Balanço em sua terceira temporada no Fluminense, sonho de atuar na Europa, relação com Luccas Claro e muito mais: leia a íntegra da entrevista de Nino






Zagueiro tricolor concedeu entrevista ao portal “Globo Esporte”

Na manhã desta sexta-feira (10), o portal “Globo Esporte” publicou uma longa entrevista com o zagueiro Nino, do Fluminense. O defensor tricolor falou sobre a sua relação com Luccas Claro, sonho de atuar na Europa, balanço da passagem pelo Tricolor até o momento, conquista da medalha de ouro olímpica e muito mais. Confira a íntegra abaixo:

Balanço da passagem pelo Fluminense até o momento

“Balanço muito positivo. Muito melhor do que eu imaginava, sonhava. Minha expectativa era, claro, que eu fosse muito feliz aqui e pudesse representar o Fluminense da melhor maneira. Mas fui premiado com momentos muitos especiais no clube, com convocação para seleção brasileira, com vários sonhos realizados. E continuo com o mesmo sentimento de ansiedade cada vez que entro com o Fluminense, então é algo muito bom. Tem coisa que não muda. A responsabilidade que a gente sente ao entrar em campo, a ansiedade de cada jogo… A gente representa algo muito grande, e isso continua sendo carregado dentro de nós sempre.”

Uso da braçadeira de capitão na ausência do atacante Fred

“Acho que pela identificação que tenho com o clube, o carinho que recebo de todos os funcionários, e também por conhecer muito. Em 2019 já passei por um momento muito difícil, em 2020 um momento muito bom no Campeonato Brasileiro, e acho que as pessoas enxergam em mim alguém que vai tentar manter o equilíbrio, independentemente do que acontecer dentro de campo. E substituir o Fred nessa função é uma responsabilidade muito grande, mas também um prazer. Na minha opinião, é o maior jogador da história do clube, e conviver com ele e representá-lo quando não está em campo é um orgulho muito grande.”

Perfil de liderança

“Nosso grupo especificamente fala muito. Se pegar os bastidores ali, muitos jogadores têm esse dom da liderança, essa capacidade de falar, de sempre ter algo positivo para dizer antes do jogo. Eu tento fazer mais dentro de campo, de maneira calma e consciente, independentemente do que aconteça a euforia não tome conta, nem o desespero.”

Relação com Luccas Claro

“A relação é muito boa. Fora de campo o Luccas Claro é um cara sensacional, amigo, parceiro. E dentro de campo fica muito fácil jogar do lado dele, está sempre disposto a ajudar no que for preciso. Difícil encontrar no Brasil um defensor com as qualidades dele. Então fica fácil, tenho aprendido muito, e temos tentado crescer junto no entrosamento, na confiança um no outro, para que os resultados continuem aparecendo.

As cobranças que a gente escuta dificilmente são o que nós acreditamos que precisa fazer. A gente se cobra muito no detalhe. Às vezes a cobrança fala: ‘Estão tomando gol dessa maneira’. E nós: ‘Não, o problema não está ali. Precisa se movimentar mais rápido ali, cobrir o outro aqui’… Então é uma cobrança muito mais firme do que as pessoas depositam em cima da gente, acho que esse é o segredo do sucesso.”

Sonho de atuar na Europa

“Eu sempre deixei muito claro, e o presidente Mário é muito aberto com nós jogadores, passa confiança, tem muito o nosso carinho. Eu sempre deixei claro para ele que tenho o desejo de ir para a Europa, mas também que se minha ida para lá acontecer um dia, que seja de uma maneira que ajude o Fluminense também. E o fato de a gente renovar o contrato antes das Olimpíadas é um pouco disso, de saber que sair sem ajudar o Fluminense não adianta. Se tiver que acontecer um dia, vai ser da melhor maneira, eu sou bem tranquilo em relação a isso.”

Então essas situações que chegam de fora da Europa você logo descarta?

“O meu empresário tem que me dar opções, é o trabalho dele. Muitas vezes é uma coisa boa para o clube, e muitas vezes é algo extraordinário financeiro para mim também. Mas a gente tem um foco, tenho um objetivo de carreira, um sonho de chegar à seleção brasileira. Então, acho que é cada coisa no seu tempo. E a gente tem dado prioridade para quem sabe um dia ir para a Europa.”

Como surgiu o apelido de “Nino”

“Não é de pequenino, não (risos). Meu pai se chama Marcílio, assim como eu, e quando eu era pequeno ele dizia: ‘Esse aqui é meu menino’. Por isso virou Nino. Quando estava no futsal com sete anos, algumas crianças tinham dificuldade de falar Marcília, e aí falaram: ‘Chama de Nino’. Meu pai achou que seria mais interessante para o narrador, comentarista, aí a gente passou para frente (risos).”

Você vem de uma família atípica do estereótipo do jogador brasileiro, que normalmente tem origem humilde. Como foi a decisão de querer ser atleta de futebol?

“Foi natural (seguir carreira de jogador). Meus pais sempre deixaram muito aberto, e minha opção sempre foi me tornar jogador profissional, desde que pensei no futebol como profissão, foi a única opção que eu tinha. E eles sempre me apoiaram. Meu pai brincava muito que se a escola estivesse me atrapalhando no futebol ele me tirava da escola (risos). Mas era brincadeira, claro. A cobrança dele sempre foi para que continuasse estudando, me deu as duas opções e sempre me apoiou.

Não carregava comigo essa responsabilidade que a maioria dos jogadores que vem de uma origem humilde tem, de virar jogador para tirar a família de uma situação. Eu não tinha isso, mas carregava dentro de mim um desejo muito grande de realizar esse sonho, representar minha família que sempre sonhou comigo. Costumo dizer que todos os sonhos que realizei até agora não foram sonhos só meus, eles estão comigo sempre.”

Gosto pela leitura

“Eu acabei de ler recentemente a autobiografia do (Andre) Agassi (tenista). Foi um presente do Gustavo Leal, nosso auxiliar nas Olimpíadas, ele me deu lá. Comecei também a autobiografia do Martin Luther King, mas estou no comecinho ainda. Especificamente o Agassi falou muito comigo porque ele mostrou um lado dele que talvez a imprensa e os torcedores não conheciam, que eram as guerras mentais que ele tinha a cada jogo, cada campeonato perdido. Isso a gente vive muito.

A Larissa é prova que eu sou um Nino quando a gente ganha e outro quando perde. Querendo ou não chega de maneira diferente em casa, tem que lidar com nossas emoções. E ele mostra algo muito bacana que era o poder de reagir rápido, independentemente do que acontecesse. E ele amadureceu na carreira de um nível que criou uma autodefesa para os monstros que ele tinha. Ele era muito perfeccionista, isso fazia ele errar, então ele criou uma defesa para isso: ‘Não preciso ser perfeito, só melhor que meu adversário’. A gente muitas vezes vive isso dentro de campo.”

Decisão de utilizar a camisa 24 em homenagem ao movimento LGBTQIA+

“O clube já faria a ação, e eles queriam que o capitão jogasse com a camisa 24. Eles vieram meio receosos falar comigo, o argumento deles era que eu era cristão e não sabiam se eu iria gostar. Eu aceitei de primeira. A causa é muito nobre, são pessoas que sofrem muito, e o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTQIA+. O Fluminense fez uma causa muito bonita com isso, leiloou as camisas doando para as instituições que ajudam essas pessoas.

No momento eu só falei o ‘sim’ para o pedido do clube, mas se eu pudesse responder, responderia que com certeza jogaria com a camisa 24. Eu vi muitas pessoas vindo falar comigo, questionando o fato de eu ser cristão, como se fosse uma contradição. Mas Jesus ensinou o amor, pregou o respeito entre as pessoas. E eu acho que temos que levantar sempre toda bandeira que grita pelo amor, pelo respeito. Não acho que o amor seja o melhor caminho, acho que é o único caminho. Então era a única resposta que eu tinha para dar.

Foi um orgulho muito grande. Se tiver de novo ano que vem, vou representar de novo, jogar com a camisa 24, porque realmente são pessoas que sofrem muito, e a gente precisa abrir nossos olhos para isso.”

Terremoto no Japão durante as Olimpíadas

“Eu fiquei com o Santos, goleiro do Athletico-PR, no quarto, e brincava assim com ele: ‘Santos, queria muito que tivesse um terremoto leve, só para a gente ver como que é, a sensação, sem dar prejuízo nenhum para ninguém’ (risos). E aí nós jogamos a semifinal contra o México e fomos para o hotel. Geralmente a gente não consegue dormir logo depois dos jogos por causa da cafeína, e o Fluminense iria jogar às 7h da manhã. Fiquei acordado para assistir, mas deu umas 5h pensei: ‘Vou dormir um pouquinho até 7h’. Quando eu deitei para dormir, começou um terremoto.

O prédio balançando, um barulho grande no andar de cima, da cama arrastando. E aí foi um desespero (risos). Comecei a mandar mensagem para todo mundo: ‘Está tendo terremoto’. Foi apavorante. Depois que acalmou, 30 minutos depois teve mais um, mais leve. No outro dia, quando a galera acordou, foi só resenha. Uns falando que morreram de medo, não conseguiram dormir mais. Eu tinha o jogo do Fluminense, então dei essa desculpa: ‘Eu até ia conseguir dormir, mas fui ver o Fluminense’ (risos). Mas agora já sei como é (um terremoto), não quero sentir nunca mais.”

Bandeira de Pernambuco no pódio olímpico

“Meus pais me transmitiram esse amor e esse orgulho de ser pernambucano, de vir do Nordeste. Lá nós somos muito orgulhosos por isso, temos uma cultura que gostamos de mostrar para os outros. Cuscuz, Carnaval, São João… Eu tentei levar a bandeira de Pernambuco, acabei esquecendo quando fui arrumar a mala. Mas lá o Tiago me ajudou e pude representar Pernambuco. Recebi muitas mensagens depois de pernambucanos agradecendo, pois se sentiram representados ali.”

Valorização após a conquista da medalha de ouro

“Acho que não tem como descrever. É uma honra muito grande de ter o nome entre os campeões olímpicos. No futebol, 40 atletas conseguiram isso representando o Brasil (20 em 2016 e 20 em 2021), sei que vão passar anos e anos e vamos ser lembrados. Isso não tem preço. Isso é o que mais me enche de orgulho, saber que para sempre vou ser falado. Tantos outros atletas que tinham capacidade de conseguir no futebol brasileiro e não conseguiram: Romário, Bebeto, Ronaldo… E a gente está nessa lista de campeões olímpicos, é um orgulho tremendo.”

Crescimento individual após participação nos Jogos Olímpicos de Tóquio

“Com certeza cresci muito. Não foi um processo que se iniciou nas Olimpíadas, mas desde as convocações do pré-olímpico, quando tivemos um tempo bom para treinar. E o professor Jardine cobrava muitos aspectos técnicos, que são específicos. Então agregou muito em mim, hoje faço coisas automaticamente que desenvolvi com ele. Vou tentar continuar fazendo e levando para campo.”

E a seleção principal? Agora como campeão olímpico, acha que pode chegar lá?

“É um sonho que já alimentava há muito tempo. E com o ouro olímpico, com tudo que a gente viveu, é claro que a ansiedade aumenta, o desejo de estar lá novamente aumenta. Mas eu também tenho noção de que só cheguei lá trabalhando no dia a dia, pensando jogo a jogo, concentrado no Fluminense, no que tenho que fazer aqui. Acredito que esse é o caminho. O destaque individual acontece graças a um destaque coletivo. Tenho me focado em trabalhar individualmente, fazer meu melhor para que nosso time num todo esteja forte, que os resultados possam aparecer. A convocação vai ser consequência.”

Seu nome chegou a ser especulado naquela lista de possíveis substitutos para a seleção principal depois das Olimpíadas. Soube de alguma coisa? Já conversou alguma vez com o Tite?

“Nunca soube de nada, nunca conversei com o professor Tite. Carrego essa expectativa de um dia ser convocado. mas estou bem feliz com tudo que estou vivendo no Fluminense, com tudo que vivi na seleção olímpica. Estou bem confiante, creio que, se tiver que acontecer, vai ser no momento certo.”

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Por Explosão Tricolor

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