Por que o fair play financeiro é o assunto do momento?




Foto: BCB / Divulgação

Por que o fair play financeiro é o assunto do momento? (por Lindinor Larangeira)

O futebol brasileiro vai mal. Dentro e fora de campo. A lamentável participação na Copa América e a pífia vitória sobre o Equador refletem esse momento ruim nas quatro linhas. Recentemente, quem nos trouxe o melhor resultado foi o futebol feminino, com a conquista da medalha de prata olímpica.

Fora dos gramados, a novidade apresentada como grande panaceia é o fair play financeiro. De antemão, ninguém pode ser contra a justiça e a equidade no esporte que é paixão do povo brasileiro. Porém, como o nosso país não é para principiantes, desafinar o coro dos contentes, trazer questionamentos para tornar a discussão mais clara, contextualizar o debate, para além da mera retórica fácil de dirigentes, que só pensam nos interesses de seus clubes, quando não nos pessoais. Isso deveria ser a missão do bom e velho jornalismo. Coisa rara por essas bandas, principalmente quando falamos em jornalismo esportivo.

Por que será que o tema só veio à tona, de maneira mais enfática, após uma goleada de 4X1 (fora o baile), na 24ª rodada do Brasileirão, em agosto?
Por que os clubes que, agora mais reiteram uma “posição firme” em relação ao fair play financeiro, são os que mais se posicionam contrariamente à criação de uma liga unitária? Clubes que, aliás, gozam, um deles, de recursos de uma entidade financeira e o outro de estranhas benesses dos poderes públicos, nas esferas municipal, estadual e federal.

Antes de vociferar pela implantação do fair play financeiro, a sobrevivência dos clubes está mais ligada a se construir uma liga unitária, em que o tal fair play financeiro comece na distribuição menos desigual de verbas e na regulamentação de um futebol realmente profissional.

Como profissionalismo parece ser uma palavra maldita para os nossos cartolas, vivemos uma verdadeira Lei da Selva. Um aprofundamento do cada um por si, em que todos só tem a perder.

O sonho dourado da vênus platinada, de um processo de espanholização do nosso futebol, em que um Barcelona e um Real Madri protagonizassem o esporte, coadjuvados por outros 10 ou 12 clubes figurantes, foi por água abaixo. Ninguém parece ter falado aos estrategistas daquela rede de TV, que os pretensos coadjuvantes são clubes grandes, tradicionais e com imensas torcidas.

Felizmente, a influência empresarial desse grupo diminui com o fim do contrato de exclusividade de transmissão do campeonato brasileiro. Fizeram uma aposta de fechar com um dos blocos, a Libra, para tentar enredar o outro grupo, a LFU. Creio que, se não saíram perdendo, tiveram, no máximo, um empate.

O artigo de hoje (9/9) do colunista Rodrigo Capelo, no jornal O Globo (“Fair play financeiro já!”), é uma demonstração de que o ex-grupo hegemônico da comunicação brasileira acusou o golpe. A desfaçatez é tão grande que o porta-voz, digo, jornalista, escreve em seu texto: “Fair play financeiro não existe para equilibrar o campeonato, e sim para tornar a indústria mais saudável. não existe para equilibrar o campeonato, e sim para tornar a indústria mais saudável.” Saudável para quem, cara pálida? Para os seus empregadores? Para os clubes da preferência deles? O que se deve entender por competição mais saudável, é sim o equilíbrio e a competitividade. O exemplo da NBA e agora da NFL, que este mês abriu as portas do mercado brasileiro e promete trazer seu espetáculo para mais cidades brasileiras, são cases a serem estudados.

Mas afinal, o que é esse tal fair play financeiro? De maneira simples, trata-se de um conjunto de regras que visa o controle financeiro dos clubes, garantindo que eles se tornem sustentáveis no longo prazo. Essas regras auxiliam os clubes a honrar seus compromissos com outros clubes, funcionários e até mesmo com o Estado.

Tem como premissa básica que um clube não pode gastar além do que arrecada. Controlar as dívidas, evitar atrasos salariais e operacionais. Na Europa, a Uefa adota este sistema desde 2009, com várias atualizações ao longo dos anos.

Segundo o economista Cesar Grafietti, que apresentou um projeto de fair play financeiro à CBF em 2019, “um clube não pode gastar além do que arrecada, não pode ter problema de dívidas, não pode ter atraso de salários”. O objetivo é claro: manter os clubes saudáveis financeiramente. A Uefa, por exemplo, estipula um limite de até 60 milhões de euros em prejuízos acumulados por três temporadas, sendo flexível até 90 milhões de euros se houver aporte dos acionistas.

Grafietti apresentou à CBF, em 2019, um plano de fair play financeiro que focava no controle de dívidas e gastos. Segundo ele, o objetivo é permitir que clubes menos endividados tenham mais liberdade para investir em salários e contratações. “Temos que fazer um trabalho de controle desse endividamento para que os clubes voltem a ser saudáveis e tenham capacidade de investimento real”, afirmou.

Outra questão a ser posta é: por que depois de cinco anos e somente com a implantação das SAFs, o debate voltou com tudo à ordem do dia?

A Comissão Nacional de Clubes iniciou, na primeira semana deste mês, um debate para a implementação do fair play financeiro no futebol brasileiro. Em reunião realizada na sede da CBF, no Rio de Janeiro, o grupo teve uma discussão ainda embrionária para que medidas sejam tomadas para 2025.

Participaram do encontro representantes de: Fluminense, São Paulo, Fortaleza, Internacional, Vasco, Atlético-GO, Flamengo e Palmeiras, que representam os 60 clubes das Série A, B e C. Além de dois representantes da Série B e um da Série C.

Durante a reunião, que será realizada mensalmente na CBF, foram discutidos temas como calendário, arbitragem, e a possibilidade de uma análise para a implementação do fair play financeiro no Brasil. Os clubes ficaram de marcar uma nova reunião, sem data prevista, para tentar avançar no modelo de implementação.

Mas como acreditar que existem boas intenções? É bom lembrar as declarações do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, após a humilhante goleada, em um grupo interno de WhatsApp: “Acho que só neste ano eles já investiram 75 milhões de euros (cerca de R$ 450 milhões), ou seja, aproximadamente o número que você apresentou como sendo desde 2021. Isso para um clube que teve um faturamento de R$ 322 milhões no ano passado. Sejam bem-vindos aos tempos de SAF sem fair play financeiro”, escreveu Landim, no grupo.

Landim tem razão em um ponto: “bem-vindos aos tempos da SAF”. É uma realidade, em que não apenas uma discussão posta, de maneira hipócrita, é necessária. Mas a necessidade de se refundar o futebol brasileiro, em bases mais profissionais, justas e competitivas é uma urgência.

O risco é que as SAFs em que os investimentos sejam mais robustos se distanciem dos demais clubes, criando um campeonato em que poucos disputem de verdade e a maioria apenas faça figuração. Esse é um modelo absolutamente insustentável. E pensando o futebol como um produto, seria algo ruim e difícil de vender.

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Bom senso é necessário, antes que a NBA e a NFL deem mais Ibope do que o Brasileirão, já que a Champions League, já ganha essa disputa de goleada.

PS1: Quer dizer que Agner já treina entre os profissionais do Palmeiras?

PS2: Marcelo vai ser lateral na Libertadores?

PS3: Germán Cano voltando com tudo? Eu acredito!