E como andam as coisas em Xerém?




Sempre tive receio de trabalhar com textos prospectivos, do tipo “o que esperar para 2018”, “qual futuro está reservado para o Fluminense”, dentre outras questões. Duas são as razões do temor: a primeira delas é que os desejos de cada torcedor são óbvios, já que todos querem títulos; a segunda, e talvez mais técnica, reside no fato de que é impossível sonhar com algo bom no futuro sem analisar o passado. E isso dá trabalho!

Mas como o “Explosão Tricolor” não teme polêmicas, vamos começar a desenhar o futuro a partir dos erros e acertos dos últimos anos (muito mais erros que acertos, obviamente). E, em especial nesta coluna, gostaria de tratar de um tema que é a menina dos olhos de todo tricolor, mas que, há algum tempo, tem mostrado falhas que merecem uma reflexão mais profunda: os moleques de Xerém.

Sim meu amigo, assim como você eu também sinto orgulho da nossa base e sei que há muito tempo ela é elogiada por sua suposta excelência na revelação de atletas. Mas, como o time profissional está aproveitando a nossa categoria de base? Ela tem sido produtiva como apregoam aos quatro cantos ou o marketing é maior que o produto final?

Essas e outras questões são debatidas de forma muito bem embasada no blog do Gustavo Albuquerque no site globoesporte.com. Ele encaminhou alguns questionamentos à diretoria e, em uma das repostas, os nossos dirigentes tiveram a coragem de dizer que o trabalho feito na Baixada tem gerado grandes frutos para o futebol profissional, inclusive afirmando que tais resultados são “nítidos”.

Assim como o referido colunista, a crítica é inevitável: em qual mundo esses caras vivem que visualizaram “resultados satisfatórios” na transição da base para o time de cima? Nos últimos dois anos temos vivido praticamente dos moleques de Xerém e não obtivemos nenhum resultados expressivo, a não ser a permanência da Série A do Brasileirão. É sério, temos que comemorar isso.

Alguns irão dizer que não se pode depositar toda responsabilidade nos jogadores que acabaram de sair da base. Concordo plenamente. O problema aqui é muito mais grave. A diretoria vende a ilusão de que o trabalho em Xerém é bem feito quando, na verdade, os resultados obtidos são muito ruins. Ora, ou o serviço é bem feito e rende dividendos ao time ou algo precisa ser corrigido.

A todo momento a diretoria quer passar a ideia de que Xerém não tem obrigação de vencer os campeonatos infantis, juvenis ou juniores. O objetivo, na verdade, deve ser suprir o futebol profissional com jogadores que possam fazer a diferença. Inclusive, na resposta ao site globoesporte.com, a diretoria cita o Barcelona como paradigma para as práticas adotadas pelo clube.

Aqui a contradição fica ainda mais evidente. Não é possível ter um time profissional vencedor com jogadores que são perdedores nas categorias que jogam. Se o título não deve ser a meta, perder também não pode ser e o que temos visto durante anos são campanhas pífias nos campeonatos nacionais das categorias, especialmente a sub-20, último degrau antes de se atingir o profissionalismo.

Mesmo quando o time foi campeão, como ocorreu no campeonato brasileiro sub-20 de 2015, o aproveitamento daqueles atletas não foi satisfatório. Jogadores como Léo Pelé, Nogueira, Pedro, dentre outros, tiveram chances e não corresponderam. Talvez o volante Douglas seja o único que tenha mantido um bom nível de jogo. E aí fica a pergunta: se o negócio da base é fortalecer o profissional, por que isso não tá acontecendo?

Parece que Xerém é um daqueles tabus que ninguém quer se meter. Criou-se a imagem de uma das melhores categorias de base do país mas, em campo, o que se vê é um futebol decadente, poucos títulos de expressão nacional e uma transição para o profissional totalmente deficitária que joga nas costas do moleque a responsabilidade de carregar o time nas costas.  

E mais: a venda dos nossos futuros craques nem sempre é lucrativa, já que o jogador, quando chega a ser profissional, já está totalmente fatiado com empresários e o clube leva apenas uma parte da grana. Vendem barato e pegam, quando muito, metade do valor. Quem não se lembra da ida de Thiago Silva para o Milan em 2008 quando o Flu recebeu a irrisória quantia de R$203 mil?

Diante de tudo isso, e do absurdo de querer se comparar à La Masia onde o Barcelona forma seus craques (Messi, Iniesta e cia) ficam algumas sugestões para nossos managers:

  1. aprimorem a transição por meio de gente que entenda de time profissional e de categoria de base. Essa tarefa não pode ficar nas mãos de Marcelo Teixeira e outros que estão há anos no clube e ainda não encontraram o equilíbrio nesta função;
  1. criem uma mentalidade vencedora na base e isso vai se repetir no profissional. Não dá pra criar jogadores para o time de cima se eles não possuem confiança desde garotos. A badalada base tricolor, quando entra em campo, parece tremer para os demais grandes times do cenário nacional. Trabalhar a positividade é fundamental para criar gerações vencedoras;
  1. Como criar atletas e conceito de jogo se os meninos não são estimulados a vencer desde pequeno. Esse discurso de que a base deve servir ao time profissional é bonito, mas totalmente contraditório. Ou o atleta é vencedor em Xerém e também o será no CT Pedro Antônio ou ele é perdedor lá e cá. É impossível o cara se acostumar com vitórias se isso não é estimulado enquanto ainda é novo. Não há como gerar vencedores neste cenário de derrotismo; e
  1. não depositem nos atletas de Xerém a responsabilidade pelos fracassos em campo. Não dá pra ter um time com sete, oito, nove atletas recém-promovidos ao time titular. Eles precisam de jogadores experientes do lado, que possam chamar o jogo pra si quando as dificuldades aparecerem. Uma coisa é jogar para os familiares assistirem; outra bem diferente é jogar para 30, 40, 50 mil pessoas no estádio. A pressão é forte e os atletas mais rodados possuem melhores condições de absorverem o impacto. E nisso o Fluminense errou feio em 2017.

Enfim, a crítica não vai aos atletas da base, mas à sua formação. E que a diretoria responda à altura todos os questionamentos lançados, porque o Fluminense depende muito de Xerém para garantir o futuro do clube enquanto time de futebol.

Ser Fluminense acima de tudo!

Evandro Ventura 



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