O dia em que vivi meu momento Assis




banner_paulonenseAmigos Tricolores, publico hoje a terceira e última de 3 historinhas pessoais envolvendo a dupla Fla-Flu, duas delas até já foram publicadas há dois anos no Explosão Tricolor. Hoje lanço “O dia em que vivi meu momento Assis”.  Vamos ao texto:

Já ganhamos inúmeros fla-FLUS, isso é certo. Ok, ok, eles têm algumas poucas vitórias a mais. Mas nós temos praticamente todas as vitórias mais relevantes. Valendo alguma coisa a mais a vitória nossa é quase certa: o primeiro da história, o do centenário deles, o do nosso centenário, o do centenário do clássico e tantos outros na História, e estamos ganhando de 8 x 3 em decisões, fora os turnos.  Acho que por isso tudo diz-se que ganhar fla-FLU é NORMAL, tão normal que ganhamos decisão até “empurrando com a barriga”, ou na hora que quisemos, aos 46’ do segundo tempo, com a torcida deles gritando “eliminado” e sacudindo lencinhos (que depois serviram para enxugar as lágrimas).

Mas agora vou matar alguns tricolores de inveja:  quantos aqui já jogaram e ganharam um fla-FLU, e ainda saíram de campo como artilheiro do jogo?

Pois eu vivi meu momento Assis.

Por volta de 1985 eu e meus amigos peladeiros fizemos um reencontro da galera no campo soçaite da PUC, e o horário que tínhamos o campo livre era 8 da manhã de um domingo de julho.  Isso mesmo, o jogo do mau hálito.

Peladeiros chegando, costumávamos chamar o número certo de jogadores, e havia um compromisso de ninguém “furar”. Alguns chegavam até de ressaca…

Nisso, um dos nossos, o Luís Armênio, me chega com dois jogos de camisa: do fla e do FLU!  Eu comecei a pressentir que vinha problema ali…

Ora, não preciso dizer que a minha camisa já estava definida. Pois bem, eu era um dos organizadores, tinha tido na véspera um grande trabalho de ficar ligando para os telefones fixos de vários, pois não havia celular, internet nem mesmo e-mail. Então, para garantir, fui logo dizendo: “Eu jogo no time do Fluminense!”

Pronto… Deu ruim!

Protestos gerais.

“Porra, Paulinho, já vai estragar a pelada?”, disse o Cleber, um botafoguense. “Que babaquice?”, disse um outro. Convenhamos, num grupo de 16 pessoas alguns são seus camaradas, outros nem tanto, e alguns você mal conhece, eventualmente um conhecido de um amigo, que foi chamado para completar.

Chegaram a propor o tradicional “com camisa” contra “sem camisa”, mas era época de frio, e ninguém queria jogar sem camisa.

Eu já sabia que éramos 16 na conta exata, 7 na linha e um no gol de cada lado. Não poderiam barrar ninguém, nem substituir alguém àquela hora da “madrugada”.

Um mais radical chegou a dizer: “Então não vai ter mais a pelada!”

Fui, então, imperativo:

Então não vai ter a pelada! Vocês falem o que quiserem, chamem do que quiserem, mas ou eu jogo no time do Fluminense ou vou embora agora mesmo, mesmo tendo tido um trabalho do cacete de chamar as pessoas. É só decidirem.

Merdelê geral. Alguns tricolores disseram que não se importavam com camisa, urubus idem. E eu irredutível!

A turma do deixa-disso conciliou e chegou onde eu queira: “A gente tira os times e o do Paulinho veste a tricolor!”

Até que enfim alguém falou minha língua… Assim foi feito. E jamais seria diferente!

Modéstia à parte, e sem querer contar vantagem, eu era um dos goleadores da pelada. Sempre fui artilheiro nos times onde joguei. Nem tinha assim muita técnica, mas protegia bem a bola, era fominha de gol e chutava todas, e tinha uma canhota muito forte e certeira, que me rendeu, no time da faculdade, o apelido de Rivelino – e eu não tinha bigode! Por muitos anos fui o camisa 9 do meu time, o Delta F.C., e eu só não gostava de fazer gol de bicicleta, pois, tinha receio de que o juiz, ao me ver de cabeça pra baixo,  colocasse na súmula gol do camisa 6 (piadinha roubada do anedotário do futebol).

Muito bem. Consegui no par ou ímpar escolher alguns bons parceiros. O craque André, tricolor também, era o cara mais técnico da galera, o principal articulador das jogadas, e não gostava de concluir. André era um grande amigo, foi da Força Flu e infelizmente não está mais aí para confirmar a história, cedo nos deixou, com 30 e alguns anos, quando morava em Recife. Também consegui escolher um bom zagueiro da pelada, o Ruy, também tricolor.

E a bola rolou.

Amigos, meu coração disparou. Vestir a camisa do Fluminense e enfrentar os urubus mexeu realmente comigo. E fomos logo construindo o placar. Joguei como nunca, marquei como sempre. O jogo foi fácil. Massacre tricolor. Ao final vencemos por 11 x 4 e deixei 4 gols.

Um dia que jamais esqueci! Ganhar deles é normal, mas participando e sendo o artilheiro da partida é fenomenal! Permitam-me a heresia: “Recordar é viver! Paulinho acabou com você!”

E eu agradeço ao amigo Luís Armênio, tricolor, o dono das camisas, colecionador (eu jamais colecionaria camisas de outros times!), pelo momento Assis que me proporcionou.

Agora fala sério: eles que me desculpassem, nada contra ninguém, mas nem morto eu vestiria a outra camisa, e ainda mais para enfrentar o meu FLUMINENSE!

Isso JAMAIS!!!

Porque O IMPORTANTE É O SEGUINTE: SÓ DÁ NENSE!!!!!

A pequena Série de 3 Contos de Fla-Flu termina hoje, pode ser que futuramente criemos novo espaço. Agradeço a todos que prestigiaram e dedico o Conto de hoje aos amigos tricolores Ruy, Luís Armênio, Flávio, Nelson, Binda, Sidney Garambone e André (onde quer que esteja). E amigos de outras camisas: Berê, Zé Leonardo, Alexandre, Luís, Marquinhos, Fabinho, Cleber e Jorge. Todos testemunhas daquele dia, e amigos de muitas décadas, alguns dos quais não tenho notícias faz tempo. O Delta foi a única outra camisa que me deu algumas alegrias, mas nem perto da do Fluzão, minha verdadeira paixão clubística.

Por PAULONENSE / Explosão Tricolor

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