Magrão recusou convite milionário do Flu por causa de um grave problema de saúde




O volante Magrão (ex-Internacional) vive um verdadeiro drama. A jornalista Marluci Martins, do jornal Extra, fez uma excelente matéria sobre o assunto, onde o jogador contou alguns detalhes pessoais e uma história envolvendo o Fluminense. Confira abaixo:

“Há 16 dias, as lágrimas quase secaram o fôlego dele. Aos 36 anos, flagrado num teste antidoping realizado em fevereiro, o volante do Novo Hamburgo (RS) sentiu-se obrigado a revelar que em 2011 havia extraído um testículo após o diagnóstico de um tumor de menos de três milímetros. Passado o desabafo feito diante das câmeras, Magrão já consegue falar do câncer com esperança, naturalidade e equilíbrio. Considerando-se curado, ele vai matando no peito o desafio de provar que um medicamento utilizado para impedir a volta da doença derrubou-o no antidoping. Prejuízo maior à carreira foi quando o Fluminense ofereceu-lhe um salário de R$ 500 mil, dois meses após a cirurgia realizada há quatro anos. Magrão ganhava a metade disso, mas recusou o convite.

Está aliviado ou aborrecido por ter revelado publicamente que teve câncer?

Há um misto das duas coisas. Recebi muito carinho e percebi que muita gente gosta de mim não somente como jogador, mas também como pessoa. Ao mesmo tempo, é difícil ter que revelar uma coisa tão pessoal. Quero ficar um pouco no ostracismo, levar uma vida normal. Expus meus filhos no colégio. Sei que me tornei uma pessoa pública, mas não queria expor… Quando fiz a cirurgia, eu sabia que ia rolar uma comoção muito grande no Brasil, até por ter jogado pouco antes no Internacional.

Quanto filhos você tem?

São quatro. Mattheus, de 16; Eduarda, de 14; Pedro, de 11, e Marcinho, de 3.

Quando o caçula nasceu, você já tinha certeza da cura?

Antes de a gente saber do câncer, minha mulher não conseguia engravidar. Após o tratamento, conseguiu. Ele nasceu em 2 de fevereiro de 2012. O médico disse: “Esse filho é a prova de que você está curado”. Esse filho tem um significado… Até botei nele o meu nome, Márcio.

O que te dá a certeza da cura?

No primeiro ano, fazia exame de três em três meses. No segundo, de seis em seis. Depois, passei a fazer anualmente. Estou no meu quinto ano. A gente tem certeza de que isso não volta mais.

Já teve algum caso na família? O médico tem alguma ideia da causa do câncer?

Vou ter que controlar sempre. Houve um caso de câncer na minha família, sim. Um tio, por parte de pai, faleceu de câncer no estômago em 96. Mas sei que o estresse é uma das principais causas do câncer. E no futebol há pressão todos os dias…

Quem convenceu você a expor o drama publicamente?

Durante um dia inteiro se falou sobre isso, e minha imagem estava ficando arranhada. Tive apoio do clube e da família. Minha esposa disse: “Acho que você vai ter que contar a verdade. Se não, vão pensar em uma série de coisas erradas a seu respeito”.

Antes de tornar o caso público, você contou para alguém no Brasil sobre a doença?

Havia um cara no Rio que sabia: o Abel (Braga). Quando acertou com o Fluminense (em 2011), ele disse: “Quero o Magrão. Não abro mão dele”. Abel assumiu o clube dois meses depois da minha cirurgia. O Sandrão (Sandro Lima, vice de futebol àquela época) chegou a me levar os documentos. Acertamos algumas coisas. Mas, como eu ia passar nos exames méd? Como mentir para o Abel? Eu talvez pudesse mentir para o Fluminense, dizendo que não tinha nada. Mas, e se o câncer voltasse? E se eu precisasse fazer quimioterapia? Foi muito difícil recuar, pois o Fluminense me ofereceu (R$ 500 mil) o dobro do que eu ganhava nos Emirados.

Como foi a conversa com o Abel Braga?

Abri o jogo com o Abel: “Vocês estão me oferecendo um contrato maravilhoso, mas minha situação é essa, essa, essa”. Pedi que ele não contasse a ninguém. Abel foi um pai para mim.

Você chegou a se submeter a sessões de quimioterapia?

Não fiz quimioterapia. Eu tinha toda indicação para radioterapia, mas nem foi preciso. Como descobri no início, não havia metástase. O câncer tinha dois ou três milímetros. Foi Deus. Foi sorte. Estou curado.

Como descobriu o câncer?

Saí do Internacional em 2009. Joguei o Mundial pelo Al Wahda em 2010. Nos Emirados, após um jogo, descobri no antidoping que minha testosterona estava alta. O índice HCG estava alto. A taxa normal varia de zero a dois. Mas estava em 47,35. O médico disse que eu estava dopado ou com alguma anomalia. Aquele exame salvou a minha vida. Fiz a cirurgia de remoção (de testículo). Foi um drama.

Ficou surpreso por ter sido flagrado recentemente no exame antidoping?

A questão é que um hormônio estava alterado. Tive que tomar um medicamento para baixar, e o câncer não aparecer em outro órgão. Quando soube do resultado do antidoping, tive uma reunião com o médico, e a gente teve uma ideia do que havia ocorrido. Tenho como me defender. Vou conseguir provar.

Pensa em parar de jogar?

Estou jogando ano a ano e vendo como estou fisicamente. Fiz um excelente Campeonato Gaúcho. Se tivesse me saído mal na competição, teria parado.

O câncer atrapalhou sua carreira em algum momento?

Fora eu ter sido obrigado a recusar a proposta do Fluminense, não me atrapalhou em nada. Mas, agora, passando por isso, acho que eu deveria ter avisado que tomei o medicamento. Foi um erro meu.”

Por Explosão Tricolor / Foto: Ricardo Duarte / Agência RBS