O tricolor Jô Soares marcou a minha infância




Jô Soares



(por Renan Reis)

Durante as férias escolares de julho, o apresentador e seus convidados me faziam companhia nas geladas madrugadas de Vila Valqueire.

Com a casa em silêncio, escura, descia as escadas na ponta dos pés e nadava até a cozinha – os movimentos com os braços, na tentativa de não bater em algum objeto e arruinar minha semicriminosa empreitada, me transformava numa espécie de Michael Phelps café com leite. Já na cozinha, preparava um sanduíche e iniciava a escalada rumo ao conforto do meu quarto.

Ao ligar a TV, lá estava ele, uma figura peculiar, elegante, com uma aura de sofisticação acolhedora e diferente. Meu irmão sempre chamava atenção para a suposta semelhança com o Papai Noel, mas nunca me convenceu. Jô distribuía presentes, mas de uma forma diferente. No final das contas, acho que lhe faltava barba para incorporar o ”bom velhinho.”

Com um senso de humor ímpar e fina inteligência, Jô tinha a incrível capacidade de fazer qualquer entrevistado soar interessante, por mais simplório que fosse. Os assuntos flutuavam num atraente rio de conteúdo. Ao fundo, as furiosas risadas de Bira representavam a trilha sonora perfeita para aquela explosão de entretenimento.

Humorista, apresentador, ator, diretor, dramaturgo e escritor. Jô Soares viveu várias vidas em uma só. Em todas elas, foi genial. O ilustre torcedor do Fluminense pertence a uma casta de figuras que jamais serão esquecidas. Em 84 anos, esculpiu magistralmente seu nome na tábua santa da eternidade.

Serginho Groisman que me desculpe, mas, no meu coração, ”a vida inteligente na madrugada” sempre estará associada ao programa do sr. José Eugênio Soares. SEM-PRE!

Infelizmente, não me recordo da última vez em que ouvi ”um beijo do gordo”. Deve ter sido nas férias escolares de julho, comendo um sanduíche, numa gelada madrugada em Vila Valqueire…