A força mística da Leiteria Metafísica

Senhoras e Senhores, os que perderam o jogo entre Fluminense e Fortaleza pelo Brasileirão Feminino, deixaram de assistir um grande espetáculo de futebol. As comandadas da técnica Thaissan jogaram com garra, com raça e, acima de tudo, com paixão. O futebol é um romantismo. O esporte bretão é o teatro de todos os sentimentos humanos que, com a força incontrolável da emoção arrebatadora, submete o roto e anônimo coração do torcedor.

Na partida de ida das oitavas de final do Brasileirão Feminino Série A2, nossas Guerreiras praticaram um jogo formidável, digno de nossas cores e tradições. Na defesa, como uma Maria Quitéria, Roberta esbanjou bravura. No meio-campo, como uma Anita Malfatti, Kelly buscou articular o jogo Tricolor com elegância e plasticidade. Nossa sublime artilheira, como uma Luiza Mahin, marcou o gol que nos deu a vantagem no placar – 1 a 0 Flu! Letícia vai te pegar! Vitória do Fluzão!

Minha personagem da semana, contudo, é a extraordinária goleira Luana. Aos 26 minutos do primeiro tempo, quando o jogo ainda estava 0 a 0, nossa arqueira operou um verdadeiro milagre. Milagre? Sim, amigo leitor! Um milagre! Um lance digno do eterno e saudoso São Castilho, um lance de pura beleza, excelência e sorte! Um autêntico acontecimento da Leiteria Metafísica, o espírito que protege os grandes goleiros da história do Clube tantas vezes campeão!

Depois de uma bola enfiada, nossa goleira teve de sair ‘’nos pés’’ da atacante do Leão. Sem poder fazer o bote com as mãos, a arqueira Tricolor entrou na dividida com os pés. Depois de vencer a dividida na entrada da grande área, no rebote, fora do gol, Luana seria encoberta por um arco, por um hábil toque de cobertura – um lance de muita técnica da atacante adversária. Luana seria encoberta; não o foi.

A guarda-metas do Flu, com agilidade e força, recuou. Em um lance de rara felicidade, nossa goleira fez uma defesa quase impossível, uma bela ponte inesquecível. Luana espalmou para desviar a trajetória da bola que, caprichosamente, tocou a trave. A aflição tomou conta do lance. Depois de beijar a trave, a pelota languidamente ainda quicava e perambulava pela área do Time de Guerreiras. Forte e intuitiva, nossa goleira se recuperou e, com explosão e calma, teve ímpeto e destreza para anular o potencial mortal da jogada.

Tanto quanto o gol da matadora Letícia, a defesa da arqueira Pó de Arroz foi decisiva. Escrevendo sobre Castilho, o maior ídolo da história do Fluminense, Nelson Rodrigues apelidou a sorte de Leiteria Metafísica. O profeta Tricolor conhecia o mistério do jogo, o drama humano encenado no futebol: um goleiro, como qualquer ser humano, precisa de talento e sorte! Eu vos digo: Luana tem ambas as coisas. Nossa goleira é talentosa e carrega a mística eterna da Leiteria Metafísica, da sorte de São Castilho e de todos os arqueiros imortais!

Que venha o jogo de volta e, acima de tudo, a classificação para as quartas de final!

Vamos, Guerreiras!

Teixeira Mendes

Confira a agenda tricolor nos próximos quatro jogos no Brasileirão da Série A: