“Fascinante”; Site oficial da FIFA publica matéria sobre estilo de jogo do Fluminense de Fernando Diniz; leia a íntegra




Fernando Diniz (Foto: Lucas Merçon / Fluminense F.C.)



FIFA classificou como “fascinante” o estilo de jogo do Fluminense

Na noite deste domingo, véspera da estreia do Fluminense no Mundial de Clubes, o site oficial da FIFA publicou uma matéria sobre o estilo de jogo “fascinante” do time comandado por Fernando Diniz. A publicação traz uma entrevista com o técnico brasileiro Gustavo Leal, do Atlético de San Luis, do México, que tenta desvendar o futebol praticado pelo Tricolor das Laranjeiras. Leia a íntegra abaixo:

“Três pontos para entender o fascinante Fluminense de Fernando Diniz (FIFA.com)

Nas mesas redondas brasileiras, o debate já está datado. Foram anos e anos de debates acalorados sobre os times que Fernando Diniz mandava para campo. Alguns defensores ferrenhos, muitos críticos ferozes e uma dificuldade geral de compreender as ideias do técnico que levou o Fluminense ao título da Copa Libertadores da América e à Copa do Mundo de Clubes da FIFA 2023.

Agora, os espectadores presentes no estádio Rei Abdullah Sports City para a semifinal contra o Al Ahly e toda a audiência global poderão observar um jeito bastante heterodoxo – especialmente em contraponto ao que se pratica nas principais ligas europeias.

Para tentar explicar o que torna o Fluminense de Diniz uma experiência única no futebol moderno, o FIFA.com recorreu a um especialista: o emergente técnico brasileiro Gustavo Leal, que levou o Atlético San Luis à semifinal da liga mexicana em sua primeira temporada pelo clube.

Leal já passou períodos de estudo com Diniz e também fala na condição de um treinador que fez grandes trabalhos na base do Fluminense, contribuindo para a formação de atletas que hoje estão no Mundial de Clubes – em especial o talentoso e cobiçado volante André.

Com a palavra, então, Gustavo Leal nos elenca três pontos essenciais para entendermos o jogo idealizado por Diniz, para além da tática:

1) Desenvolver jogadores

“O Diniz é, sim, diferente taticamente. Ele pensa diferente, mas, para mim, o que mais diferencia o Diniz é o que ele consegue extrair dos jogadores dele. A gente tem muitos jogadores que chegam à mão dele, independentemente da idade, e vivem o melhor momento da sua carreira. É impressionante o que o Samuel Xavier joga com ele, o que o Nonato e o Luciano jogaram ele. Enfim, estou falando de três jogadores aqui, mas a gente pode falar vários outros. Então acho que a confiança que ele passa sabe o que ele consegue extrair dos caras, com correção e exigência, pra mim, dentro de qualquer ideia de jogo que ele tivesse, já ia ser um grande trabalho.

Então, para mim, o ponto de partida eu já gostaria de colocar assim, porque às vezes as pessoas falam muito só da ideia de jogo, do estilo de jogo, mas não fala da condução das pessoas, do manejo. E aí vem um Marcelo, do Real Madrid, que já passou por diversos treinadores e enaltece o trabalho do cara. E para mim, isso é mais do que o cara ser brilhante dentro da ideia de jogo dele, mas é o cara ser brilhante dentro de grupo da maneira como ele gere as pessoas.

É um cara que eu tenho uma amizade que eu já almocei, já tomei café, e aí é um que você entra na conversa com umas coisas na cabeça e sai com 280 outras coisas, sabe? E com várias reflexões e com vários questionamentos. É um cara que eu botei como meta bater um papo com pelo menos uma vez por ano com ele presencialmente, porque para mim corresponde a uma pós-graduação, talvez.”

2) O jogo aposicional

“Depois do Guardiola, cujos trabalhos em geral foram por uma linha mais posicional ou dentro de um jogo de mobilidade, ficou muito dentro dessas duas correntes. Mas, mesmo dentro do jogo de mobilidade, vemos a tendência de existir um certo equilíbrio de posições, onde o ponta esquerda ficava sempre pela esquerda, o ponta direita fica sempre pela ponta direita.”

“E o Diniz? Ele veio tumultuando isso tudo. As pessoas têm chamado de aposicional, mas não sei se ele se autointitula assim. Mas muitas vezes você vê o Marcelo lá na direita, o John Arias e o Keno por muitas vezes na mesma banda do campo, o Ganso às vezes indo lá atrás começar o jogo. Esse jogo aposicional dele chama atenção, é diferente, é difícil de marcar.”

“Quando ele coloca os jogadores na mesma faixa de campo – e aí eu estou tirando da minha cabeça, não é uma coisa que tenha escutado dele –, acredito que ele apoia o jogo na vantagem numérica. Acho que ele acredita que, por exemplo, se ele traz o ponta oposto para o mesmo lado do campo, o lateral oposto não vai acompanhar, então ali ele já gera uma vantagem. Se ele traz os meio-campistas dele todos para o mesmo lado do campo, ele vai acabar gerando uma vantagem numérica por ali. E vai fazer o jogo associativo aproveitando para conseguir progredir por dentro ou conseguir um bom cruzamento.”

“Outra coisa que ele faz é manter a maneira de pensar o jogo. Ele não pensa em função do adversário. Isso é uma coisa que também admiro. Ele joga o jogo dele, não quer saber se ele vai jogar contra o Palmeiras, que tem uma folha [salarial] mais pesada. Se alguém for se adaptar, que se adaptem os adversários, não ele. E aí temos um desdobramento: ele faz o mesmo jogo desde sempre, e aí, se eu for enfrentá-lo e tentar mudar meu time, será cinco dias antes do jogo. É vantajoso para ele, porque aí ele está jogando uma ideia de seis meses contra um comportamento de cinco dias.”

3) Autodidata

“E tem outra: o Diniz não tem muita onde buscar referência, então as coisas que ele construiu foi por tentativa e erro. Se não tivesse o erro, não ia ter o acerto. Ele não é um treinador que segue a linha do Guardiola, do Klopp, do De Zerbi. Então, quando as coisas apertaram para ele, não dava para fazer uma imersão ali no Campeonato Inglês para assistir aos jogos e ver como um time sai de determinado problema. Ele conversa com outros treinadores, mas não tem uma referência exata para o jogo dele. Na verdade, ele é referência para outros treinadores, então o trabalho dele é um trabalho muito artesanal e artístico, sabe?”

“É um cara com que tenho uma amizade. Você entra na conversa ele e tem umas coisas na cabeça. Depois sai com 280 outras coisas, com várias reflexões, vários questionamentos. É um cara que eu botei como meta bater um papo com pelo menos uma vez por ano com ele presencialmente, porque para mim corresponde a uma pós-graduação, talvez.”

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Por Explosão Tricolor

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