O maior problema do Fluminense




O Fluminense necessita de criatividade e percepção para decolar o programa
O Fluminense necessita de criatividade e percepção para decolar o programa

Estimados Tricolores,

Meu texto de hoje discutirá o tema sócio torcedor. Fiquei ainda mais interessado no tema após pensar nos impactos da espanholização e depois da confusão do jogo Fluminense x Coritiba. Comecemos por dados estatísticos usando como fonte o torcedômetro.

O clube com maior número de associados reportado atualmente é o Internacional de Porto Alegre com 144.415 sócios. O Fluminense reporta 25.020, 10º lugar no ranking a frente de Vasco e Botafogo. Porque digo reporta? Porque a informação vem dos clubes e existem preocupações se os números reportados são corretos. Houve um caso recente com o Palmeiras que descartou 15 mil torcedores da sua base por inadimplência. Mas confiemos que sim são corretos. Esses números levam a uma média de 2,9 sócios torcedores/total de torcedores no caso do Inter e 0,7 no caso do Fluminense. Dado interessantíssimo e muito ligado a esse texto: há um índice que reporta número de sócios torcedores em relação a torcedores fanáticos. Nesse caso, o primeiro é o Santos com um índice de 14,07, seguido pelo Inter com 12,34 e em terceiro está o Fluminense com 11,91.

Com relação as receitas, a estimativa para 2015 é que o Inter também seja o maior arrecadador, fazendo um total de R$64.894.935. Se estima que o Fluminense arrecadará R$5.132.045, 11º lugar no ranking atrás do Bahia mas na frente de Botafogo e Vasco. Aqui começamos com o tema do texto: como o sócio torcedor pode ajudar ao clube? Essas receitas deixam o Fluminense no 11º lugar também em arrecadação por sócio torcedor. Arrecadamos R$214 por ano por sócio torcedor, ou seja, R$17,86 por mês. O melhor do ranking é o Grêmio que arrecada R$653 por ano por cada ST, ou seja, R$54,43 por mês. Nisso temos outro indicador muito interessante com relação ao Fluminense: arrecadação anual do programa de ST divididos pelo número total de torcedores. Nesse indicador o Fluminense é o sexto do Brasil com R$1,00 por torcedor por ano contra R$8,39 do Inter, primeiro do ranking. E se extendemos o raciocínio a relação receita/fanáticos, o Flu é o quinto com R$16,79 por ano contra R$35,45 do Santos, primeiro do ranking.

Um útimo dado estatístico interessante. Os programas de sócio torcedor estão associados ao Movimento por um Futebol Melhor. O que é esse movimento? Segundo a definição do próprio: “… é a união de torcedores, clubes e grandes empresas que acreditam que o nosso futebol tem um potencial gigante para se desenvolver mais. Vamos ajudar a fazer tudo o que o país do futebol sempre mereceu… Os sócios terão descontos em produtos e serviços de várias marcas participantes… Você vai ver: os descontos são maiores que a mensalidade. E assim, todo mundo vai ganhar: os torcedores e os clubes.”

Repararam nessa frase: “os descontos são maiores que a mensalidade”? Para exemplificar, no site do futebol melhor há uma simulação em que se você em um mês comprar cerveja Brahma, Guaraná Antartica, Sabão Omo dentre outros produtos associados ao movimento, o torcedor pode economizar R$58,14 por mês. Releiam acima a média gasta no programa. No Flu, R$17,86 por mês por ST. No Grêmio, R$54,43 por mês por ST. Perceberam? O programa economicamente sai de graça!

Então porque as pessoas não se associam? Porque os tais 2 milhões de torcedores que dizem que o Fluminense tem (não acredito nesse número, acho que somos mais torcedores), não se associam em massa? Exploremos isso.

Em primeiro lugar falta confiança do torcedor. Não há credibilidade no mundo do futebol e muita gente desconfia de colocar seu dinheiro na mão dos dirigentes de clubes, principalmente considerando a falta de transparência de como o dinheiro será usado.

Some-se a isso as prioridades de cada um. A situação financeira do país força a maioria das pessoas a priorizar seus gastos e definitivamente ajudar o clube de futebol não é uma prioridade, já que não há credibilidade e obviamente não é um bem de primeira necessidade.

A falta de divulgação dos benefícios dos programas é outro fator. Qualquer pessoa que pare para fazer contas, se sua tomada de decisão é baseada no fator econômico, percebe com os descontos recebidos que há muita vantagem em se associar.

E devemos considerar a descrença no seu time. Não confiar nos jogadores, não se empolgar com os resultados e não ser um frequentador assíduos de jogos. Talvez por isso haja o indicador de torcedores fanáticos, que são os que realmente frequentam os jogos sempre e que se preocupam com seus clubes. Ídolos e estádios, incluindo facilidade de locomoção, comodidades oferecidas, nível do espetáculo, certamente são outros componentes.

Feito esse diagnóstico simplificado, o que pode ser feito? Dou sugestões ponto por ponto abaixo.

1) Credibilidade e transparência: os sócios precisam escolher corretamente quem vai liderar o clube. Escolher pessoas não somente bem intencionadas mas que estejam comprometidas com a ética e valores morais. Que não usem o clube para ter benefícios financeiros. Difícil saber quem são essas pessoas mas por exemplo analisar os antecedentes da pessoa, sua formação, seu histórico, pode ajudar. Além disso, da parte do clube cabe realizar auditorias periódicas que mostrem de maneira transparente o uso do dinheiro e todas as ações tomadas pelo grupo gestor. A implementação da famosa “governança corporativa” e de sistemas de gestão contribui significativamente para essa transparência.

2) Divulgação dos benefícos do programa: cabe ao clube mostrar todos os benefícios oferecidos, tais como, a economia com os descontos de parceiros, a comodidade na compra de ingressos, promoções associadas e exclusivas aos sócios. Criar com o consórcio e administradores de estádios um acesso diferenciado para os STs, oferecer assentos marcados, lugares cativos (benefício esse que o Fluminense já oferece). Mas o mais importante: tem que marketear isso. Usar redes sociais, fazer campanha nas TVs, nos jornais, revistas, rádios. Custa? Claro que sim. Mas é investimento e não custo. Tem que ser feito.

3) Qualidade do espetáculo: há de se relacionar a qualidade do time montado com as receitas auferidas. Imaginemos que o programa seja um sucesso. Que o Fluminense consiga arrecadar a mesma média do Grêmio e ter a mesma quantidade de sócios que o Inter. Isso significa que o Flu arrecadaria cerca de R$7,8 milhões de reais por mês com o ST. Hoje o Fluminense gasta 3,4 milhões de reais por mês com sua folha salarial. Quanto custaria um grande time? Imaginemos um time com Cavalieri, Mariano, Thiago Silva, Luisão e Marcelo. Edson, Paulinho e Diego. Maicon, Fred e Nem. É possível com o programa pagar esse time? Claro que sim. Esse time pode ser montado com uma média salarial de R$500 mil ao mês. Média, não digo que todos ganhariam isso. Isso nos deixa R$5,5 milhões de custo mensal. Se o programa arrecaria 7,8 milhões, ainda sobra dinheiro para ter um elenco qualificado e não somente um time. Reparem: não estou dizendo que temos que contratar esse time. Estou apenas mostrando que é possível montar um bom time com o crescimento do programa.

Então porque o clube não oferece isso ao torcedor como atrativo? Corra o risco e diga: “estimado torcedor, se associe. Além de ganhar descontos que farão sua mensalidade sair de graça, você ainda ajudará o clube a ter esse no seu elenco jogadores de primeiro nível. Esse será nosso compromisso. A cada xxx torcedores nos comprometemos a trazer 1 jogador de nível internacional. Precisamos de 144 mil associados. Ajude!” Com um time forte, fica mais fácil disputar títulos e encher estádios. E além disso, ajuda a atrair novos sócios. A qualidade do espetáculo melhora e o torcedor fica mais motivado.

Antes que digam, “ah mas o clube tem dívidas, não é possível”, é sim. As dívidas devem ser mitigadas com as receitas das vendas dos valores de Xerém, pelo que dizem com as vendas do Gérson, Marlon e Kennedy elas podem ser muito reduzidas, outras receitas como patrocínios, além dos acordos fechados como o Ato Trabalhista por exemplo. Ser criativo exige não ser reativo e negativo. Senão deixamos tudo como está.

4) Estrutura oferecida: cabe ao clube motivar o consórcio no caso específico do Maracanã e oferecer atrativos ao torcedor. Melhorar o acesso ao estádio, com sistemas que funcionem e acesso facilitado ao sócio com entrada exculsiva.Exigir do consórcio a melhoria da oferta de restaurantes no estádio, atraindo grandes redes como McDonald`s, Porcão, Spolleto, Viena, que atraiam o torcedor a chegar mais cedo ao estádio e consumir no mesmo. Oferecer shows antes dos jogos, nos intervalos, fazer promoções, sorteios, enfim, tornar o jogo um evento de entretenimento e não somente um jogo de futebol. Abrir lojas de conveniência dentro do estádio, para venda de produtos do clube e outros produtos de interesse do torcedor do Fluminense.

Concluindo, o programa sócio torcedor é o maior aliado que um clube como o Fluminense, com o potencial que tem com sua torcida, reconhecida como tendo um alto nível intelectual, social e poder aquisitivo, pode ter para aumentar suas receitas e crescer. Basta ser criativo, arregaçar as mangas e trabalhar duro. Talvez esse seja o maior problema…

Danilo Fernandes

Explosão Tricolor