A torradeira elétrica e o sono dos justos




Buenas, tricolada! Os nossos torcedores sempre se perguntam o porquê de a nossa imagem estar tão arranhada diante da opinião pública. Eu mesmo já me perguntei a respeito.

Muito cá pra nós, os mandatários tricolores, e não é de hoje, fizeram ao longo do tempo uma questão danada de se autoflagelar – cinicamente, utilizando a instituição como receptadora, e não as suas carcaças intocadas ou as suas vidas perfeitinhas.

Melhor dizendo, eles dão os doces caramelados e mais caros de mão beijada aos penetras das festas. Alimentam os estereótipos que nos apequenam. Com atitudes, declarações, falta de ações transparentes, discursinhos babacas, manifestações “nacionalistas e travestidas de verde, branco e grená”, exaltando estas tais três cores que traduzem tradição com mero ufanismo – e sem a mínima condição de doar as suas auras supostamente apaixonadas pelo clube…

Putz! O Fluminense Football Club transformou-se em abrigo de sem-tetos! Nas mais variadas camadas lá de dentro! Em teoria, politizados. Ávidos por melhorias. Ciosos de suas responsabilidades. Condutores de reais mudanças. Ou até mesmo bons de bola! Mas visivelmente incorporados pelo irritante mais do mesmo recorrente nas Laranjeiras!

A gente ainda para e assiste aos jogos pela TV. Vai aos estádios. Ri e chora pelo clube. Emociona-se. Acredita. Vê possibilidades de viradas. Mas entra dia, sai dia, temos que retomar o nosso prumo. Um prumo minimalista, bem de acordo com os modernismos da vida urbana atual. Uma merda só, que não combina com o futebol. Não combina com o Flu. Não combina com a paixão genuína que nutrimos há 117 anos pela instituição – e é o nosso maior tesão.

O FFC hoje é uma torradeira elétrica em curto circuito, que queima os pães que nela são introduzidos. Ela dá choques, altera os sabores, enegrece as almas. incendeia os corações, mente, engana e não aceita que a substituamos por um outro eletrodoméstico mais novo e mais adequado. Ela nos faz gastar mais energia, mais produtos, mais esperanças, mais vida…

Aí, alguns incautos torcedores apontam dedos criticando a autofagia inata de outros. Porra, há séculos convivemos com o descaso. Com o despreparo, desmandos, derrotas… Tornou-se contumaz! Essas características jamais foram os motes da nossa história!

Qual é a intenção? Rasgar os alfarrábios imortais onde foi rabiscada a nossa trajetória? Tornar o clube o maior alvo de chacotas do país? Transformar o Fluminense em clube social, repleto de “piscineiros”? Acabar com a alcunha de Football Club, que nos acompanha desde o nascedouro? Repetir um passado recente inglório, de que todos lembramos? Caceta, falamos do Fluzão, e não dos extintos Rosita Sofia e Canto do Rio! Ou do Bambala e do Arimateia, do Felipão!

TEM QUE MUDAR TUDO NO FLU! Não quero aqui sugerir demissões de A ou B, mas há a necessidade intrínseca de se redesenhar este 2019! Já! Não sei como, e não sou diretor do clube, portanto, o meu desabafo é de torcedor.

Perder jogos de futebol faz parte do contexto. Errar é humano. Conviver com dias ruins também é fato comum numa existência qualquer. Ter má sorte, estar com a psiquê abalada, ver as suas tentativas tornarem-se infrutíferas etc são compêndios de uma escalada. Mas assistir à vergonha que o Fluminense protagonizou no Serra Dourada definitivamente não pode ser tratado como infelicidade – ou indiferença!

VERGONHA MESMO!

Cadê as atitudes? Da gestão do clube, do comando à beira do campo e dos jogadores? E até da torcida? Sem incitação à violência, sem estímulos à porradaria e às invasões, a galera tem a obrigação de cobrar esses caras. TODOS! Nas suas redes sociais, nas arenas, nas ruas… Essa zona de conforto da maioria deve ser mandada pro quinto dos infernos! Não podemos mais passar um segundo sequer amargando os dissabores que a indolência imperativa do Tricolor das Laranjeiras tem nos imposto na marra! Desde o vértice superior à base da pirâmide!

Ratifico: o nosso elenco não é pior do que uns dez ou doze (de repente, com boa vontade, até de mais alguns) que este Brasileirão apresenta. Então, há algo muito putrefato rondando as dependências do clube e do CT Pedro Antônio.

Rapaziada, depois das mexidas(?) do Osvaldo, depois da (injusta) expulsão do atleta goiano, e depois de engolir um terceiro tento dos adversários com um jogador a menos, passei, a contragosto e com lágrimas no olhar, a torcer pra sofrermos uma goleada homérica. Quem sabe assim a diretoria não reconhecesse as cagadas que assumiram e nos empurraram goela abaixo, e resolvesse varrer a casa definitivamente! Quem sabe…

Os três a zero pro limitadíssimo Goiás – fora o baile, pelo início de returno do Campeonato Brasileiro, deveriam ser apagados da nossa memória assim que fechássemos as nossas exauridas pálpebras para o sono dos justos! Mesmo que sonhássemos – ou tivéssemos pesadelos – com a consagração do Rafael Vaz, pela segunda vez nesta temporada!

Não podemos nos iludir com duas vitórias improváveis, contra Fortaleza e Corínthians, por conta do azar dos nordestinos, que desperdiçaram chances a rodo, ou da falha absurda do goleirão Cássio! Obras do acaso! Ventos transversos que mudaram repentina e inesperadamente de direção. A nossa realidade hoje são os resultados adversos – e obscenos – das derrotas para Palmeiras e Goiás, por impiedosos 3×0! É a eliminação da Sula! É o envolvimento cada vez mais visceral com a Segundona! Infelizmente!

Não pensem que uns mínimos triunfos futuros me tornarão mais longânimo ou paciente. O Fluminense atual é a antítese daquilo que sempre apreciei no futebol. O antônimo daquela paixão que me fez tricolor de coração enquanto cromossomo. A diversidade do meu raciocínio lógico, em intercessão contínua com a minha sanguinidade! Essa mistura de sentimentos desmistificam e debilitam o prenúncio do meu amor incontido pelas três cores que traduzem tradição! Estão tirando o meu chão e fazendo-me desacreditar na pangeia que norteou as priscas eras da minha introdução no velho e violento esporte bretão!

Hora de reconceituações! Momento ideal para calçarem as sandálias da humildade! Vez de assumirem erros e de fazerem mea-culpa!

Como sempre prego aqui mesmo no Explosão Tricolor, o Fluminense Football Club é muuuuito maior do que todos nós – e principalmente do que eles!

Saudações eternamente (e entristecidas) tricolores!

Ricardo Timon