Carlos Eduardo Mansur, do Globo, publica texto sobre a venda do Luiz Henrique




Luiz Henrique (Foto: Mailson Santana / Fluminense F.C.)



Nesta terça-feira (15), Carlos Eduardo Mansur, do “Globo”, publicou um texto para comentar a venda de do atacante Luiz Henrique, do Fluminense, para Betis, da Espanha. Confira abaixo:

“No futebol, o caro ou barato não depende apenas do produto que se coloca no mercado. Em geral, tem a ver com uma complexa soma de fatores, entre eles a necessidade de quem compra e a vulnerabilidade de quem vende.

Por mais que o futebol brasileiro tenha nos acostumado a acompanhar o desenvolvimento de nossas revelações como quem vive uma constante contagem regressiva, cada venda cria sensações que vão da impotência ao vazio. Mais ainda em casos como o de Luiz Henrique, cuja saída iminente foi tornada pública três dias após um gol de antologia. E, em situações assim, será sempre difícil convencer o torcedor de que qualquer dinheiro pago é o bastante.

É aí que entram os tais fatores complexos. No fundo, a venda do atacante tricolor é um fiel retrato das condições em que a imensa maioria dos clubes brasileiros sentam à mesa para decidir o destino de suas promessas. Todas estas condições foram expostas de forma transparente na entrevista coletiva do presidente do Fluminense, Mário Bittencourt. Mas ali ficou claro, também, como a classe dirigente, ao longo de décadas, fragilizou tantos clubes do país.

Está vendendo Luiz Henrique um Fluminense que precisa fazer, em 2022, algo próximo de R$ 100 milhões no mercado; que tem metade de suas receitas de TV do Campeonato Brasileiro comprometidas; que tentou vender o zagueiro Nino e o atacante Gabriel Teixeira, mas os negócios travaram nas fases finais. E pior, que investiu alto, diante de seus padrões, em um ano de Libertadores. Mas que corria risco de não manter compromissos em dia caso não encontrasse “dinheiro novo” antes de junho.

O futebol atual criou um cenário em que os jovens crescem com a percepção de que as principais ligas europeias são o terreno onde os grandes jogadores se provam. Enxergam o sucesso na elite do Velho Continente como a verdadeira chancela de uma carreira bem-sucedida. É como se partissem atrás de realização financeira e de um selo de aprovação. A triste constatação é de que, diante dos sonhos dos jovens e da disparidade econômica, o êxodo virou quase uma inevitabilidade.

O que muda, a rigor, é a forma como se senta à mesa de negociação. Quem vai fragilizado, sem poder sequer adiar a transferência pela necessidade de dinheiro e pela impossibilidade de oferecer alguma compensação ao jogador, vende por menos. É o caso do Fluminense. Olhar para o valor obtido por rivais mais ricos é um parâmetro impreciso. Ainda mais na negociação de um jogador sobre quem, até hoje, o mercado não sinalizara uma valorização maior.

Luiz Henrique vale mais? Valeria, se o clube pelo qual jogasse pudesse pedir mais neste momento. O grande inimigo do Fluminense, hoje, são suas próprias urgências, fabricadas ao longo de anos, de décadas. Quem precificou Luiz Henrique não foi apenas o Betis, o comprador. Foi a fragilidade econômica do tricolor. O clube precisa avançar num processo sério de reestruturação, inclusive para romper um ciclo vicioso extremamente perigoso. Hoje, os clubes mais saudáveis do futebol brasileiro também vendem seus jovens, todos vendem, porque a pressão do mercado europeu é quase irresistível. Mas conseguem algo mais do que negociar um bom preço: vão ao mercado e atraem jogadores de um nível antes inacessível ao futebol brasileiro, jogadores em idade próxima do auge das carreiras. O Fluminense precisa trabalhar para que a venda de suas promessas não sirva para apagar incêndios, pagar dívidas ou custear a contratação de veteranos.

Da forma como o futebol mundial está estruturado, nada indica que deixaremos de ser uma liga periférica, fornecedora de talentos para o primeiro mundo da bola. Mas fortalecer os clubes é um passo para atrair melhores jogadores, reter alguns por mais tempo e até vender em condições melhores”.

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Semifinais

31 de agosto (ida) e 7 de setembro (volta)

Final

29 de outubro (Estádio Monumental, em Guayaquil, no Equador)

Por Explosão Tricolor

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