sentiu isso?

Senti isso também. Uma vez, conversando com o Paulo Angioni (ex-diretor de futebol), eu toquei nesse assunto, disse que afetou. Mas o grupo é tão unido que não deixou influenciar tanto. Poderia ter jogador fazendo corpo mole, jogadores não quererem jogar. Mas o grupo estava junto com a comissão, todos foram homem para abraçar a causa e terminar de maneira digna o campeonato.

Está feliz com o rumo da sua carreira?

Não imaginei isso tudo, não (risos). Minha carreira foi uma bênção. Nunca imaginei ter o reconhecimento que tenho na Europa, principalmente na França. As pessoas têm um carinho enorme por mim. Nunca passou pela minha cabeça. O que vivo como jogador de futebol é para poucos. Quando eu parar de jogar, as pessoas do antigo clube vão se lembrar de mim. Isso é gratificante. Espero conquistar grandes coisas no Fluminense para que as pessoas possam ter uma boa imagem minha também.

O Henrique do Carioca 2015 é muito diferente daquele de 2004?

Muita coisa (risos). Bem mais tranquilo. Em 2004, conquistei o campeonato, mas era um garoto. Minha formação não foi no meu antigo clube (Flamengo), me formei no Bordeaux, quando cheguei não tinha noção de muitas coisas e aprendi muito lá. Agradeço ao Ricardo Gomes, que foi meu técnico lá. Sou um jogador diferente, acredito que preciso melhorar, não posso ser perfeito, mas sempre posso evoluir.

Por Explosão Tricolor / Fonte: GloboEsporte.com

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