Pela transparência no clube e independência do futebol




Enfim, a zona de rebaixamento é nossa realidade mais uma vez. Apesar de ainda ostentarmos a “honrosa” 16ª colocação, o Cruzeiro vem logo atrás com o mesmo número de pontos, perdendo apenas nos critérios de desempate. Enfim, não teremos descanso até o fim do campeonato.

Mas na coluna de hoje gostaria de seguir a linha de Vinicius Toledo e tratar dos gastos do Fluminense e a completa falta de transparência da atual diretoria. As críticas seguem a mesma linha das que fiz com relação à gestão de Pedro Abad e da Flusócio. Porém, parece que entra um e sai outro e ninguém consegue resolver a situação, que é obrigação legal.

Obrigação legal porque a Lei de Responsabilidade Fiscal do Esporte, também conhecida como Lei do PROFUT. Ela exige que os clubes tenham ampla e irrestrita transparência das suas receitas e despesas, prestando contas aos sócios e aos torcedores – sim, a lei cita expressamente os torcedores.  

E o estatuto tricolor permite, em último caso, que ocorra até o impeachment do Presidente que não cumprir a sua obrigação, em texto editado a partir da obrigação de adequação dos estatutos dos clubes à referida lei, sob pena de não ter acesso aos incentivos fiscais e subvencionais que ela propõe. Os clubes que aderiram e se adequaram, tiveram seus débitos parcelados em até 240 meses, com descontos de 70% das multas e 40% dos juros. O Fluminense foi um dos que fizeram a adesão.

Contudo, as notícias dos últimos meses dão conta de que o Fluminense teve grandes dificuldades de honrar o compromisso com o Profut, o que também ocorreu nos anos anteriores. Em entrevista concedida em setembro deste ano, Mário Bittencourt disse que a diretoria estava resolvendo a questão, exceto quanto ao “Profut do PGTS”, dizendo que este caso é “algo já perdido” e que o clube “estava recorrendo”. Em resumo, se perder o tal recurso que interpôs – e a possiblidade é real, já que dívida é conta matemática e os recursos apresentados em casos assim geralmente servem apenas para ganhar tempo – o Fluminense pode sair do Profut e elevar de vez os débitos tricolores a patamares nunca antes visto e quase “impagáveis”, se é que já não estão.

Mas, por certo, nenhum tricolor tem a informação exata do tamanho da dívida do Fluminense com o Profut. E nem em que pé anda as discussões jurídicas que citou na entrevista. Sabem por quê? Por causa da ausência completa e absoluta de transparência. Se você, torcedor, quiser saber como andam essas e outras questões, não terá acesso à informação, porque está tudo escondido nas entrelinhas dos balancetes divulgados pelas sucessivas diretorias.

Confesso que há algum tempo queria escrever algo sobre a transparência do clube na atual diretoria. Mas é importante dar um tempo para que o presidente e sua equipe possam tomar pé da situação e dar indicativos do que pretende fazer. Porém, desde junho, quando assumiu o cargo, Mário Bittencourt não sinalizou se pretende abrir as contas tricolores e cumprir o seu dever de transparência.

Várias críticas podem ser feitas quanto a essa grave falha na gestão do clube, mas vou resumir em três.

Em primeiro lugar, ninguém tem notícia de nenhuma auditoria externa sendo realizada. Há apenas informações de que alguns funcionários realizam levantamentos sobre a situação do clube. No entanto, nada comparado a um trabalho profissional que poderia ser feito por uma empresa de ponta no setor. 

Depois, ninguém ainda sabe sobre os nomes que trabalham na burocracia das Laranjeiras e nem quais cargos exercem. E os números deste ano mostram que os gastos no setor quase dobraram. Houve um aumento de R$ 1,9 milhões em 2018 para R$ 3,7 milhões em 2019.

Terceiro, os valores do futebol servem para pagar todas as despesas do clube. Dos esportes olímpicos aos burocratas, passando pela recreação dos piscineiros. É isso mesmo! O dinheiro que eu, você e todo tricolor Brasil afora paga para manter a sua paixão também é utilizado pela turma que usa a piscina do clube. Como não há separação entre a parte social e o futebol, os valores abastecem um só cofre e de lá é subdividido, ainda que sejam contabilizados em setores distintos. Em resumo: o tricolor que paga o plano sócio-futebol também está colaborando para a diversão dos frequentadores da sede de Álvaro Chaves. Um assombro!

De todo modo, é importante que todo tricolor cobre da diretoria a transparência devida pelo clube. Não é por curiosidade; é por ser obrigação legal. Além disso, esse é o único jeito de sabermos o valor real das receitas e das despesas do clube e a atividade de cada um na diretoria, permitindo a análise e cobrança do torcedor quanto a eventuais gastos desnecessários ou até mesmo indevidos que possam existir.

Ser Fluminense acima de tudo! 

Evandro Ventura