O gosto da derrota de Pepsi




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Amigos Tricolores, publico hoje a segunda de 3 historinhas pessoais envolvendo a dupla Fla-Flu, duas delas até já foram publicadas há dois anos no Explosão Tricolor. Hoje lanço “O gosto da derrota de Pepsi”.  Vamos ao texto:

Vinte e cinco de junho de 1995.  Final do Campeonato Estadual, Fla x Flu sensacional, urubus jogando com a vantagem do empate.  Eu até comprara ingresso, mas em cima da hora desisti, revendi o ingresso na porta do Fluminense faltando três horas para o jogo.  Eu fora convidado para assistir na casa de um amigo, o Thales, que morava na rua Moura Brasil, em Laranjeiras.  Ele tinha Net, e o jogo passaria no Sportv.  Na época não havia pay-per-view, poucos tinham Net. E como eu estava bastante resfriado, preferi não ir ao estádio. Foi o único título no Rio de Janeiro que não vi ao vivo desde 1975.

Ficou combinado que cada um levaria as bebidas que fosse consumir, o Thales serviu uns salgadinhos.  Como eu estava mal da garganta, e queria estar bem sóbrio para comemorar aquele caneco, resolvi não levar cerveja.  E para não ficar bebendo água, levei uma mísera latinha de Pepsi diet.  Cheguei, animação grande da galera tricolor, botei minha latinha na geladeira e fui para a sala, grudar os olhos ansiosos na telinha.

Na sala, uma meia dúzia de tricolores fervorosos, me lembro bem do Thales e do Ricardo, companheiros de futebol no Fluminense.  Os outros eram amigos e vizinhos do anfitrião, e tinha um, e somente um, urubu seca-pimenteira.

Bola rolando, o Flu foi tomando conta das ações (deu um show naquele primeiro tempo, poderia ter feito uns quatro!).  Embora eu estivesse hipnotizado pela tela da tevê, não tive como deixar de ver um camarada na sala bebendo nada menos do que…  uma Pepsi diet…  E adivinhem quem era o cara?  Só podia ser ele, o rubro-negro do ambiente (depois eles não gostam quando falamos).  Fiquei pensando:  “Não, não pode ser a única latinha que eu trouxe para beber no intervalo!  Esse cara não iria ter coragem…  Deve ser outra lata…”

E lá ia o Flu detonando…  Gol do Leonardo!!!  Gol do Renato Gaúcho!!!  Show de bola tricolor!!!  Eu já não estava nem aí para uma mísera latinha de Pepsi, que se ferrasse o burro-negro…

No intervalo, ganhando de 2 x 0,  estávamos na maior alegria!  E aí fui dar uma incerta na geladeira, afinal todos mergulhavam nas cervejas – inclusive o urubu, que bebera o refrigerante como aperitivo – e a sede batia.

Desgraçado urubu ladrão (perdoem a redundância)!  Eu iria ficar mesmo bebendo água…  Nem tive coragem de acreditar que o cara simplesmente pegou mesmo uma lata que não era dele e mandou ver…  No meio de tantos tricolores, só mesmo um único urubu para fazer uma coisa daquelas.

Não sei se vocês vão entender, detesto mesquinharia, mas aquilo me deixou tão contrariado… Não foi pela insignificante latinha e seu conteúdo químico…  Mas pela atitude do cara… O desrespeito… Mas com a classe e a fidalguia características de um tricolor resolvi não falar nada…  Detesto não só mesquinharias, mas também baixarias… E pensei: “Esse infeliz vai ficar arrotando essa porra a noite inteira, e eu vou para as Laranjeiras beber chope, com ou sem dor de garganta… Hoje o Flu vai conquistar seu 28º Campeonato Estadual, ninguém chega perto dessa marca, e eu não estou nem aí para uma latinha …”

Ah, o futebol…  Um pouco acomodado com o resultado facilmente obtido no primeiro tempo, bateu uma apatia no escrete tricolor.  A urubuzada apertou um pouco e acabou marcando o primeiro gol, com Romário, que na época jogava por lá.  Era tudo o que eles precisavam, pegaram a maior moral com o gol e partiram com tudo para cima, naquele estilo deles, sem técnica e todo atabalhoado, e o empate acabou por acontecer…  E logo com gol do limitadíssimo Fabinho, que depois veio a jogar no Fluminense e rarissimamente fazia gol…

Vamos lá, ainda faltam alguns minutos, dá para fazer o terceiro!!!  Só que pouco depois o Lira, lateral esquerdo tricolor, deu uma entrada forte num urubu, e foi expulso… E aí o Flu ficou com um a menos, e naquela altura já faltavam poucos minutos…

O ambiente na sala?  Logicamente todo mundo jururu, sem acreditar naquela injustiça. O Thales até tirara a camisa do Fluzão.  E uma ovelha burro-negra sorria satisfeita, é verdade que de forma meio tímida, respeitando a casa do tricolor e a grande maioria adversária.  Mas sorria, e eu nunca fiquei tão irado com a alegria irônica do gordão (era gordo o cara!) estampada em uma cara de ladrão e arrotão de Pepsi diet.

“Isso não pode ficar assim. Esse timeco urubu sempre foi freguês em decisões…  Me lembro em 1983, quando acreditei até o final, me recusei a deixar o estádio antes da hora, e o Assis meteu um golaço aos 46 do segundo tempo, quando o juiz já olhava para o relógio… Foi a maior emoção que tive no Maraca.”

Aí aconteceu o que já estava escrito há milênios: Ailton desce pela ponta-direita, dribla para cá, corta para lá, chuta forte e a bola encontra caprichosamente a barriga do Renato Gaúcho, sendo sutilmente desviada para as redes uruburras…  GOLAÇO!!!!!  O Caneco é nosso, gritaria geral na casa e um guloso safado burro-negro arrotando Pepsi feito um babaca, com cara de coala…

Estava provado mesmo: Aquele timeco tira onda que tem mais vitórias que o Flu.  É verdade, mas quando o jogo é para valer, decidindo título, a gente ganha mesmo, e fácil,  empurrando com a barriga…

E por falar em barriga, enquanto a do ladrãozinho inescrupuloso misturava a fermentação de uma Pepsi roubada com cerveja (provavelmente também roubada), a minha ficou cheia de chope nas Laranjeiras, poucos minutos depois.  Que garganta que nada, naquele dia eu bebi gelado mesmo, gritei muito, e ficar roucaço era o mínimo que poderia me acontecer para comemorar o título que mais marcou minha vida, mesmo sem ter ido ao estádio: o 28º Estadual, o Campeonato do Centenário deles (depois fomos bi no nosso, em 2002), o Centenário Sem Ter Nada deles, o título conquistado naquele 25 de junho de 1995, dia de aniversário da minha mãe, que ficou também muito feliz…  E tenho certeza, muito emocionada, como eu, pois foi o primeiro título após a morte de meu pai, ocorrida menos de um ano antes.

E no meio daquela sala, em meio a tantos gritos e abraços de tricolores emocionados, podem ter certeza de que eu nem mais lembrava daquela latinha insignificante de Pepsi… Eu chorava de alegria e emoção.  Eu só lembrava de quem era o responsável por eu estar tão contente naquele momento: o meu pai, que felizmente me fez tricolor…

P.S.:  E hoje, acrescento a esta crônica escrita há vários anos, é um dia muito feliz, pois, mesmo sendo o primeiro aniversário de minha mãe sem a presença dela, comemoro do mesmo jeito a alegria de tantas vezes ter passado um 25 de junho muito feliz. Pelo aniversário dela, pelo gol de barriga… Pelo meu Fluzão, pela minha mãe, que com certeza comemora hoje lá de cima, ao lado de meu pai. (escrito em 25/6/2014)

Historinha de amanhã: O DIA EM QUE VIVI MEU MOMENTO ASSIS

Por PAULONENSE / Explosão Tricolor

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