Maicon Bolt sonha voltar a vestir a camisa do Flu. Confira a entrevista completa!




Confira a íntegra da entrevista do atacante Maicon concedida ao canal Esporte Interativo. Maicon foi um dos grandes nomes do histórico time de guerreiros, quem em 2009, conseguiu escapar do rebaixamento de forma sensacional após ter 99% de chances de descenso, segundo os matemáticos. Pelas assistências e parceria de sucesso formada com Fred, que tinha acabado de chegar às Laranjeiras, Maicon ganhou o carinho dos torcedores, mas acabou se transferindo para o Lokomotiv Moscou-RUS ao final daquela temporada. O valor não foi divulgado. Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Esporte Interativo: Você foi alçado aos profissionais e fez parte da campanha histórica que livrou o Fluminense do rebaixamento em 2009. Quais são as lembranças que tem dessa época? Consegue dizer qual foi o segredo para conseguirem algo que ninguém imaginava?

Maicon: Subi para o profissional em 2008, quando o Fluminense fez uma campanha maravilhosa na Libertadores, mas acabou perdendo para a LDU. Com isso, em 2009, a equipe se desfez e passamos por uma fase complicada, já que o time não se encaixava e a gente não conseguia somar pontos. Chegou o final do Brasileiro e a gente complicado na tabela. Quando o Fred voltou de lesão, as coisas começaram a andar. Conseguimos ganhar alguns jogos, muito por conta da chegada do Cuca também, que ajeitou o time. Daí conseguimos ganhar alguns jogos, que fizeram com que a gente tivesse esperança em sair daquela situação, pois já tinham decretado 99% de chances de estarmos na segunda divisão, mas acabamos revertendo. Acho que o segredo foi a união do time. O time teve esperança e acreditamos em nós mesmos. O Cuca fez com que a gente acreditasse. Ganhamos um jogo, depois ganhamos outro e começamos a dar valor àquilo. Sem ouvir o que as outras pessoas estavam falando, olhando somente para nós, pois poderíamos reverter a situação que para muitos era impossível. Graças a Deus entramos pra história. Acho que ninguém conseguiu uma mudar uma situação igual ao Fluminense fez em 2009.

Esporte Interativo: Até hoje, você é considerado o melhor parceiro que Fred já teve desde que chegou às Laranjeiras. Como se sente com esse posto? Por que a dupla encaixou tão certo?

Maicon: Sobre o Fred, eu fico muito feliz, pois já ouvi ele dando entrevistas e dizendo que eu fui o melhor parceiro de ataque que ele já teve no Fluminense. Fico contente em saber que um cara como ele, conceituado, jogador de Seleção, e que já disputou Copa do Mundo, tenha dito isso. Acho que deu certo porque ele me dava muita força. Sempre me deu conselho, sempre fez com que eu não tivesse medo de arriscar, quando tivesse a bola ir para cima nas jogadas individuais. E que no momento que eu chegasse à linha de fundo era só olhar para a área que ele estaria lá. E era isso o que eu fazia. Essa confiança que ele me passava eu levava para dentro do campo, e isso fazia com que as jogadas dessem certo. A gente sabe que se a bola chegar para ele dentro da área, ele não vai errar. Fico muito feliz pelo reconhecimento e espero, talvez um dia, retornar e fazer essa dupla com ele de novo.

Esporte Interativo: Pelas chegadas na linha de fundo e extrema velocidade, você ganhou o apelido de ‘Maicon Bolt’. Gosta de ser chamado dessa forma?

Maicon: O apelido pegou né?! Foi num jogo contra o Palmeiras, que foi à tarde e o sol estava muito quente. Acabou que quando fiz aquela jogada, o comentarista falou que foi no estilo Usain Bolt. Então ficou o apelido. Hoje em dia a maioria das pessoas me chama assim e eu já me acostumei. Meu pai até brinca comigo. Ele diz que iria ficar pois não fui eu que coloquei, mas me deram. E se me deram, eu tenho que aceitar. Eu até gosto, pois assim dá para a gente diferenciar. Só Maicon tem muitos, o da Seleção, o do São Paulo… e me chamando de Bolt já dá pra lembrar direto. Fico muito feliz, porque é um apelido bom, fiz por merecer através do meu trabalho.

Esporte Interativo: Geralmente, jogadores jovens que vão para a Europa sofrem muito para se adaptar. Porém, você já está há seis temporadas na Rússia, atuando pelo mesmo clube. Qual foi o segredo para conseguir se firmar em um futebol e país com características tão diferentes do nosso? Pode dizer que já está completamente adaptado?

Maicon: Vir jovem para a Europa é muito complicado. Eu falo até hoje para algumas pessoas que me sinto um vencedor, por conseguir estar aqui há seis temporadas. Não que seja um bicho de sete cabeças. Agora eu consigo falar isso mais tranquilamente, e até ficaria aqui mais tempo. O problema é que quando a gente chega novo é muito difícil. Eu nunca havia morado fora do Brasil, e a cultura aqui na Rússia, o frio, o estilo de futebol, é totalmente diferente. Isso faz com que muitos venham, não conseguem se adaptar e acabam voltando para o Brasil. Eu me lembro até hoje que quando cheguei estava muito frio, e o Rio de Janeiro, como a gente sabe, faz bastante calor. E eu pensava na boa fase que estava vivendo no Fluminense e acabei deixando para trás, para vir arriscar aqui. Então, sofri muito com o frio quando cheguei. Também teve uma época que fiquei sem jogar e ficava muito triste, porque não estava adaptado e não ia bem nos treinamentos. Não conseguia desempenhar meu melhor futebol. Aqui eles cobram muito a parte defensiva, é um estilo de jogo muito mais tático, e eu estava me complicando com isso. Mas eu botei na minha cabeça que não poderia voltar para o Brasil, pois todos os atletas que vem para cá e retornam cedo são considerados como fracassos. Eu tenho Deus comigo e não posso ser considerado fracassado.

Pois se Deus me trouxe para cá, é porque eu teria que vencer aqui. Foi isso que coloquei na minha cabeça. Daí comecei a focar somente aqui, esquecer do Brasil, de tudo o que eu vivi no Fluminense e pensar em criar uma nova história aqui. Coloquei em prática e hoje em dia estou muito adaptado, falo russo e nada me atrapalha mais. Com isso, penso mil vezes antes de voltar para o Brasil, pois sei como é a situação. Então, por hoje estar muito feliz aqui e demonstrando o meu futebol, isso faz com que eu tenha um pouco de receio em retornar. Mas graças a Deus consegui vencer, pois já são seis anos aqui, sem sequer ser emprestado, por fracasso. Eu sempre falo que só saio daqui se um clube me comprar, ou se acabar o meu contrato, pois meu pensamento é sempre cumprir o contrato independentemente do clube em que eu esteja. Isso mostra que o jogador está bem, mostra que o jogador tem equilíbrio. Meu pensamento nunca vai ser de ficar trocando de clube de seis em seis meses ou de um em um ano.

Esporte Interativo: Atualmente, no Fluminense, quem forma a dupla de ataque com o Fred é o jovem Richarlison, de 19 anos, e que veio do América-MG. Qual conselho você daria para que o garoto tenha sucesso na dupla com o capitão?

Maicon: Eu o aconselharia a ter tranquilidade, para que jogue sem pressão, sendo feliz dentro de campo. Acho que isso é que fará que ele tenha regularidade e faça bons jogos ao lado do Fred. Para dar certo, acho que ele tem que basicamente fazer as jogadas, driblar os zagueiros e combinar com o Fred. Uma vez o Fred já chegou em mim e falou de qual forma ele gostava de receber as bolas. E realmente tudo o que ele falava antes dos jogos, ele fazia. Eu só colocava a bola lá, pois sabia que ele faria os gols. Ter esse diálogo no vestiário e nos treinamentos vai fazer com que a dupla venha a dar certo e possa dar felicidades para a torcida tricolor. Desejo toda a sorte pra ele, e que o Fluminense faça uma boa campanha no Campeonato Brasileiro deste ano.

Esporte Interativo: Você é cria de Xerém, e a torcida do Fluminense demonstra enorme carinho pelo seu futebol. Mesmo de longe, acompanha os jogos do clube? Planeja retornar no futuro?

Maicon: Eu sou Tricolor. Desde pequeno, antes mesmo de jogar no Fluminense. Muitas pessoas não acreditam, mas é verdade. Fui criado em Xerém. Cheguei lá aos 11 anos e subi para o profissional com 18. Tenho um carinho enorme pelo clube, e penso em voltar um dia. Se tiver a oportunidade, se o Fluminense abrir as portas para mim novamente, eu gostaria de voltar. Não sei quando, até porque tenho um contrato aqui. Mas se isso for possível, eu ficaria muito feliz. Em poder retornar e ajudar o Fluminense. Acho que mereço conquistar um título pelo clube, apesar que pela campanha de 2009 muita gente considera como um título, acho que mereço ganhar um título pelo Fluminense antes de encerrar a carreira. Então pretendo voltar para ajudar o Fluminense a se manter no topo do futebol brasileiro.

Esporte Interativo: Antes de encerrar… Você foi convocado para todas as categorias de base da Seleção. Sonha com uma chance no time principal? Essa é uma meta na sua carreira?

Maicon:  Fui convocado para todas as seleções de base. E acho que todo o jogador que diz que não sonha em chegar na seleção principal está mentindo, pois é o sonho de todos os atletas. Mas tenho que ser realista e saber que jogando no campeonato russo esse sonho é mais difícil de se concretizar. Mesmo tendo alguns jogadores aqui que já chegaram, acho que o Dunga não olha tanto para o campeonato daqui, mesmo o Hulk indo, o Mário Fernandes, do CSKA, tendo sido convocado uma vez… acho que ele não olha com carinho aqui pro futebol russo. Então sei que a chance é mínima, mas eu tenho esse sonho, pretendo lutar sempre pra buscar esse espaço na Seleção, não sei se vai ser rápido, se vai demorar, mas a gente sabe que no futebol as coisas mudam rapidamente. Então pretendo trabalhar e quem sabe vestir a camisa amarela, que é o sonho de qualquer jogador. Vou continuar trabalhando forte, pois só assim vou mostrar para o treinador que eu tenho capacidade para estar na seleção brasileira.

Por Explosão Tricolor / Fonte: Esporte Interativo / Foto: Divulgação