Contra fatos não há argumentos




Buenas, tricolada! A gente não pode bater de frente contra as evidências. Não tem jeito! Quando as sequências e consequências nos arrebatam, é melhor calarmos a boca – ou fazer uso do velho e surrado “eu avisei” – este é o meu caso, sem a mínima modéstia!

É isso, contra os fatos não há argumentos plausíveis que mantenham as opiniões intocadas. É prerrogativa do senso comum e da humildade que façamos introspecções profundas e demos o braço a torcer. Acho até que faz bem à nossa alma.

Pois é, três fatos debatidos em larga escala ultimamente decerto fizeram alguns tricolores reverem conceitos. Ao menos eu creio que eles devam ter se travestido de vidraças, deixando de lado a pomposa e confortável condição de pedra, e esmurrado o próprio peito para fazer uma pouco contumaz mea-culpa. Um tipo de autoflagelo mais do que necessário, né não?

Vamos a eles. Em primeira instância, muito provavelmente o Marcão tenha definitivamente calado as vozes críticas que acompanharam a sua efetivação para o comando tricolor. Como eu mesmo preguei em coluna anterior, não enxergo no nosso ex-ídolo (no campo) o treinador dos sonhos, mas diante da oferta e do mercado, ele seria mesmo o mais indicado a assumir o trono no Flu. Não sei até quando, mas…

Talvez, hoje, aqueles poucos incautos que defendiam a tese de que o nosso atual técnico serviria apenas como porteiro do clube, por não ter a capacidade reflexiva e de comunicação que a sociedade imatura e, quem sabe, preconceituosa impõe, tenham sonos mais conturbados. E vivenciem inúmeros pesadelos – quase reais!

Como duvidar de um camarada que conquistou dez pontos em doze possíveis? Como não acreditar num malandro que, aquiescido pelo grupo de jogadores e pela torcida, redirecionou um combalido e desmotivado elenco? Ele conseguiu trazer ao clube do seu coração, na difícil missão de resgate – à beira do gramado, um mínimo conforto, afastando-o temporariamente da odiada zona do rebaixamento! Até o Míster Magoo veria claramente tais verdades – sem a ajuda de seu sobrinho Ualdo!

Em segundo lugar, o vestígio definido de que os nossos dois meias mais talentosos não podem atuar lado a lado tenha se apresentado de maneira explícita nesse confronto contra o bem treinado Bahia. Sim, porque o PH Ganso não esteve nas quatro linhas, suspenso. E fomos somente de Nenê.

É inequívoco: Ganso e Nenê juntos desmontam o equilíbrio de que o Fluminense prescinde neste momento de afirmação no Campeonato Brasileiro de 2019!

A equipe fluiu, com desembaraço, na maior parte da peleja. Ofensivamente, é bem viável que tenhamos assistido à melhor apresentação do nosso time, depois da saída do Diniz. Ops! Falo apenas em performance, e não em resultados, OK?

Em terceiro e último, como é bom a gente se desdizer em público, e me incluo neste rol de afoitos e precipitados opinadores.

O Daniel tem repetido sistematicamente, desde a “chegada” do Marcão, algumas participações fundamentais pro time! Ele dinamiza a meiúca, distribui o jogo com maestria, clareia as jogadas, mete bolas improváveis, acerta quase todos os passes difíceis, recompõe a nossa cozinha, ocupando espaços, e com simplicidade caiu nas graças da galera. É craque? Não! Mas, atualmente, tê-lo no onze titular é um alívio – e uma obrigação!

Senhores Mário Bittencourt, Celso Barros, Paulo Angione, Jota Cristo e Papai Noel, gentilmente nos concedam a honra de renovar o contrato do moleque de imediato. Na merda política, institucional e financeira em que nos encontramos, o garoto é indispensável! E não acharemos um outro Daniel tão facilmente assim no futebol tupiniquim!

Sobre Flu e Bahia, nesta noite de sabadão de praia, no Maraca, com praticamente 20 mil cabeças presentes, pela vigésima-quinta rodada do Brasileirão, vimos um primeiro tempo tricolor bastante alentador.

Na frente, ante a zaga nordestina, fizemos um bom papel. Atacamos, criamos, tentamos, incomodamos, triangulamos, e fizemos dois gols. Muito legal a gente ver o Flu abrir dois a zero num adversário chato, arrumadinho, e que briga na parte de cima da tabela.

Lá atrás foram outros quinhentos! Os caras perderam gol incrível, no comecinho do duelo, por intermédio do amigo Élber! Inacreditável Futebol Clube nele!

Depois desse início avassalador dos baianos, o Fluminense arrumou a casa, equilibrou as ações, e o Yony recebeu falta dentro da área. Pênalti bem marcado e convertido pelo Nenê!

Os soteropolitanos mantiveram-se propondo o jogo, atacando, mas o Fluzão tinha um bom contra-ataque. Numa dessas estocadas, depois de mais um jogadaça do Daniel, que achou o Wellington Nem solitário pela direita, o Jotapê acertou o travessão e, no rebote, esse mesmo Daniel fulminou de cabeça a meta do bom Douglas Friedrich. Putz! Dois a zero mesmo? Sai, zica!

O confronto manteve-se lá e cá, mas o Flu soube administrar a vantagem até o intervalo.

No segundo tempo, o Roger Machado arriscou tudo: fez duas alterações, colocou o seu time pra frente e vimos o Tricolor Guerreiro meio perdido, sem ação – e reação… Pior, inacreditavelmente, cedemos vários contra-ataques, mesmo com dois a zero a favor!

Mas os deuses vestiram a armadura verde, branca e grená. Mantivemos o placar e somamos mais três pontinhos à nossa matemática. Quem diria!

Irretocáveis, a meu ver, Muriel – como sempre. Nino – vem segurando a pemba lá na cozinha. Nenê – no primeiro tempo, pois na segunda etapa morreu. Wellington Nem – finalmente, e mesmo tendo desperdiçado alguns ataques de bobeira! E Daniel – o craque do jogo.

Menções honrosas a Frazan – que substituiu muito bem o Digão (no começo). Orinho (defensivamente) – no segundo tempo. Aírton – enquanto as suas pernas pesadas suportaram o tranco, e olhem que ele está visivelmente mais fino! E Speed Gonzales, que é um azougue lá na frente, ainda que lembre um polvo, cheio de pernas, eventualmente.

Dois jogadores merecem uns poucos senões, sob a minha ótica: Gilberto e Jotapê.

O primeiro está fazendo esforços sobre-humanos para repetir as boas atuações. Ele corre, se dedica, é participativo, mas o seu semblante reflete fidedignamente o momento. Está muito mal tecnicamente, na defensa e no ataque, mas o cara se desdobra. Parece sentir dores ao tentar as jogadas mais simples. Uma pena! Ademais, ele marcou um golaço! Ou passaremos uma borracha no lance em que salvou um gol baiano em cima da linha, com o Muriel batido?

O segundo, igualmente vive um instante delicado. É viável que o povo esteja impaciente pelas suas incursões noturnas, acompanhado de artistinha global etc. Mas não devemos nos esquecer de alguns pormenores.

Ele é um menino. Está correndo muito, mas a bola arde-lhe nos pés – má fase é fogo! Convive com jejum de gols que incomodaria até mesmo os mais experientes centroavantes. Está levando um azar da porra – sua bola no travessão do Bahia, no gol do Daniel, talvez representasse o início de sua redenção. Ele está vendido pra Europa, de fato, e esse tipo de oportunidade mexeria até com as cabeças de Gandhi e de Madre Teresa, aos 18 anos. Em suma, creio que as vaias da rapaziada sejam injustas. Melhor o Marcão poupá-lo, quem sabe dando chances ao Evanílson ou ao Lucão (afff…)!

Portanto, pra finalizar o enredo, temos que curtir o momento do Flu. Há tempos não sorríamos, depois dos jogos. Como também, há rodadas – e temporadas – não comemorávamos uma invencibilidade de quatro jogos – sendo três vitórias e um empate, fora de casa. E há séculos não somos tão apaixonados pelas três cores que traduzem tradição como agora. O bom ciclo do time se reflete nas arquibancadas!

Vem aí o Furacão, aqui mesmo no Maracanã, na próxima quinta-feira! Parada duríssima! Os paranaenses são osso duro de roer. Prognóstico difícil. Podemos perder? Sim! Mas um resultado adverso não mudará as minhas convicções! Ademais, a fé e a confiança devem ser os nossos mais fiéis instrumentos! Vamos ao estádio, cambada!

Somos o Fluminense Football Club! Verdade, nada de protagonismo – ainda, mas já começamos a mostrar uma máxima: com um gigante, outrora adormecido, não se brinca!

Saudações eternamente tricolores!

Ricardo Timon