Cristóvão completa 50 jogos sem inspirar muita confiança




Amigos Tricolores,

Venho aqui falar de nosso treinador. Domingo passado ele atingiu uma importante marca: completou 50 jogos no comando do nosso time.

Cinquenta jogos, com 24 vitórias, 10 empates e 16 derrotas. Com 89 gols a favor e 63 contra, e um percentual de aproveitamento de 54,67%, em um placar médio de Fluminense 1,78 x 1,26 Adversário, nos jogos em que dirigiu.

Uma retrospectiva apenas razoável, o que o faz jamais ser uma unanimidade. Ao contrário, há muito tempo Cristóvão vive na corda bamba. Matar um leão por dia para provar sua competência tem sido sempre sua difícil tarefa.

Lembro-me de minha crônica de estreia aqui no Explosão Tricolor, em 30 de abril passado, quando ainda éramos somente uma página no facebook. E eu, convidado pelo amigo Bruno Leonardo e aceito pelo Vinicius Toledo, procurei um assunto que não marcasse minha estreia com polêmica. Então pensei: nada de Xerém, um tema que realmente gosto bastante, mas que gera logo controvérsias. Então escolhi Cristóvão Borges, que na época tinha apenas 4 jogos pelo Fluminense, e vinha fazendo um trabalho bastante convincente. Somava 4 vitórias, com 12 gols pró e nenhum contra, em jogos contra Horizonte (5 x 0), Figueirense (3 x 0), Tupi (3 x 0) e Palmeiras (1 x 0), os dois últimos fora de casa.

Me lembro até do título de minha postagem, que parece até de samba-enredo de Escola de Samba: “Do rachão ao padrão: sai um bando, volta o Fluzão!” Uma estreia que me rendeu 1.896 pessoas alcançadas, 74 curtidas, 21 comentários e 23 compartilhamentos! (Hahaha,  pensam que sou um estatístico apenas para números do Fluzão?)

Pudera, dirão alguns. Depois de alguns meses de um padrão tático zero, com o ultrapassado treinador de “rachões”, Renato Gaúcho, da linha de preleção apenas motivadora, o tradicional “vamos que vamos”, qualquer padrão mínimo de organização de jogo só pode ser para melhorar.

Aliás, parêntesis: nos livramos dessas imposições arcaicas e teimosas de Celso Barros, que, por botar dinheiro no clube, achava que podia cismar de dar pitacos. Amigo meu diz que se o Celso Barros entendesse minimamente de futebol o Fluminense teria ganhado muito mais títulos. E o Renato Gaúcho era uma de suas cismas.

Cristóvão ia bem, implementou sua filosofia de ocupação inteligente de espaços, toque de bola, aproximação, futebol solidário. E a coisa até que deu uma engrenada. Afinal, jogadores de qualidade nós tínhamos, faltava justamente organizá-los em campo, dar-lhes objetividade, motivação, padrão de jogo.

E assim foi Cristóvão, que começou com uma molezinha para conquistar a galera: o jogo da volta contra o deprimente time do Horizonte, fraquíssimo, mas que entretanto nos impingiu uma vergonhosa derrota no Ceará, sob o comando ainda de Renato Gaúcho.

Cinco a zero, massacre tricolor, resultado revertido, classificação obtida com facilidade, bom cartão de visitas do Cristóvão.

Daí em diante uma boa sequência de vitórias, até tropeçar justo contra o Vitória. Perdemos por 2 x 1, no nosso melhor público no Maraca no ano passado (44.975 pagantes), pois havia a motivação da torcida, com a possibilidade do Flu assumir de forma isolada a liderança. Aquilo foi uma aviso de uma tônica que prevaleceria no resto do ano: por várias vezes o time tropeçou justo quando ia assumir uma liderança, ou uma vaga no G4, ou ainda conquistar uma fase seguinte de competição (Copa do Brasil ou Sul-americana).

Altos e baixos, irregularidade, momentos de equilíbrio mesclados com desandadas ao longo da temporada. Além da já mencionada sequência de estreia, com quatro vitórias, a marca foi repetida outras duas vezes, contra Santos (1 x 0, em casa), Atlético-PR (3 x 0, fora), Goiás (2 x 0, em casa) e América-RN (3 x 0, fora), até justamente empatar em casa com o Coritiba (1 x 1), um time do Z4, num dia em que novamente houve uma grande desilusão da torcida, com um incrível erro do treinador (citarei adiante). A sequência de vitórias foi novamente igualada mais ao fim do ano, com Criciúma (4 x 2, em casa), Santos (1 x 0, fora), Atlético-PR (2 x 1, em casa) e Goiás (2 x 0, fora). Sequência novamente interrompida contra o Coritiba (0 x 1, fora), em nova decepção, na hora em que a equipe se consolidaria no G4.

Como grandes lambanças, como esquecer o incrível erro da contagem de substituições, contra o Coritiba, pois, com o Fred no banco, e com a certeza de que ele entraria no segundo tempo, só foi chamá-lo quando já fizera as três trocas e sofreu o gol de empate. Ficou então sem opções no campo para tentar a vitória. A justificativa injustificável: esqueceu que trocara o Gum no primeiro tempo, por fratura na perna. É mais ou menos como um mecânico trocar o pneu de um carro e esquecer de aparafusar a roda.

Outra passagem lamentável: no jogo da volta contra o América-RN, talvez por no fundo já achar a vaga nas oitavas da Copa do Brasil garantida, com a vitória fora de casa por 3 x 0, escalou um time todo mal paginado, liberou a concentração do time, deu chance ao deprimente Fabricio como titular, e, após ganhar o primeiro tempo por 2 x 1, permitiu a virada do adversário por 5 x 2, numa das maiores vergonhas do Fluminense no Maracanã.

Uma inexplicável eliminação, logo seguida por outra: perdemos a vaga da segunda fase da Sul-americana, para o Goiás, quando o time ganhou o primeiro jogo em casa por 2 x 1 e recusou-se a jogar na volta, retrancando-se e submetendo-se à pressão do fraco time do Goiás, perdendo por 1 x 0.

Outro inexplicável desarranjo: quando lutávamos com as últimas forças pela cobiçada vaga da Libertadores, ainda com boas chances, uma derrota por 4 x 1 para o limitado time da Chapecoense, em pleno Maracanã, quando o time levou o primeiro gol e não teve poder de reação, partindo sem organização para cima e chegando a estar perdendo por 4 x 0! Ali acabou o ano!

Portanto, amigos tricolores, altos e baixos, mas infelizmente os piores reveses vieram sempre em momentos estratégicos, e o Flu, com Cristóvão Borges, em nenhum momento conseguiu algum feito importante, como uma chegada pelo menos convincente na Copa do Brasil, Sula ou no Brasileirão.

A seu favor, talvez, o fato de ter trabalhado num momento difícil do Fluminense, com a instabilidade decorrente da possível desmotivação do time já no ano passado, com o fantasma da saída da Unimed assombrando cada vez mais forte a cada dia, crises entre Peter e Celso Barros, salários começando a atrasar, penhoras assustando.

E ele ali, firme, com aquele jeito frio e educado de dar entrevista, driblando todas as cascas de banana jogadas pelos repórteres nas entrevistas coletivas, e jogo de cintura para enfrentar situações de crise e desmotivação do time. Errou, a meu ver, ao insistir com Carlinhos, que já anunciara aos quatro cantos que não iria ficar, e jogou sem o menor compromisso, chegando ao ponto de se despedir dos companheiros na preleção do penúltimo jogo. Ou seja, já sabia que forçaria o terceiro cartão estrategicamente, para antecipar férias. E assim o fez.

Jogo de cintura na verdade Cristóvão já provou que tem de sobra, desde 1979, quando, no mano a mano com Manguito, deu uma entortada no zagueiro e fuzilou para marcar o terceiro da goleada de 3 x 0 contra o time da Gávea.

Uma crítica recorrente é a de que não sabe mexer no time. Efetivamente mostra-se muito pouco eficaz no momento em que tem a chance de tentar mudar algo no jogo com perspicácia e coragem. Tem um sério problema de leitura de jogo, de felling durante os 90 minutos. Até arma bem o time, mas muitas vezes substituiu mal, trocou seis por meia dúzia, ou até afundou o time com uma única mexida, como a emblemática tirada de Conca contra o Bahia, quando o time ganhava por 1 x 0 e era todo pressão para fazer o segundo e matar o jogo, e ali, em seu momento “treineiro”, tirou o craque, que por sinal saiu até assustado de campo, e colocou um volante, no caso o Edson, para segurar um resultado, aos 21 do segundo tempo. Resultado? Ora, previsível:  dando campo para o fraco adversário e recuando, o time sofreu o gol de empate aos 37 do tempo final.

Foram muitas as vezes em que supostamente estaria “prestigiado”, balançando no cargo, mas Cristóvão superou todos os momentos ruins e, talvez por falta de opções no mercado, foi ficando até o fim do ano.

Neste ano, com o contrato renovado, Cristóvão enfrenta um grande desafio: remontar um time, dar padrão tático a uma nova equipe, e, o mais difícil, fazer as escolhas certas para a titularidade, ter a sensibilidade de saber exatamente se um determinado jogador já deu tudo o que pode e não tem condições de ser titular, ou se ainda não atingiu o ápice de seu potencial e pode ter mais chances.

Até para a torcida fica difícil criticar e dar pitaco neste momento. Quem seria capaz de gritar “Hei, Cristóvão, tira o Giovanni e coloca o Guilherme Santos”, por exemplo? Para todos nós, por enquanto, todos são japoneses. Eles e outros seis recém-contratados, além dos jovens da base que estão pedindo passagem.

E que ele nos surpreenda em 2015 e mostre agora o que muitos desconfiam: que ele pode montar, sim, um grande time, extrair o melhor do grupo que tem, fazendo as escolhas certas, lançando jovens no momento certo e crescendo na competição, reinventando um padrão tático sem o Conca e outros que saíram, treinando novas jogadas. Até que para isso esse deprimente Caixãozinho Carioca é propício.

Vamos lá, Cristóvão Borges. Parabéns pelos 50 jogos, mas que venham muitos mais, desde que com títulos e grandes vitórias!

Porque O IMPORTANTE É O SEGUINTE: SÓ DÁ NENSE!!!

Por PAULONENSE

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Cristóvão Borges: matar um leão por dia tem sido sua dura tarefa.