“O Fluminense não entrou para ganhar”; em texto, jornalista aponta a intenção tricolor na final do Mundial de Clubes
25 de dezembro de 2023Explosao Tricolor
John Kennedy (FOTO DE LUCAS MERÇON /FLUMINENSE FC)
O Fluminense não entrou para ganhar. Entrou para mostrar o conceito de Diniz ao mundo (por Douglas Ceconello)
Nas últimas décadas, poucos times brasileiros foram tão incensados — e também tripudiados — quanto o Fluminense treinado por Fernando Diniz. É uma equipe que desperta emoções extremas, que opõe formas diferentes de entender o futebol. O resultado na decisão da Libertadores mostrou que o técnico e seus abnegados jogadores estavam certos — na ideia, na execução e no estilo. Porque o resultado é o melhor avalista de todos os conceitos, bem sabemos.
Este mesmo Fluminense já recebeu elogios quando optou por competir, acima de qualquer manifestação de virtude. Assim aconteceu na final da Libertadores, quando a equipe esqueceu todos os preceitos do parnasianismo dinizista para se entrincheirar na frente da área, após fazer 2 a 1 contra o Boca Juniors. O resultado ali não apenas importava — era o resultado mais importante da história do Fluminense, e toda essa gravidade histórica sugou o time para baixo das próprias traves.
O Manchester City é muito melhor e mais equilibrado que o Fluminense — na própria ideia, na própria execução e no próprio estilo. Sobretudo, levava a seu favor a quase intransponível questão econômica. Montados em dinheiro proveniente de sabe-se lá que circunstâncias, os europeus deitam e rolam sobre os sul-americanos, que chegam ao Mundial com uma prancheta na mão, o bolso cheio de ilusões e uma ideia na cabeça. Essa é a premissa sob a qual tudo deve ser lido e qualquer confronto deve ser assistido. Nossos sonhos e nossos memes não conseguem fazer frente ao atroz desequilíbrio financeiro.
Clique aqui e realize a sua inscrição no canal do Explosão Tricolor!
Depois da Lei Bosman e da formação de um seleto grupo de superclubes europeus, os sul-americanos raramente vencerão um título intercontinental, mas sempre terão seus quinze minutos de fama. Assim deve ter previsto algum Andy Warhol de Laranjeiras. E, de fato, o Fluminense conquistou sua fugaz parcela de admiração. Ao fim do jogo, cujo placar apontava 4 a 0 para os ingleses, Fernando Diniz comemorou porque, segundo ele, havia alcançado o feito inédito feito de envolver o Manchester City por quinze minutos. Também Guardiola estava encantado com este breve esplendor tricolor, mostrando uma espécie de condescendência típica, enquanto provavelmente pensava na escalação para enfrentar algum Luton Town da vida na próxima rodada da Premier League.
O sucesso no futebol é feito também de concessões. A aposta na pureza do conceito, em qualquer circunstância, acontece apenas por vaidade. E o Fluminense parece ter entrado em campo sem qualquer preocupação. Por exemplo, em relação à fragilidade defensiva da equipe, algo bastante evidente durante toda a temporada. O primeiro gol inglês nasceu de uma virada de bola desastrada de Marcelo quando praticamente toda a equipe ocupava um lado do campo. O segundo, em falha de marcação bisonha (e recorrente) do lado direito de sua defesa. Mas, entre um evento e outro, houve quinze minutos de virtuosismo dinizista, “O breve envolvimento do City” — este o troféu que a equipe realmente se empenhou em conquistar. Pela estratégia adotada, Fernando Diniz parece ter entrado mais preocupado em apresentar seu conceito ao mundo do que em vencer.
O que o Fluminense fez e conquistou em 2023 é histórico, e não apenas em termos de resultado. Mas um abismo financeiro tão grande como este que hoje existe em relação aos maiores times europeus (que representam menos de 1% da Europa, percebam) só pode ser combatido com alguma medida disruptiva. Como, por exemplo, continuar amando a pelota, mas apenas e tão somente naquele dia através de um platônico romance à distância. Tentar algo além daqueles quinze minutos de fama, que serviram como migalhas — “olha, que bonitinhos, até sabem jogar futebol” (sim, amigo anglófono, nós inventamos o futebol moderno à nossa imagem e semelhança).
A tentativa de mostrar ao mundo como funciona o Fluminense de Fernando Diniz praticamente aniquilou as chances, já pequenas, do acontecimento que poderia ser o Fluminense campeão do mundo — este sim o evento sísmico que duraria uma eternidade (e mais um quarto de hora).
Desde 2014, o Explosão Tricolor realiza cobertura jornalística diária sobre tudo que rola no Fluminense. Notícias, informações e opiniões são publicadas diariamente sobre futebol, torcida, gestão, finanças, marketing e outros temas para que a torcida tricolor fique bem abastecida de informações!