Dois minutos reveladores




Retomando a coluna, após um período de foco total em outros projetos, confesso que fica difícil selecionar o melhor tema. Declarações de Diogo Bueno colando Mário Bittencourt, Celso Barros e Ricardo Tenório em Pedro Abad e na Flusócio; safra de ouro do sub 17 sendo contaminada pelo espírito derrotado da atual gestão; Flusócio saindo da futura gestão do clube; processo de impeachment que não deu em nada… enfim, é muito assunto!
Mas conversando com Vinicius Toledo e vendo a entrevista de Pedro Abad logo após o engodo do impeachment, ficou fácil escolher um tema: a incompetência do presidente desde a época em que era o mandatário do Conselho Fiscal do clube. A matéria completa está no site do Explosão Tricolor.
Em um determinado momento da entrevista, Vinicius Toledo lhe questionou sobre a dívida que ele disse ter assumido no clube sem que dela tivesse conhecimento, mesmo sendo presidente do Conselho Fiscal na gestão Peter Siemsen. De maneira surpreendente, o atual mandatário do clube disse que Peter assinou vários documentos sem passar sequer contabilidade e, dando a entender que isso é normal, arrematou: “é assim que as coisas funcionam”. Declarou também que cabe ao Conselho Fiscal analisar os documentos que recebe, não tendo conhecimento daquilo que não passa por suas mãos.
Vamos por partes! Em primeiro lugar deve ficar claro que o Estatuto coloca o Conselho Fiscal como um dos poderes do clube, ao lado da Assembleia Geral, do Conselho Deliberativo e do Conselho Diretor (de onde sai o presidente do Fluminense). Portanto, é claro que o órgão tem todos os poderes para requisitar documentos e verificar as condições financeiras e o cumprimento orçamentário.
Além disso, o próprio Estatuto dispõe sobre as competências do Conselho Fiscal e, dentre elas, estão as de “examinar mensalmente o Balancete Orçamentário, o movimento e os comprovantes de Tesouraria, assim como os livros e documentos contábeis” e “dar conhecimento ao Conselho Deliberativo de erros administrativos, irregularidades na contabilidade e qualquer violação do Estatuto ou da Lei, sugerindo as medidas a serem tomadas”. Em resumo, a função do Conselho Fiscal é ativa e não passiva, como quis fazer crer Pedro Abad na entrevista do último dia 20.
E digo isso porque, quando o Estatuto estabelece que compete ao Conselho Fiscal examinar “o movimento e os comprovantes de tesouraria” quer dizer que o órgão é responsável pela fiscalização completa do clube, em especial as questões financeiras. Ou seja, é obrigação dele fiscalizar as contas do clube, INDEPENDENTEMENTE se o presidente manda as informações ou não.
O pior: quando Abad disse que “é normal” que alguns documentos não passem pela contabilidade, ele mostra profundo desconhecimento dos processos contábeis e do Estatuto do clube que administra, o que surpreende pelo fato de ser funcionário de carreira da Receita Federal, o que lhe obriga a ter familiaridade com a legislação contábil.
E aqui está a prova do seu desconhecimento. Na parte em que dispõe sobre a administração financeira do Fluminense, o artigo 131 do Estatuto elenca uma série de obrigações, estando, dentre elas, as seguintes: I) a exigência de que o clube respeite a legislação quando o assunto é gasto de uma associação, OBRIGANDO que todos os gastos passem pelo setor contábil do clube, até para facilitar a fiscalização interna e externa; II) a obrigação de que TODAS as despesas do clube sejam realizadas mediante comprovação, cujos documentos devem ser arquivados e disponíveis à fiscalização; e III) a obrigação de uma auditoria externa para analisar TODOS os procedimentos contábeis anuais, com a supervisão, adivinhem, do Conselho Fiscal.  
Ou seja, em pouco mais de dois minutos de resposta, Pedro Abad mostrou que sua omissão é perniciosa ao clube desde os tempos de presidente do Conselho Fiscal, já que sequer sabia as exigências legais e estatutárias do seu cargo. Mas também demonstrou que é despreparado até para conceder entrevista.
Como se fosse uma caricatura de si mesmo, ele interrompeu a pergunta do Explosão Tricolor para dizer que o assunto é “requentado” e que ele já o respondeu em “diversas oportunidades”. Se essa afirmação for verdade, só prova que as respostas anteriores não foram muito bem digeridas e nem adequadas, já que há diversas dúvidas ainda não solucionadas.
E fica aqui a minha exigência enquanto torcedor tricolor, amparado que estou pela Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, que exige transparência inclusive para a torcida: Pedro Abad, venha a público e mostre quais são as despesas que não passaram pela contabilidade. Explique cada uma delas e diga o motivo pelo qual você, quando estava na presidência do Conselho Fiscal, não teve a proatividade necessária para correr atrás dos comprovantes ilegalmente emitidos.
Outro ponto que assusta é o silêncio de Peter Siemsen. O atual mandatário tricolor no mínimo o chamou de imprudente e levantou várias dúvidas sobre a sua conduta (de Peter) enquanto presidente do clube. E ele não fala nada, sequer emite uma nota, que é a única forma como os “flusócios” sabem se posicionar. Conivência? Conluio? Não sei. O que sei é que o silêncio de Peter não é normal, até em virtude do necessário contraponto aos ataques de Abad.
E, diante dessa grave crise de gestão e completa falta de capacidade para assumir o clube, nós, os verdadeiros tricolores, seremos obrigados a um 2019 sem muita expectativa, sonhando com o dia em que alguém abra a caixa preta do clube das finanças e exponha todas as suas vísceras. Só assim, passando a limpo o passado e começando do zero, teremos um Fluminense forte novamente.
Ser Fluminense acima de tudo!
Evandro Ventura