O ídolo e a memória do menino




Fred (Foto: Lucas Merçon / Fluminense F.C.)



Do mais otimista ao mais pessimista, os tricolores sabiam que o jogo seria difícil. O Bragantino tem uma boa equipe e, mesmo desfalcado, o time de Bragança Paulista tentou impor o seu bom jogo. Um jogo de toque de boa, de pé em pé. No primeiro tempo, contudo, o Braga foi neutralizado pela forte e eficiente marcação tricolor. Ambas as equipes não passavam da intermediária e, em um confronto de muito equilíbrio, a partida ofereceu apenas uma chance para cada lado. Na chance do Fluminense, Nenê poderia ter passado a bola para o ídolo…

Eu gostaria de dizer mais duas ou três palavras. Felizmente para a datilografia boleira, duas ou três palavras rendem mais quatro ou cinco parágrafos. Os peladeiros do texto contam com a benção de Nossa Senhora dos Parágrafos. Eu poderia fazer de Marcos Felipe novamente o personagem do texto. Nosso goleirão salvou, fez uma bela defesa no fim do jogo e garantiu o placar – 2 a 0! Também poderia falar do valente e brioso Yago, do voluntarioso e eficiente Martinelli e do bom jogo tático do Tricolor. Ontem, amigo torcedor, a prosopopeia teria o poder de fazer da tática personagem. O futebol é um grande teatro.

Meu personagem da semana é o nove, o nosso artilheiro. Confesso: sou da era das vacas magras, cresci na década das humilhações, a famigerada década de 90. Quando eu era menino, nos campinhos de terra, vestia as fantasias da imaginação e me transformava em super-herói. Eu era o nove. Eu era o Ézio. Com a mesma potência lúdica que o futebol evoca em cada um de nós, no jogo de prego, como jogador e narrador, eu era Januário de Oliveira. O tempo passa. O tempo não é amigo de ninguém. O lúdico menino que existe em nós desaparece. O tempo é cruel… muito cruel.

Em um jogo difícil, amarrado, o ídolo novamente aparece. Dessa vez não como garçom, servindo com generosidade os seus companheiros. Não. Ele apareceu como nove, como matador, como artilheiro. Outra confissão: gostaria de voltar para a infância e, nos palcos teatrais da imaginação de criança, vestir a nove para viver a personagem Fred. Don Fredon fez o gol que desatou o nó da partida, que desequilibrou o jogo.  Fred nasceu com o olfato do artilheiro, com a predestinação para o gol. E o gol tira de dentro de nós uma voz alegre, um grito de redentora felicidade e paixão. O gol é filho da alegria; Fred é o pai do gol Pó de Arroz.

Se eu pudesse ter outra vez nove anos… o tempo é cruel. Muito cruel. O tempo não é amigo de ninguém. Que os meninos de hoje aproveitem, que possam viver o Maior Camisa Nove da História Tricolor nos palcos lúdicos da imaginação infantil. Se eu pudesse ter sete, oito ou nove anos novamente, eu seria o Fred. Que em algum campinho de pelada, amigo leitor, a imaginação criadora atravesse os meninos. Que cada moleque descalço seja o Fred das peladas imortais. Viva o Eterno Nove Tricolor, o Pai do gol, o artilheiro Fred, a alegria do gol, a catarse de um gol do Fluminense, a mística Camisa Nove de Laranjeiras…

-Viva pois o tempo não é amigo de ninguém…

Teixeira Mendes