Médico que atendeu o torcedor do Fluminense conta sua versão sobre o incidente




Torcida do Fluminense no Allianz
Torcida do Fluminense no Allianz Parque

Infelizmente, a torcida do Fluminense sofreu uma perda na arquibancada, na última quarta-feira. O torcedor Flávio Gusmão de Figueredo Mendes passou mal após sofrer um infarto nas arquibancadas do Allianz Parque e morreu no dia seguinte na Santa Casa de Misericórdia.

Os torcedores do Fluminense que presenciaram o incidente reclamaram de “omissão” por parte da Polícia Militar e do staff do estádio.

O Palmeiras disse que os bombeiros prestaram rapidamente os primeiros socorros e o levaram ao ambulatório do local.

A PM se defendeu garantindo que atuou de forma adequada e relatou dificuldades “em posicionar corretamente o paciente na maca em razão do pequeno espaço existente na arquibancada, devido à presença de cadeiras”.

O portal ESPN conseguiu falar com o médico que prestou os primeiros socorros a Flávio Gusmão. Trata-se do Dr. Nelson de Sousa Nilo Jr., também torcedor do Fluminense e que estava no setor destinado ao clube visitante. Ele enviou dois e-mails contando sua versão da história. Confira abaixo:

Primeiro e-mail:

Eu sou Nelson de Sousa Nilo Jr, médico CRM:77329

Estou entrando em contato para revelar o ocorrido na quarta-feira, 28/10/2015, no estádio Allianz Parque, após o excelente jogo entre Palmeiras e Fluminense. Após o término deste, depois dos pênaltis, aguardava próximo às lanchonetes a liberação por parte da Polícia Militar a nossa saída do estádio. Nesse momento, várias pessoas desceram da arquibancada gritando por ajuda, dizendo que uma pessoa estava “passando mal na arquibancada”.

Imediatamente voltei para onde eu estava e, alcançando alguns lances acima, avistei um aglomerado de pessoas. Mais ou menos seis lances acima, avistei uma pessoa deitada no corredor, de costas para o chão em parada cardiorrespiratória. Algumas pessoas já se encontravam ao seu redor, inclusive resgatistas. Imediatamente comecei a executar manobras de reanimação cardiorrespiratória. Orientei para que trouxessem a prancha para o transporte do paciente a um local mais adequado.

O paciente, Sr. Flávio Gusmão de Figueredo Mendes, foi colocado em uma prancha e encaminhado para a enfermaria. Após o paciente chegar à mesma, foi diagnosticado infarto agudo do miocárdio e o mesmo foi encaminhado à Santa Casa. Acompanhei o paciente até o serviço de urgência da Santa Casa, onde o mesmo foi rapidamente atendido.

A minha intenção com este relato é de tentar melhorar, se possível, o atendimento de futuras ocorrências neste e em outros estádios. Houve situações que poderiam ter sido evitadas, independente dos médicos que estavam na enfermaria. Estes, por sinal, foram muito prestativos, mas suas instalações não condizem com a estrutura do estádio.
Independente do time que torço, o Fluminense, minha intenção com este relato é de melhorar as condições para todos os que vão aos estádios. Quem sabe, não vamos começar com essa grande instituição “Sociedade Esportiva Palmeiras” uma mudança de mentalidade sobre o que acontece nos bastidores dos jogos.

Meus sinceros sentimentos para a família do Sr. Flávio Gusmão de Figueiredo Mendes. Não quero com esse debate, de forma alguma, aumentar o sofrimento da mesma, desejo sim, que ele seja fonte de inspiração para melhorias nos serviços dos estádios. Desde já, me coloco a disposição para maiores esclarecimentos.

Atenciosamente,
Nelson de Sousa Nilo Jr.

Segundo e-mail:

Boa noite,

Complementando o ocorrido, tenho a declarar que tive dificuldades para executar as manobras de reanimação no Sr. Flávio, pois além do espaço entre as cadeiras ser muito restrito os resgatistas não me permitiam acesso ao mesmo. Só depois de muita insistência e mesmo depois de me identificar como médico é que consegui ter acesso ao paciente. Notei que ninguém comandava as ações a serem efetuadas naquela situação. De pronto, assumi esta responsabilidade, pois se não o fizesse, infelizmente o desfecho seria trágico naquele momento.

Solicitei uma prancha para retira-lo do local. Porém, quando a mesma chegou, não estava preparada para o transporte, pois não havia sido devidamente montada. Após a colocação, com muita dificuldade, do Sr. Flávio na prancha de transporte, fomos direcionados a uma enfermaria que ficava do lado oposto do local de onde estávamos. Quando chegamos à mesma, obtive informações com a equipe médica que existia outra enfermaria que estava praticamente do nosso lado. Se nos dirigíssemos para o lado contrário do que fomos, encontraríamos a enfermaria que estava bem mais próxima. Consequentemente, demos meia volta no estádio carregando o Sr. Flávio na prancha, para chegarmos à enfermaria, a qual o mesmo foi atendido.

Chegando nesta, notei que a mesma não estava estruturada para o recebimento de pacientes que ali chegam para atendimentos de urgência. Pelo que notei, não existe uma estrutura fixa, com aparelhos adequados para atendimento de pacientes que ali chegam.

Estamos relatando um caso ocorrido em um estádio que, com certeza, é um dos melhores do país, pelo que notei. Porém, deixa a desejar em sua estrutura relacionada ao seu atendimento nas emergências médicas. Com certeza, se fôssemos comparar o gasto para se estruturar um atendimento adequado, não ficaria próximo ao rendimento mensal de um dos grandes jogadores que ali atuam.

Venho reiterar que minha intenção é a de tentar proporcionar uma segurança para aqueles que ali frequentam: jogadores, comissões técnicas, organizadores, o público, os jornalistas e outros. Infelizmente, só notamos este tipo de fato quando nos deparamos com esta tragédia já ocorrida. Temos a obrigação de prevenirmos para que tais ocorrências não se repitam, pois se trata de um local de grande risco para estes eventos.

Me coloco à disposição para maiores esclarecimentos.

Atenciosamente,
Nelson de Sousa Nilo Jr.

Por Explosão Tricolor / Fonte: ESPN / Foto: Divulgação