Primeiro título pelo Fluminense, gol decisivo de Gabriel Pirani, semifinais do Carioca e muito mais: leia a entrevista coletiva de Fernando Diniz






Fernando Diniz concedeu entrevista coletiva no Maracanã

Logo após o Fluminense derrotar o Flamengo por 2 a 1 e conquistar a Taça Guanabara, na noite desta quarta-feira (08), o técnico Fernando Diniz concedeu entrevista coletiva no Maracanã. Confira abaixo todas as respostas do treinador tricolor:

1º título pelo Fluminense 

“Estou muito feliz por ser meu primeiro título nessa casa. Não é o meu primeiro, ganhei títulos de menor expressão que as pessoas desconsideram quando é conveniente. Mas para mim tem coisas muito mais importantes na vida que é o trabalho de quem faz com justiça, clareza… Que os títulos sejam sempre consequência de um trabalho bem feito, de muitas mãos. Fluminense tem uma desproporção muito grande de receita para o nosso rival e outros rivais, mas com muito trabalho a gente consegue ir tirando essa desvantagem. Sabemos que a temporada está só começando, o Campeonato Carioca terminou a primeira parte e já recomeça com um jogo super duro provavelmente no domingo contra o Volta Redonda.

Quero agradecer muito meus jogadores, staff, trabalho de muitas mãos. A gente sabe que amanhã já tem que se apresentar para treinar à tarde, tendo maior respeito com o Volta Redonda (adversário na semifinal), mas até amanhã à tarde vamos dar uma celebrada. Quero dedicar esse título às mulheres, a gente sabe como elas são importantes, e de maneira especial às minhas mulheres: minha esposa Simoni, minha filha Caroline e em memória da minha mãe, que não está mais entre nós, mas foi uma guerreira que criou oito filhos no braço.”

Primeiro tempo ruim do Fluminense 

“Foi diferente do jogo do Vasco. Contra o Vasco foi um dos piores 1º tempo desde a minha primeira passagem em 2019. Hoje acho que foi um jogo mais equilibrado, mas não foi um domínio do Flamengo. Eles tiveram chances, nós tivemos, foi um jogo muito truncado, nervoso, jogo muito parado. Faço uma ressalva aqui justa, porque o juiz não dar aquela falta no André era uma coisa escandalosa, desproporcional, que eu não consegui entender até agora. Se não tivesse VAR, o cara iria dar um gol daquele. (…) Mas não achei que o 1º tempo foi ruim, a gente estava jogando, mas podia jogar melhor. O jogo contra o Bangu usamos muita amplitude, nesse era para jogar com mais aproximação, e foi assim que saíram os dois gols.”

Críticas à arbitragem

“Ele estava a dois metros do lance, o cara puxa o André descaradamente. O André até largou, ele não perderia aquela bola se quisesse ficar, porque é muito forte. Ele só deixou porque era absurdamente clara (a falta). Então falar quando ganha, porque senão parece desculpa de perdedor. Mas não é. Aquilo é uma falta de respeito com quem trabalha no futebol e poderia ter determinado o vencedor da Taça Guanabara. E não pode acontecer isso, não pode. Tem erros que todo mundo erra, mas aquilo não é um erro que pode ter em um jogo de final de campeonato. Isso é revoltante.”

Substituições no intervalo

“Acho que faltava um pouco mais de ter a cara que o time tem, do melhor Fluminense. Ter um pouco mais de ousadia para jogar, ter o gosto de jogar futebol e tomar os riscos que a gente tem que tomar. Time não estava mal no primeiro tempo, mas senti que faltava um pouquinho mais e fiz as mudanças.”

Gol do título marcado por Gabriel Pirani 

“O Pirani é um jovem, daqueles que precisa de um pouco de atenção e carinho, que eu gosto de dar. Já tinha trabalhado no Santos, antes de sair foi um dos grandes destaques na minha passagem. Ele estava bem convicto, é um moleque diferente, muito educado, chegou muito bem treinado, então tinha muita convicção de colocá-lo. A ida do André para a zaga também era para empurrar o time mais para frente, porque o André faz muito bem isso, e o Lima está cada vez mais ambientado com o time. Então as mudanças eram muito claras para mim, quando estava terminando o primeiro tempo, daquilo que eu iria fazer.”



Risco calculado?

“Acabou dando certo. Obviamente podia ter dado errado, mas na vida temos que tomar riscos. Era um risco bastante claro para mim a tomar, e as coisas deram certo. Quantas vezes cheguei aqui sem ganhar e defendi as posições de o time ter coragem para jogar, ter alma, ser voluntarioso e entregue ao torcedor, caso o resultado não venha, mas que eles sintam orgulho do time. Então independentemente se o título não viesse, porque veio no finalzinho, tenho certeza que o torcedor reconheceria um time de guerreiro, que luta.”

Escalação do Flamengo 

“Eu acho ele um grande técnico. O trabalho que ele fez no Corinthians foi excelente, no sentido tático, cara que estuda muito o jogo. Mas a escalação surpreendeu sim, a gente não esperava esse time do Flamengo nem dessa forma. O Flamengo não jogou em nenhum momento com três zagueiros de origem. Jogou com Thiago Maia fazendo um pouco essa saída de três, puxava um pouco o Ayrton Lucas, mas com três zagueiros especificamente não. Então mudou um pouco a forma de jogar.

O jogo mais parecido com esse que eles fizeram na formação tática, a gente foi buscar meio que rápido hoje mesmo, foi contra o Botafogo. Ficou um time com mais força física, mais descansado, e foi uma tentativa válida. Soubemos encarar o 1º tempo, no segundo fizemos as correções e saimos com uma vitória bastante justa.”

Germán Cano novamente decisivo 

“A coletividade não inibe a individualidade. Pelo contrário, a coletividade tem que ser forte para os indivíduos irem bem. O Arias também se destacou hoje, o Cano, o Pirani… E falar do Cano é chover no molhado. Eu tenho uma relação com ele que começou lá no Vasco. Ele representa muito do que eu penso da coletividade, você vê ele voltando para marcar o tempo todo e sendo premiado.”

Saída de Keno no segundo tempo 

“Faz sentido se você achar que foi desequilibrado contra o Bangu, que foi nosso melhor jogo da temporada. Tem jogos que são diferentes. Hoje era o que pedia o jogo. Contra o Bangu o Keno foi bem demais, o Arias não jogou quase nada no meio, foi praticamente aberto. Hoje o Pirani funcionou melhor, mas não temos uma maneira só de jogar. A gente não sabia como o Flamengo ia se comportar e qual ia ser a dinâmica do jogo. Podia até corrigir sem mexer, mas achei que com as mexidas iria ter uma chance maior de virar o jogo.”

Semifinais do Campeonato Carioca 

“Foi um time que para mim, desde quando assisti aos jogos deles antes de enfrentá-los, tinha chance de fato de conquistar e um dos grandes ficar fora. Para mim não era nenhum absurdo. É um time muito bem treinado, com bons jogadores. Um deles, que é o destaque, o Lelê, para nossa alegria vai fazer parte do nosso elenco. Mas tem outros grandes jogadores lá. Sabemos da dificuldade que vamos enfrentar, e a partir de agora já estamos pensando em como vamos encará-los. Se for o Vasco, bom, tanto um como outro vamos ter dificuldades. Mas independentemente de quem seja, serão grandes jogos.”

Como controlar os ânimos do time?

“Minha formação em psicologia não ajuda nada nessa hora (risos). Eu sou técnico, não psicólogo. Acho que tivemos equilíbrio emocional, não tivemos ninguém expulso (nota da redação: ele esqueceu do vermelho para o Felipe Melo no fim). Soubemos jogar o jogo, 1º tempo muito mais quente do que precisaria, mas acho que todo mundo conseguiu ir num limite aceitável para levar o jogo até o final.”

Relação com os jogadores tricolores 

“Essa relação minha com os jogadores é um troço que… Talvez a alma do meu trabalho seja a relação que estabeleço com os jogadores. Acho que o futebol é um meio, não um fim, para melhorar a vida das pessoas, em especial a dos jogadores. Carrego comigo sempre esse desejo de melhorar a vida deles. Carrego também um receio grande do que vai acontecer na vida deles quando encerrarem a carreira em média com 35 anos. Tem um jogador que eu fui que nunca vai deixar de existir dentro de mim. Fui um jogador típico brasileiro: nasci em uma família com oito irmãos, fui órfão de pai muito cedo, criado na periferia de São Paulo, na Zona Leste. Eu sei o que é ser jogador, como o sistema é muito bruto, cruel.

A gente vê um jogador de 16, 17 anos, se não rende já é massacrado emocionalmente. Então a minha vida é de dedicação para os jogadores. Acho que consigo atingi-los porque é uma coisa muito verdadeira. Acho que é o que eu faço de melhor. Aí por conta desse cuidado eu desenvolvo algumas coisas táticas que é um subproduto do principal que é a intenção de ajudar. E depois disso criar essa simbiose de jogador com torcedor. Futebol que a gente conhece, todo mundo é secundário. A relação mais importante é a conexão dos jogadores com a torcida. Isso é uma coisa muito linda, mas tem que partir dos jogadores, eles que têm que entregar o resultado, a performance para o torcedor se alegrar. Quando isso se concretiza com título, é um motivo de muita satisfação para mim.”

Sentimento do título

“Estou de fato muito feliz pela conquista, mas por ela premiar um trabalho de muita gente. Desde o Mário, Angioni, que é um grande parceiro de vida. Podia ter sido do Flamengo também, mas como foi do Fluminense vale muito ressaltar um trabalho de todo mundo.”