Comentaristas opinam sobre as improvisações no Fluminense




Fernando Diniz (FOTO: LUCAS MERÇON / FLUMINENSE F.C.)

O Fluminense terminou a partida em que foi derrotado pelo Bahia, por 2 a 1, na Fonte Nova, pela segunda rodada do Brasileirão, com uma formação nada convencional. Fernando Diniz fez cinco mudanças no segundo tempo e finalizou o jogo sem zagueiros e laterais. Por isso, o torcedor faz a pergunta: as improvisações são uma solução ou um problema?

O treinador fez as cinco substituições possíveis. Entraram John Kennedy, Douglas Costa, Alexsander, Kauã Elias e Isaac nos lugares de Lima, Manoel, Diogo Barbosa, Samuel Xavier e Cano. Devido ao questionamento dos torcedores, o ge convidou os comentaristas Marcelo Raed, Conrado Santana, Renata Mendonça e Cabral Neto para dar as suas opiniões sobre as escolhas.

Renata Mendonça

— O Fluminense tem sofrido, como era de se esperar, com a saída do Nino, e Diniz tem tentado encontrar soluções pra isso. Não há no elenco do Flu um zagueiro com a mesma capacidade de saída de bola, de leitura e antecipação de jogada, de cobertura e duelos defensivos como ele. As improvisações, ao meu ver, não são “invenções” do treinador, mas sim adaptações que ele tenta fazer para manter as características de jogo. Claramente, Antônio Carlos não encaixou no que ele esperava de um zagueiro até aqui, e perde como opção até mesmo para o zagueiro da base, Felipe Andrade.

— Sempre que foi perguntado sobre usar André, por exemplo, como zagueiro desde o início, Diniz respondia que não via dessa forma, que usava como alteração pontual para momentos específicos do jogo – inclusive foi perguntado sobre isso no início do Carioca esse ano. Portanto, vejo a mesma situação com Martinelli – o uso do volante nessa função me parece algo momentâneo para suprir tantas ausências no mesmo setor e manter a característica de um time que constrói desde trás (e que já tem sofrido tanto nesse aspecto sem Nino).

— Sem Martinelli e com Alexsander oscilando, a opção do meio-campo tem sido por Lima, que tem sentido um pouco, porque ele rende mais jogando mais adiantado. Não consegue fazer tantas coberturas, como Martinelli faz, isso deixa o Flu um pouco mais exposto quando perde a bola e precisa se proteger de contra-ataques. Entendo que oscilar é normal pra um time que teve sua melhor temporada em 2023 e que ainda vive um “rescaldo” dela pelas adaptações que teve que fazer no seu calendário. Saiu pras férias mais tarde, voltou sem pré-temporada, já teve decisão pra jogar (Recopa) e aí teve que acelerar os titulares pra estarem nessa disputa, enfim. Fora que, obviamente, os adversários estudam mais o Fluminense e conhecem mais suas falhas.

(CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE)

— Agora, é importante o time se reencontrar em meio a esses desfalques na zaga e buscar uma consistência defensiva mesmo com as adaptações necessárias (como Martinelli na zaga, por exemplo). E quanto a alterações que Diniz faz ao longo do jogo, acho que é sempre legal ver técnicos que não fazem o óbvio. Ele tenta sempre ganhar o jogo, ainda que às vezes se exponha mais pra isso. Foi assim que ganhou do Inter num jogo que parecia perdido na semifinal da Libertadores, que conquistou o título mais importante do clube e que, sim, às vezes também perdeu jogos por não ter dado certo a estratégia que pensou. Faz parte.

O que me parece certo com Diniz é que sua convicção de sempre ter coragem pra tentar ganhar jogos independentemente das circunstâncias (inclusive com 1 a menos) vai ser sempre maior do que o medo dele de perder a partida. E esse é o ônus e o bônus de tê-lo como técnico.

Marcelo Raed

— A grande questão do Fluminense é na zaga. É o ponto fraco na construção desse elenco e é um setor fundamental para a eficiência no sistema de jogo do Fernando Diniz. Com a saída do Nino o técnico perdeu mais do que um dos melhores zagueiros do país. Perdeu também em proteção à área, entendimento de cobertura de espaços e até passe. A tentativa de compensar com volantes jogando como zagueiros é pra manutenção da ideia de posse de bola desde a defesa, mas isso faz o time perder bastante na principal obrigação de um zagueiro: a proteção da área.

— Fernando Diniz sempre se caracterizou por ser um técnico que busca soluções no elenco combinando as características dos jogadores com a necessidade do sistema de jogo do time, e ofensivamente tem conseguido bons encaixes com a variedade de opções do elenco. Mas falta o sistema defensivo.

Conrado Santana

— O futebol bem jogado, o futebol que encantou o país e foi coroado ainda com o título da Libertadores, o título mais importante da história do Fluminense, comprovou que as ideias do Diniz deram certo, inclusive as improvisações. Jogadores mais velhos, que muita gente não acreditava, Felipe Melo na zaga junto com Marcelo, enfim, que todo mundo já sabe.

– Para 2024, o time claramente está abaixo e é algo que eu particularmente já estou falando desde o ano passado. Sem o Nino o time cai muito. Eu sempre considerei o Nino junto com André, os jogadores mais importantes do Fluminense, não os melhores, os mais importantes da forma que o time joga. Primeiro pela saída de bola, muito importante ali e principalmente na hora de se defender quando o time está exposto. Um cara que cobre muito bem grandes espaços, fazia cobertura do Felipe Melo, consertava tudo, salvava o Fluminense várias vezes.

– O Fluminense perdeu um zagueiraço, zagueiro de Seleção, e não repôs. Contratou jogadores que não estão dando certo, Antônio Carlos jogava nos Estados Unidos, enfim, não convenceu a comissão técnica. Manuel estava fora por muito tempo por doping, voltou, agora foi titular. Marlon ainda não deu certo, foi uma contratação que Fluminense tentou desde o ano passado, não convenceu, e aí, o Diniz está improvisando na zaga. Não é o ideal. Ele está tentando, acho que não está dando certo, de repente ele vai tentar voltar e jogar com os zagueiros que ele tem no elenco. Vai tentar mudar, mas a verdade é que o Fluminense tem uma lacuna na zaga.

(CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE)

— Cabe ao Fernando Diniz encontrar soluções, melhorar. Os reforços ainda não brilharam. Apesar do título da Libertadores, o Fluminense não está entre os maiores investimentos, não tem dinheiro para competir. Às vezes fica refém disso. Foi campeão da Libertadores e a expectativa vai ficar sempre muito alta.

Cabral Neto

— Eu não vejo improvisações com preconceitos, acredito que elas possam funcionar em determinados jogos ou momentos. Futebol não é movido simplesmente por jogadores de uma única posição, o que de fato importa são suas funções em campo. Mas é preciso pontuar algumas questões:

1º) Quando um treinador precisa fazer isso de forma regular demonstra alguma fragilidade na composição do elenco.

2º) O exagero nessas decisões vai desorganizar mais vezes a sua equipe do que acertar suas falhas.

3º) Cada jogo tem suas especificidades e exige manobras diferentes dos treinadores, o que funciona em determinado jogo, não, necessariamente, vai funcionar diante de outro adversário.

Nesse último jogo do Fluminense, Diniz perdeu o meio-campo, viu o Bahia dominar o setor e ao invés de tentar fortalecer aquela faixa de campo, acabou esvaziando ainda mais e foi definhando em campo.

(CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE)

— É inegável que as muitas lesões e o menor tempo de preparação no início da temporada atrapalham. O começo de ano é ruim, mas não dá pra esquecer a capacidade que esse time e Diniz mostraram no ano passado. O elenco de 2024 é ainda melhor, com a exceção da péssima perda de Nino. O Fluminense tem potencial pra se reabilitar e voltar a ser forte. Também é preciso recuperar alguns jogadores que foram muito bem na temporada passada, mas que estão devendo em 2024. A crítica pontual às escolhas de Fernando Diniz não desmerecem o seu talento. A fase dele não é boa, mas sua capacidade é inegável. Diferente do comum, percorre caminhos diferentes da maioria, com ideias muito autorais, mas de comprovada competência.

“Apoie o nosso trabalho e nos ajude a ampliar cada vez nossos serviços gratuitos! Há quase dez anos, o Explosão Tricolor leva ao público um jornalismo colaborativo e independente. Para continuar nosso trabalho de forma crescente, contamos com a ajuda do nosso público.”

Clique aqui e realize a sua inscrição no canal do Explosão Tricolor!

VEJA AINDA:



Por Explosão Tricolor

E-mail para contato: explosao.tricolor@gmail.com