Entrevista coletiva do técnico Mano Menezes após a vitória do Fluminense sobre o Palmeiras




Entrevista coletiva do técnico Mano Menezes após a vitória do Fluminense sobre o Palmeiras

Confira todas as perguntas e respostas da entrevista coletiva do técnico Mano Menezes após a vitória do Fluminense por 1 a 0 sobre o Palmeiras, pela última rodada do Campeonato Brasileiro:

Decisão de assumir o Fluminense na lanterna do Brasileirão

“Fui muito bem recebido. Muito bem recebido no Fluminense. As pessoas me ajudaram muito, a gente passava por essa ponte, que era longa, de um jeito de jogar completamente diferente para o jeito que eu armo as minhas equipes tradicionalmente, porque acredito que essa é a maneira que vejo o futebol. Mas essa ponte era longa, né? Então muitas vezes estivemos na metade do caminho, nem abandonamos integralmente a maneira anterior, nem conseguimos chegar na maneira que queria. E o meio do caminho é sempre o pior lugar. Nem se não faz bem aquilo que você fazia antes, nem faz também aquilo que é outra ideia. E internamente a gente teve muito apoio para fazer as coisas certas. E dá um trabalho danado para fazer as coisas certas no Brasil. Fazer as coisas corretas, exigir aquilo que a gente acredita que seja fundamental pra você construir um trabalho. Mas eu acredito mesmo assim que fazendo o certo sempre é mais provável que a gente atinja os objetivos.

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Era muito difícil. Eu, quando aceitei o convite, recebi umas 100 ligações dos meus amigos dizendo que eu estava louco. Mas o Fluminense me fez aceitar, realmente, pela qualidade do elenco que eu via e por tudo que eu acreditava que a gente podia fazer. Foi meio arriscado mesmo, mas os treinadores vivem de desafios, vivem de estar preparados. Alguns jogadores que subiram da base, que eu vejo muito talento, mas muito mesmo, e não é pouco não. E acho que nós podemos integrar esses jogadores rapidamente. A gente tem dois extremos no nosso grupo, são bem extremos mesmo. Até brinquei lá que a nossa média de idade é a maior mentira que tem, porque ela é composta por jogadores de 35 anos, 36, 38 e de 17 e 18. E você sabe que os jogadores que sustentam equipes competitivas são jogadores de 28, 26, que estão no auge da sua condição física e já estão com uma ótima capacidade de maturidade, de entendimento de vida, para que a equipe seja mesmo uma equipe equilibrada. Não me estendendo muito para não ir além do que a gente pensa, acho que é o que deve nortear.”

Permanência na Série A

“Acho que a equipe tá de parabéns, não por ter deixado pelo último jogo. Mas porque desde que aqui chegamos, tivemos 53% de aproveitamento. Pegamos a equipe com seis pontos, última na tabela, e fizemos um segundo turno entre os oito melhores, se eu não estiver enganado, muito próximo disso. Perdemos ponto pra caramba, mas tínhamos uma dívida grande para pagar. Por isso chegamos à última rodada nessa condição dramática. A equipe se comportou bem.

Eu disse na entrevista de abertura, e falei aos jogadores, porque nessa hora vem muita coisa negativa. Essas coisas são tão fortes que ficam parecendo que você é muito ruim. Nos últimos 11 jogos, temos duas derrotas. Não estávamos tão mal assim. Deixamos escapar algumas oportunidades em casa, precisava vencer para a situação ficar melhor. Não conseguimos, porque a reta final é dura para todo mundo. Mas a equipe conseguiu fazer essa vitória aqui pela primeira vez em um dia muito especial para a gente.”

Vai permanecer para 2025?

“Eu sempre procuro tratar essas coisas na hora certa, porque conheço o futebol. Não gosto de ficar em um lugar onde não queiram que eu fique. Não tratamos sobre o assunto. Fizemos um contrato prévio, quando eu assumi o Fluminense, que tinha algumas cláusulas. Mas mesmo com cláusulas, sou sempre muito aberto para sentarmos novamente e fazermos a coisa certa, como tem que ser. Vamos fazer isso nos próximos dias, nas próximas horas.”

Ganso no banco de reservas e estratégia para vencer o Palmeiras

“Certamente o Ganso não estava preparado ainda adequadamente para fazer o jogo intenso. Lesão lombar é muito chata e já não o colocamos no sintético lá contra o Athletico, e de novo era muito importante para a gente como equipe competir primeiro. Com Ganso não consigo fazer o tripé, pelo menos um tripé de verdade e com funções semelhantes. Às vezes você pode baixar um meia como o Ganso para ficar ali, mas ele não consegue fazer a função igual o outro médio. Tendo dois médios, Nonato e Lima, poderia fazer isso de forma mais equilibrada

É necessário que o médio faça ultrapassagens, chegue na frente às vezes pelo lado, entre o extremo e o centroavante. Com Lima e Nonato conseguimos fazer isso de forma equilibrada. O Ganso me dá outras coisas – geniais -, mas a equipe para essa ideia do que queríamos fazer aqui, ter Lima e Nonato era a melhor ideia. Mas tenho certeza absoluta que se não atingíssemos o objetivo o treinador seria o culpado, como sempre é no Brasil. Mas a gente precisa entender o que é a mecânica de uma equipe, o que é padrão, 4-3-3, 4-4-2 na hora de defender e passar para o torcedor o que é melhor para a gente não ouvir tanta bobagem.”

Alívio dos jogadores e necessidades do Fluminense para a próxima temporada

“Não vou fazer nenhuma projeção de futuro sem estar junto, acho que seria deselegante da minha parte, no mínimo. A sensação é de alívio quando você, tendo o time que o Fluminense tem, que conquistou o que conquistou em 2023, se depara com uma situação inusitada, inesperada, que causa muitas vezes perplexidade de tal forma que você fica meio paralisado. O futebol é um lugar onde isso acontece com mais velocidade, para lá e para cá. Quando a gente vence, a gente também vence em pequenos detalhes, às vezes. Um jogo que o adversário perdeu um gol quase feito. Só que nessa hora, e vocês (jornalistas) têm uma parte importante nisso, enxergam só a parte positiva. O resultado tem um peso muito grande na análise que se faz do que a gente construiu. Às vezes, quando a gente perde, a gente perde nos mesmos detalhes. Perdemos alguns jogos, e por isso chegamos na última rodada (precisando do resultado), que são quase inexplicáveis. Também perdemos nesses pequenos detalhes.



O futebol é muito duro por isso, porque exige tudo, uma preparação. Falei muito nas últimas rodadas sobre disciplina tática. Todo mundo fala sobre motivação, todo mundo agora fala sobre mental, sobre isso, sobre aquilo. Se o time não estiver disciplinado taticamente, ele não compete hoje no futebol brasileiro, não consegue. Acho que o campeão Botafogo é um bom exemplo disso, e parabenizo o clube e sua comissão técnica pelo título brasileiro. É um grande exemplo de disciplina tática que se joga no futebol hoje. A gente veio de uma ideia completamente diferente de jogo, e isso, quando a equipe vence, é mais difícil de desmanchar. Está na cabeça das pessoas, foi um trabalho de quase três anos (Diniz), vira quase uma seita. E tivemos que mexer nisso com seis pontos na tabela, uma pressão incrível, saída de jogadores importantes e chegada de novos que precisam se adaptar ao clube, ao país. Isso sempre é mais difícil.

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Perdemos André, Alexsander, o Marcelo durante a trajetória. Eram jogadores muito importantes na equipe. Chegaram Serna, Facundo (Bernal), Fuentes, que fez dois jogos extraordinários. Quando chegaram, todos tiveram que ser preparados para jogar no Fluminense, no futebol brasileiro, de três em três dias. Serna teve a lesão e atrasou, perdemos ele. Já tínhamos tido ele no nosso melhor momento, ele era uma das peças mais importantes do nosso equilíbrio tático, tive que mudar a ideia da equipe. Facundo (Bernal) iniciou bem, depois teve uma queda e tive que tirar. Se deixo, sucumbe e aí não serve, tudo é muito rápido, avaliações para lá e para cá.

Tivemos que jogar com dois volantes de segunda função, e por isso hoje a entrada de Nonato deu esse equilíbrio que a equipe precisava. Tivemos um terceiro jogador que torna isso mais equilibrado e não sobre carrega tanto Lima ou Martinelli. Vamos aprendendo com a equipe, conhecendo os jogadores, sentindo o que são capazes de produzir para tirarmos sempre o melhor pra equipe que é o que o treinador quer. É isso que a gente tem feito até aqui.”

Mudança de mentalidade

“Estilo de jogo, de sistema, é relativamente fácil você mudar. Os jogadores todos são muito completos, eles já passaram várias vezes na vida por situações como essa de mudar sistema, de mudar jeito de jogar. O que mais foi difícil foi fazer o grupo aceitar que nós realmente estávamos jogando para não ser rebaixado. Quando você não está preparado para isso, e no clube grande raramente você está preparado para isso, você acha que isso não é possível, não vai acontecer. Então, pode ver que a gente ainda oscilou, a gente fez uma série de vitórias e que nos tirou das cordas, depois a gente teve de novo uma pequena queda, e agora tivemos nos últimos nove pontos a gente fez sete pontos. Na hora do vamos ver, fizemos sete pontos.

Então é assim, né? Toda vez que relaxou um pouquinho teve dificuldade. Não dá pra relaxar. A gente não tinha poupança. Que nem eu falei pra eles, muita gente teve dificuldade no segundo turno do campeonato, mas tinha uma pequena economia guardada, que sustentou pra não estar aqui onde a gente sempre esteve muito próximo. E nós, como não tínhamos nada, até estávamos devendo. Quando nós oscilamos um pouquinho para baixo, a gente voltou para baixo. Então isso sempre criou uma pressão bastante grande na temporada.

Relação com medalhões do elenco tricolor

“Eu tenho como comportamento de lidar com meus jogadores de forma muito direta. Não mando recado, eu não mando dizer. Eu sento na frente do jogador e falo o que eu acho que devo falar. É a minha função. E não tem problema nenhum a gente discordar. Zero. Às vezes eu até gosto, e às vezes numa discordância surge algo importante pra gente resolver um problema da equipe. Mas ao mesmo tempo eu exijo da mesma forma, de lá pra cá, a postura do jogador. Tenho tido pouquíssimos problemas ao longo da minha carreira, pouquíssimos mesmo. Às vezes tem, porque a gente erra, às vezes você fala uma frase e o futebol é forte… Mas isso nunca foi problema para ninguém. Nunca, nunca, nunca. Então, isso norteou o trabalho.

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E a gente tentou fazer o certo, porque eu acredito muito nisso. Fazendo o certo, a chance de dar certo é muito maior. Era muito mais uma dificuldade que a gente estava atravessando. Então, quando eu tive que falar com o Felipe, falei com o Felipe. Tive que falar com o Thiago, falei com o Thiago. Tive que falar com o Renato, e já trabalhamos várias vezes. Ele já sabe que a maneira que a gente trabalha, foi simples. E tivemos pouquíssimos problemas. Pouquíssimos mesmo. Porque às vezes você acha que um caso resolve alguma coisa muito… Eu vou dizer para você o seguinte. Ninguém tira ninguém por causa de um episódio no futebol grande, nesse que a gente vive. A gente respeita todo mundo e sabe que eles também podem cometer. E que isso dá na mesma maneira com a gente. Se a gente decide por algo mais radical, é algo muito pensado, é algo muito considerado em tudo. E a gente acha que é intransferível a decisão. Porque a gente sempre está pensando no trabalho, no grupo, no Fluminense.”

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Por Explosão Tricolor

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