O tamanho do sonho




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Conta a história que, quando o ex-presidente Francisco Horta assumiu o clube, tinha o sonho de contratar Rivelino, como símbolo da máquina tricolor que viria a ser montada.

Diante da dúvida que muitos depositavam no sucesso da contratação, Horta montou sua estratégia baseada no convencimento da mulher do craque, no sentido de que seria extremamente interessante uma mudança do casal para o Rio de Janeiro.

Assim, o ex-presidente viajou até São Paulo, e escolheu para visita uma hora em que Rivelino não estava em casa, exatamente para ser recebido apenas por sua mulher.

Quando ela abriu a porta, lá estava Horta com um buquê de flores, iniciando seu sedutor discurso sobre as belezas do Rio de Janeiro que, somadas aos questionamentos que Rivelino enfrentava no Corinthians em função do jejum de títulos, eram motivos mais que suficientes para que a mulher do craque tomasse a decisão definitiva pelo casal: a transferência para o Fluminense.

O que aconteceu depois disso, ficou para a história. Rivelino foi o principal nome da Máquina Tricolor, tendo atuado pelo Fluminense entre os anos de 1975 e 1978. Nesta época, o Fluminense se tornou o time mais falado do Brasil, apesar de ter conquistado “apenas” dois campeonatos cariocas (1975 e 1976), tendo passado em branco nos campeonatos brasileiros.

Eu coloco o “apenas” entre aspas, porque a importância que o campeonato carioca tinha na época muitas vezes superava a do próprio campeonato brasileiro. Sendo assim, podemos dizer que o Fluminense ganhou duas vezes um dos campeonatos mais importantes do Brasil.

Mas porque inicio esta coluna falando de Francisco Horta?

Sei que existe um embate na torcida tricolor com relação ao ex-presidente. Enquanto uns o enxergam como um visionário para a época, responsável direto pela montagem da máquina, outros o responsabilizam pelo início do crescimento da dívida do clube, que trouxe impacto direto na profunda crise que vivemos anos depois, mais especificamente na década de 90.

Eu não entrarei neste debate, já que não era nascido na época (sou de 1981), e não é este o objetivo deste texto.

O debate que quero suscitar aqui é outro, sobre o tamanho do sonho que o Fluminense deve ter.

Rivelino era, na época, o maior jogador brasileiro em atividade. Horta teve este sonho, e conseguiu realizá-lo. E como era o presidente do clube na época, significa que o sonho do Fluminense era o de contar com o maior jogador brasileiro em seu elenco.

Ah, mas o Horta não pensou no futuro! Não se importou com o imenso déficit que suas atitudes levariam anos depois ao Fluminense!

Como eu disse, não vivenciei a época. Mas sim, se é verdade que ele endividou o clube, significa que seu plano tinha falhas, não tendo sido, portanto, perfeitamente executado.

Mas e os ganhos à imagem do clube? O que significou a máquina tricolor à época? Quantos meninos passaram a torcer pelo Fluminense depois disso?

Enfim, não é este o objetivo do debate. Usei este exemplo apenas para que possamos mensurar se, nos tempos atuais, o Fluminense de fato tem sonhado como Fluminense.

Muito me assusta ouvir, por exemplo, que os sonhos do presidente do Fluminense para treinador são Ney Franco e Enderson Moreira.

Ora meus amigos, sei que o Fluminense já teve diversos treinadores ruins ao longo de sua história, assim como todos os outros grandes clubes do futebol brasileiro.

Estas coisas acontecem, seja em função de uma escassez do mercado, seja em função de uma dificuldade momentânea do clube em investir.

O que não podemos aceitar, nunca, é o apequenamento do sonho tricolor!

Eu vou selecionar aqui algumas frases de grandes personalidades históricas sobre sonhos:

– “Alguns homens veem as coisas como são e dizem ‘Por quê?’. Eu sonho com as coisas que nunca foram e digo ‘Porque não?’” (George Bernard Shaw (1856-1950), dramaturgo e romancista irlandês. Prêmio Nobel de Literatura em 1925);

– “Nós somos do tecido de que são feitos os sonhos” (Willian Shakespeare (1564-1616, dramaturgo e poeta, reconhecido como o maior dramaturgo de todos os tempos);

– “O sonho é a satisfação de que o desejo se realize” (Sigmund Freud (1856-1939), neurologista e fundador da psicanálise);

– “Se podemos sonhar, também podemos tornar nossos sonhos realidade” (Walt Disney (1901 – 1966), produtor de desenhos animados, diretor, roteirista e dublador);

– “Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã” (Victor Hugo (1802 – 1885), um dos maiores escritores românticos da França no século XIX, autor de “Os Miseráveis” e “O Corcunda de Notre Dame”, dentre outras);

– “A esperança é o sonho do homem acordado” (Aristóteles, filósofo grego, discípulo de Platão. Dedicou sua vida ao desenvolvimento de conceitos fundamentais de ética, lógica, política, e outros, que são usados até hoje);

– “Um sonho sonhado sozinho é um sonho. Um sonho sonhado junto é realidade” (Raul Seixas (1945 – 1989), músico, compositor e cantor brasileiro, considerado um dos maiores representantes do rock Brasil);

– ”O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos” (Eleanor Roosevelt, embaixadora dos EUA na ONU, diplomata e ativista dos direitos humanos, e esposa do ex-presidente americano Franklin Roosevelt);

– “Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor” (Johann Goethe (1749 -1832), escritor, cientista e filósofo alemão);

– “Tudo o que um sonho precisa para ser realizado é alguém que acredite que ele possa ser realizado” (Roberto Shinyashiki, psiquiatra, conferencista e escritor brasileiro. Seus livros abordam temas como a qualidade de vida e a motivação);

– “Sonho em ver Cristóvão, Ney Franco ou Enderson Moreira treinando o Fluminense” (Peter Siemsen, presidente do Fluminense entre os anos de 2011 e 2016).

Será que achamos alguém aí fora de contexto? E logo o presidente do nosso clube?

Desculpem amigos, mas está tudo errado. O Fluminense que eu conheci, que eu aprendi a amar, não pode ter sonhos e pretensões tão pequenos.

Se o clube está sem dinheiro, é preciso pensar em aumento de arrecadação.  Como? Eu não sei. Por isso não me candidato a presidente do clube. Mas quem se propõe a tal, precisa agir de forma diferente. De acordo com o real tamanho do Fluminense.

Ah, mas você quer que a diretoria abra mão da austeridade financeira e comece a cometer loucuras?

É claro que não. E é exatamente por isso que não entrei na discussão com relação ao Horta.

O exemplo que dei do ex-presidente é sobre o que ele sonhava, almejava para o clube, e o que fez para realizar suas aspirações.

Sei que as épocas são outras, e ninguém aqui é maluco de pedir que o Peter leve flores para as mulheres dos jogadores ou técnicos que o Fluminense pretenda contratar.

Mas se estamos sem dinheiro, temos que ser criativos e precisos. Coisas que esta diretoria não está sendo.

Reclamam do dinheiro mas (i) assinaram este contrato de cotas distorcidas com a Globo; (ii) assinaram por valores relativamente baixos com a Vitton 44, poucos dias após o encerramento do patrocínio com a Unimed; (iii) não estão tendo sucesso na captação de outros patrocinadores; e (iv) não conseguem alavancar e gerir de forma produtiva o programa de sócio torcedor.

Ou seja, precisamos aumentar nossas receitas e, infelizmente, a diretoria está sendo bastante incompetente nesta esfera.

Então, que pelo menos nossos sonhos se mantenham intactos. A torcida tricolor exige que a diretoria pense e aja sabedora do tamanho do clube, tendo aspirações compatíveis com a importância do Fluminense para o futebol brasileiro.

Quando a aberração Ricardo Drubscky caiu, porque não tentamos um técnico de ponta? Precisávamos fechar com o Enderson em menos de 24 horas?

Pelo amor de Deus, eu sei que estamos sem dinheiro! Mas é preciso botar a criatividade para funcionar. É preciso ter sonhos! É preciso pensar em alternativas! E não são em 24 horas que elas aparecerão!

Façam um planejamento, elejam um nome de meta, e tentem! Negociem, tentem baixar o salário, arrumar patrocínio especifico, seduzir o treinador com metas, enfim… Mas tentem!!!!

E se não desse certo, depois de feitas as devidas tentativas, aí sim passaríamos à contratação do Enderson!

Não acho que ele seja o pior técnico do mundo. Acho até que ele é bem melhor que o Drubscky. Mas não vai trazer a calma e a confiança que o clube precisa neste momento.

Claro que sempre vamos torcer para dar certo. E espero poder escrever uma coluna nos próximos meses dizendo: “eu não entendo nada de futebol!”.

Mas o fato é que nosso presidente e essa diretoria precisam ter sonhos um pouco mais condizentes com o tamanho do clube que dirigem. Antes que seja tarde demais.

Abs,

Alan Petersen