Sobrenatural de Almeida, Gravatinha e Levir




O gênio de Nelson Rodrigues costumava justificar a sua paixão pelo futebol nos seus aspectos mais surreais. Para ele, tudo era sobrenatural. Quando o Fluminense perdia mesmo com todas as condições de ganhar, era sobrenatural; quando a trave parava o gol mais bonito da partida, era sobrenatural. Enfim, Nelson Rodrigues atribuía ao sobrenatural todas as facetas de uma partida de futebol.

Sobrenatural de Almeida
Sobrenatural de Almeida

O Sobrenatural de Almeida, uma das suas mais famosas criações, era, na verdade, a desgraça tricolor. Amargo, rancoroso, sem amor e, sobretudo, dotado de uma imagem horrenda sem igual, ele era a exata noção de um torcedor cuja única função é levar o azar pro campo. Não foram poucas as atividades do Sobrenatural nas partidas do Fluminense, especialmente nos idos dos anos 90. Qual torcedor tricolor não sentiu a presença dessa terrível aparição nos seguidos rebaixamentos que vivemos? Ele não se foi! Está em nosso meio e, volta e meia, retorna para nos assombrar.

O Gravatinha era muito melhor. Para Nelson Rodrigues, ele morreu em 1958 e, após isso, ainda retorna aos estádios, sempre vestido de terno e gravata borboleta. Um gentleman! Mas o Gravatinha não é bobo: só vai ao estádio quando sabe que o Fluminense será o vencedor. A sua presença na torcida é garantia de vitória do maior do Rio.

Mas o que isso tem a ver com o Fluminense atual e com Levir Culpi? Absolutamente tudo. Em primeiro lugar porque Nelson Rodrigues é eterno e as suas frases metafísicas são atemporais. Segundo, porque o Fluminense de hoje parece viver a eterna luta entre o “bem e o mal”, ou melhor, entre o Sobrenatural abominável e o Gravatinha das vitórias.

Explico.

Antes do jogo de domingo não foram poucas as notícias de que Levir Culpi havia pedido pra sair. Colocou o cargo à disposição. Assim como em outras oportunidades, a diretoria não havia aceitado mas, certamente, bastava uma derrota nos Pampas para a coisa ficar insustentável. Nesse momento surge o Gravatinha! Como se viesse querendo ficar, ele soprou nos jogadores a seguinte mensagem: eu estou em campo. Basta! É o suficiente para termos a vitória. E não me venham falar em Gustavo Scarpa, M. Jr. ou até mesmo em Cícero. Nada explica os altos e baixos existentes desde o jogo contra o Atlético Mineiro, a não ser a realidade mediúnica. 

O burro com sorte do Fluminense
Levir Culpi errou feio contra a Chapecoense (Foto: Fluminense FC)

Mas o Sobrenatural de Almeida ainda ronda as Laranjeiras e o imaginário de Levir. Ora, só mesmo o abjeto cidadão para justificar os erros que ele cometeu contra a Chape. E nem adianta dizer que o time recuou ou que jogou de “salto alto” após o primeiro gol. Não foi isso! Lá estava o asqueroso acabando com o sonho do Tricolor de chegar rápido ao G-4: “estou escolhendo a minha vítima: hei de beber o sangue de alguém”, já diria o rabugento.

E, cá estamos nós, estamos atônitos, sem saber direito o que está acontecendo. Em um dia, vitória épica sobre o Galo. No outro, derrota decepcionante para a Chapecoense. E, após, mesmo com Levir Culpi fazendo “charminho”, vitória, digamos, inesperada contra o Grêmio em plena Porto Alegre.

Levir Culpi, nas entrevistas, ainda que o time tenha saído de campo vencedor, tem sempre um “quê” de Sobrenatural de Almeida. Apresenta-se pouco otimista, sempre tentando pregar um realismo que mais parece obra pessimista de alguém que levanta toda a sua força para mover o céu e a terra contra a gente. Se fizer “biquinho” toda vez que perder uma partida, vai ser dureza!

“Os idiotas da objetividade só vêm um jogo em termos estritamente técnicos e táticos. E o Sobrenatural de Almeida estava ali, provando que o futebol é muito mais do que puro e simples futebol. Qualquer clássico ou qualquer pelada tem uma área de mistério e de espanto.” Tal frase foi eternizada por Nelson Rodrigues e ninguém há de questioná-la vendo o Fluminense atual.

Espero ver mais o Gravatinha no estádio. É sinal que vencerá o Fluminense. Só o sobre-humano para explicar as atividades campais do Tricolor carioca neste Brasileirão.

Ser Fluminense acima de tudo!

Toco y me voy:

  1. Duas partidas contra os “gambás de Itaquera”. Duas vitórias. Acredito no Fluzão contra o “rei do apito”.
  1. Três jogos longe de Edson Passos? Tristeza total!
  1. Que Gustavo Scarpa é esse! Se locomovendo como ninguém e sendo matador quando o time precisa. Quando não pensa da Europa o moleque dá show!
  1. Acredito que Levir acerta quando mantém os laterais mais recuados. Acaba dando liberdade ao meio e aparecendo os talentos individuais, inclusive do Cícero. Quando tá a fim, o cara joga muito.
  1. Não sei o porquê, mas confio muito mais em Júlio César que em Cavalieri. Vida longa ao garoto na meta do Fluzão!

Evandro Ventura / Explosão Tricolor

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