Os bastidores do “fico” do Fred




Não foi nada fácil colocar o atacante Fred sentado frente a frente com o Levir Culpi. A ideia da reunião foi arquitetada ainda na noite da última quarta, e todos os envolvidos consideravam que seria um verdadeiro “vai ou racha”. Se o jogador não aceitasse, o jeito era sentar e avaliar qual a melhor proposta de transferência.

Fred chegou exatamente às 10h16 nas Laranjeiras para mais um treino separado do elenco do Fluminense, sua rotina desde terça-feira, sem saber  que viria pela frente. O presidente Peter Siemsen chegou um pouco depois. Enquanto o atacante fazia sua atividade, o mandatário tricolor ligou para Levir Culpi e o convocou para ir ao clube se encontrar com o capitão. Ainda faltava falar com Fred, missão dada ao diretor executivo de futebol Jorge Macedo, que, enfim, o convenceu. O camisa 9 percebeu ali que se não aceitasse conversar estaria pondo fim ao casamento.

Em uma conversa bastante aberta e sem rodeios, Fred e Levir Culpi falaram. Uma das coisas ditas pelo técnico mexeu com  o camisa 9. Se por um lado o capitão tinha se sentido desautorizado após ser repreendido por cobrança a Gustavo Scarpa, o comandante o fez lembrar que ele também havia cometido erros na forma de conduzir a situação. A trégua ficou acertada, e Peter pôde anunciar o “fico” e evitar uma saída traumática do ídolo.

Na entrevista coletiva após o treino da tarde, Fred confirmou que o principal ponto da crise entre foi quando o treinador o acusou de ter humilhado Scarpa durante uma cobrança no dia do jogo contra o Madureira, em Macaé.

– Eu senti uma maldade naquele momento. Tenho um gênio forte, ele tem o dele. Na conversa de hoje (quinta), é cada um fazer o seu melhor. Ele é o comandante. Eu sou o capitão, atacante. Temos que conviver bem com isso. Agora é unir forças. Nem eu, nem ele vai ser maior que o Fluminense. Temos que unir forças. Se respeitar e fazer de tudo para ajudar a conquistar títulos aqui no Fluminense.

Antes de Fred sentar frente a frente com Levir, várias pessoas conversaram com o atacante na tentativa de convencê-lo a não sair do clube pela porta dos fundos e manchar sua história. Entre eles Marcelo Penha, assessor especial da presidência, o fisioterapeuta Nilton Petrone, o Filé, a nutricionista Renata Faro e até Michael Simoni, diretor médico de projetos de saúde do futebol, que no passado teve uma discussão pública com Fred, mas aparou as arestas. O tempo entre a explosão do camisa 9 contra o treinador no início da última semana e a paz nesta quinta se fez necessário. Foi nesse período que o capitão refletiu, ouviu os conselhos e pesou os prós e contras de uma possível saída.

– Achei que ia acabar, cara. Eu pensava… “não posso sair”. Quem mais me ajudou foi a minha esposa. Era com ela que eu desabafava, falou a todo momento para eu ficar. Foram dias difíceis. Todos os momentos eu olhava para o lado e via o Gum, o Cavalieri, o Márcio, segurança. Ouvia o Maracanã gritando “Fred, Fred” mesmo em um jogo resolvido de 4 a 0 e eu mal na partida. E quando eu fiz o gol aos 80 e poucos minutos, parecia que era o gol do título. Após reflexão e oração, as coisas foram clareando. Não posso jogar a minha história de títulos na lata de lixo – disse Fred.

Por Explosão Tricolor / Fonte: Globoesporte / Foto: Fluminense FC