Cara ou coroa e crônica de uma morte anunciada




Buenas, tricolada! Após a queda do Osvaldo de Oliveira, finalmente, as mudanças as quais todos nós esperávamos foram adotadas. Sei que este meu comentário parece representar uma opinião de efeito retardado. Mas, não! Eu estava aguardando a poeira assentar, assistir ao primeiro jogo do Flu sem o velho/novo treinador, ver as reações de torcida, jogadores e imprensa… enfim, levei quase uma semana para reformatar os meus conceitos mais antigos e antiquados.

A tônica da diretoria antes dos últimos sete jogos do Tricolor Guerreiro, no período pré-Marcão, sugere o seguinte: “Queremos Dorival”! Convite recusado! “Vamos de Abel”! Proposta também não topada! “OK! Cara ou coroa! Mário e Angione são cara. Celso e Simone, coroa. Deu coroa, tragam o Osvaldo”! Crônica de uma morte anunciada, né não?

É óbvio que o encadeamento dos fatos não se deu desta forma, mas a impressão final é a de que atuaram sob esses auspícios. Na sorte. Na tentativa. Utilizando-se do elixir do “calem a boca, torcedores, demos uma resposta a vocês”!

Minha expectativa é de que Mário Bittencourt e Celso Barros não ajam como na contratação do próprio Osvaldo, após e bobagem da dispensa do Diniz às vésperas dos nossos dois confrontos mais importantes da temporada, pela Sula, contra os Gambás paulistanos.

Então, espero que os novos/velhos gestores não deixem fluir agora a continuidade dos atos insanos assumidos há pouco mais de um mês, quando resolveram chutar o pau da barraca, mudar o curso da embarcação no meio do oceano revolto e trazer para a chefia um cara que a torcida não tolerava. A chegada de mais um técnico, ou não, em três meses de administração, dependendo do nome escolhido, identificará se eles querem manter a tal insanidade!

A pouca autenticidade das ações da diretoria, após o grande equívoco e de sete partidas, foi notada antecipadamente, contra o Santos, no epílogo do péssimo e mal planejado enredo: briga inoportuna do “treineiro” Osvaldo com o craque do time, o PH Ganso.

Quebra de hierarquia e desrespeito mútuo no momento mais delicado da instituição nos últimos anos.

Ratificação de uma suposta e imaginada divisão de forças, que foi definitivamente comprovada com os jogadores defendendo um lado e a comissão técnica o outro – o elenco se reportou ao atleta substituído na beira do gramado, em vez de atender ao comando técnico, a um metro de distância.

Arquibancadas comprando o barulho do camisa 10 e atacando o comandante da nau à deriva.

E para descolorir o já desbotado, insosso e desolado script do Fluminense Football Club, o desfecho do trauma configurou-se com este mesmo treinador acenando com gestos obscenos na direção do maior patrimônio de um clube de futebol: a sua torcida!

Mas, devo concordar, será difícil a escolha do novo comandante tricolor depois da demissão do Osvaldo. Não há mercado, boas opções, dinheiro, credibilidade, consenso da nossa diretoria e nem dos torcedores. O que fazer?

No meu conceito, os nomes ventilados na mídia fazem arrepiar os meus ralos cabelos sobre a cabeça. Felipão? Lisca? Ventura? Zé Ricardo? Barbieri?

A meu ver, o nome ideal seria o de Cuca. Mas o malandro também não quis um reencontro forçado com o caos… Ele acabara de sair de um buraco (menos profundo do que o nosso), lá no São Paulo!

Ademais, decerto ele tem na memória uma piranhagem sem tamanho capitaneada por determinado diretor da patrocinadora do FFC, além de mandatário do clube e mecenas, na pior acepção do termo, em 2010. O mandachuva – à época e de novo, atualmente – demitiu sumariamente o nosso herói depois de uma temporada anterior mágica, quando o Flu “aposentou” os Tristões e Oswalds da vida, escapando improvavelmente de uma degola confessa, e disputou uma finalíssima de Sula!

Os puristas desenhariam o seguinte quadro: “pô, mas veio o Muricy Ramalho”! Ótima e acertada iniciativa, responderia eu, mas refiro-me à sacanagem imposta ao Cuca!

Gosto da opção gringa, e o argentino Ariel Holdan pinta como um dos técnicos sondados. Entretanto, a bem da realidade presente, não tenho a plena convicção de que um profissional estrangeiro, chamado às pressas, possa apagar incêndios em clubes tupiniquins. Especialmente naqueles que vivem em fogo abrasivo há quase uma década. Holdan, e outros, funcionariam muito bem se assumissem o Flu no início de uma temporada qualquer, na minha modesta maneira de enxergar os fatos.

Convivo com parceiros e amigos tricolores que defendem a contratação de um profissional cascudo e multi-vencedor, como o Felipão, por exemplo, pois o momento do clube requer cuidados maiores. Até entendo e respeito tais pareceres, mas discordo diametralmente. “O Cruzeiro reagiu desta forma recentemente, fechando com o Abelão” – eles cravam. Beleza, mas o que serve para A não necessariamente funcionaria para B.

Sei ainda que esta é a premissa de que alguns são pares e apostam: vamos buscar um para-raios, como Felipão, que segure a nossa onda até dezembro de 2019. Se der certo, maravilha. Se der zebra, depois a gente vê o que faz. Legal e interessante para parte do povo. Não para mim!

Eu sou veementemente opositor à sua chegada. Felipão cheira a sete a um. Cheira à antítese daquilo que mais me emociona no esporte – a competitividade aliada à beleza, mesmice, truculência, malandragem, grosserias, enfim… Ele, Abel, Levir, Joel, Roth e outros também são vencedores, cascudos e experientes. Mas quero-os, todos eles, a quilômetros de Álvaro Chaves!

Ah, e o Scolari também recusou o convite tricolor, é bom lembrar.

José Ricardo Mannarino, talvez poucos tenham em mente, esnobou o Flu no início deste ano alegando cansaço, necessidade de tempo de reciclagem, e medo de ter a imagem queimada no Rio, após as saídas do Fla e do Vasco.  Logo depois assumiu o Botafogo! E mais: quais os triunfos relevantes de Zé Ricardo no futebol? Campeão da Copinha com os Molambos? Peralá! Então contratem o Micale, que foi campeão olímpico em 2016, pela Seleção, aqui no Brasil!

Ah, ele ganhou um Carioquinha e chegou a outras duas finais do torneio estadual do Rio… Tá bom! Perdoem-me a franqueza, isso é conformismo barato, a meu ver. Os últimos trabalhos do Zé Ricardo desmontam até mesmo monografias que mereçam nota 10!

Barbieri? Putz! Demitido de Goiás e América-MG recentemente. Não sou afeito a pré-julgamentos, mas o simpático Maurício não tem alcunha para assumir um clube em constante ebulição, como o nosso! E também não tem currículo.

Jair Ventura ou Lisca? Apostas das mais ousadas, no meu entendimento. Ventura fez um único bom trabalho, num encaixado Botafogo, que foi montado e ajustado por Ricardo Gomes, antes de se afastar do cargo por problemas de saúde. Maneiro, ainda foi à final da Copa do Brasil, pelo Corínthians, mas já pegou um time bem arrumadinho pelo técnico anterior.

Lisca Doido somente deu o ar da graça no Nordeste – e um pouquinho no Inter, quando o Colorado tombou para a Segundona… e quase conseguiu o milagre do livramento gaúcho! Outra: será que ele tem escopo para encabeçar um projeto do Corpo de Bombeiros num time grande da Região Sudeste? Lembro-me de Drubsky e Cristóvão, “nas mãos” de Jean, Fred, Conca, Gum, Édson, Sóbis… Manjam aquela tartaruga em cima de uma palmeira real de 30 metros? Pois é, ela subiu sozinha ou colocaram-na no topo?

Como eu afirmei acima, são apostas! Quem sabe não vingassem? Difícil prever, mas a tendência era a de que maculassem a história do clube e mesmo as suas próprias trajetórias.

Talvez o melhor indicado hoje para assumir definitivamente a nossa cátedra seja o Marcão. Bom ex-jogador, ídolo do Fluminense, torcedor roxo, identificado com as nossas cores, funcionário do clube pela segunda vez – como membro da Comissão Técnica, treinador interino em outras oportunidades, agregador e motivador, conhece bem a instituição e Xerém… Sim, mas estas prerrogativas não são suficientes para guindá-lo a técnico principal até o fim de 2019.

Em contrapartida, o Marcão passou mais de dois anos estudando idiomas e especializando-se lá fora. Tem o diploma máximo da FIFA em curso de treinadores – realizado na Europa. Fez estágio no PSG e em mais uma ou duas agremiações de renome do Velho Continente. Poucos lembram, mas ele foi auxiliar-técnico do Bangu, que ficou na terceira colocação geral do Cariocão 2019, terminando à frente do Fluminense e classificando o simpático clube da Zona Oeste para competições nacionais. Estas, sim, são prerrogativas relevantes!

Ademais, encarou o desafio de assumir o nosso time num instante delicadíssimo, depois da demissão do Fernando Diniz, a dois dias do primeiro confronto diante do Corinthians, pela Sula… E se houve bem. Em suma, o cara, ante o caos ininterrupto no Laranjal, merece créditos!

No primeiro desafio de Marcão como treinador interino, deu Fluminense sobre o forte e bem ajustado Grêmio – que atuou com reservas mas manteve-se competente. Dois a um pra gente!

Portanto, nada mais justo e honesto, pelo contexto, desde a mudança de gestão, dispensas de treinadores, falta de grana, saída de atletas que estavam encaixados no elenco, atrasos salariais, até o momento político (mais uma vez) conturbado nas Laranjeiras, que ele assuma o posto. É o técnico dos meus sonhos? Não! Mas, pelo conjunto da obra, combina com a verdade – e é o que temos pro jantar!

E não comeremos no chão, como uma meia-dúzia tende a acreditar, e sim numa mesa disposta de forma simples, sem luxos, mas recheada de tricoloridade! Talvez estas virtudes nos motivem a termos mais fé na competência – até então questionada – do senhor Marco Aurélio de Oliveira, vulgo Marcão. É disso que desesperada e imediatamente precisamos!

Até a próxima.

Saudações eternamente tricolores!

Ricardo Timon