Renovações com veteranos, possível venda de Marcos Paulo, meta de sócios e muito mais: leia a entrevista coletiva de Mário Bittencourt




Foto: Lucas Merçon / Fluminense F.C.



Mário Bittencourt concedeu coletiva no CT Carlos José Castilho

No começo da tarde desta sexta-feira (07), o presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, concedeu uma longa entrevista à imprensa no CT Carlos José Castilho. O mandatário tricolor respondeu perguntas sobre diversos assuntos, tais como: venda de Gilberto, futuro de Marcos Paulo, reposição para a lateral-direita, contratação de reforços, renovações com veteranos, meta de sócios, relação com Celso Barros e processos da FERJ. Confira abaixo a íntegra da coletiva:

Venda de Gilberto

– Ele viajou para fazer exames médicos,e depende sempre dessa concretização, mas se der tudo certo lá, a gente vai obviamente concluir essa operação… Nós estávamos caminhando para renovar o contrato dele quando chegou a proposta. Ele havia recebido sondagens de dois clubes do Brasil. Eu disse que para o Brasil eu não fazia. Para perdê-lo para um clube brasileiro, eu deixava ele aqui, até porque é um jogador muito importante para nós. Eu gosto muito do futebol dele e gosto também da pessoa. É um jogador que contribui muito, tem um caráter espetacular, que incorporou o espírito guerreiro do nosso clube, da nossa torcida. Nós não tínhamos assinado a renovação, tínhamos definido os valores, definido tempo de contrato. Quando a proposta chegou, no mesmo dia a gente chegou a uma definição. E realmente foi uma boa proposta. Para o Gilberto, ele merece progredir na carreira, é um profissional muito correto… E espetacular para nós também. Se você imaginar que nós fizemos a aquisição dos 50% de direitos econômicos dele por 80 mil euros e estamos fechando uma operação, dos nossos 50% por 1,5 milhão de euros, é realmente uma oferta que a gente não poderia deixar de aceitar. A contraproposta foi por questão de parcelamento do pagamento, não foi questão de valores. Os valores o Fluminense aceitou de imediato. E foi acatada a proposta do Fluminense de parcelamento.

Reposição para a lateral-direita

– Muitos nomes são oferecidos e muitos a gente já tem aqui monitorados. O nosso departamento de scouts monitora muitos nomes ao longo do ano de todas as posições. Não há nenhuma negociação em curso ainda com nenhum jogador para substituir o Gilberto na posição. Há alguns nomes que foram oferecidos e outros que a gente gosta e está buscando informações sobre possibilidade de vinda, enfim, sobre questão contratual, sobre valores que se encaixem no nosso orçamento. A gente trabalha hoje com orçamento definido. A gente, por enquanto, não tem nenhuma negociação em curso e nenhum nome definido. Em breve, a gente encontrando um nome que nos agrade e que caiba dentro do nosso projeto, a gente certamente vai informar a vocês.

Contratação de reforços

– Condição financeira de comprar jogadores, de adquirir jogadores, o Fluminense no momento não tem. Então, esse “ser cirúrgico” sem dinheiro é completamente diferente. Quando se tem um faturamento astronômico e se tem possibilidade de comprar um jogador por milhões e milhões de euros, a possibilidade de acertar é muito maior. Basta que você olhe para o mercado, ver quem foram os melhores jogadores dos melhores times da temporada passada e vai lá e compra. Não temos essa possibilidade, então vamos continuar tentando buscar jogadores que estejam dentro do nosso orçamento. Alguns vão dar certo, outros não… Este ano, inclusive, essa avaliação se torna ainda mais superficial, porque você começa o ano e dois meses depois do início da temporada você tem uma paralisação de praticamente cinco meses. É um ano muito diferente de tudo que aconteceu nos últimos 100 anos. Nós vamos continuar na nossa filosofia, no nosso trabalho, tentando buscar aquilo que cabe dentro da nossa caixa e tentar fazer com que a pouca condição financeira que a gente tem, que a gente consiga montar um time mais competitivo ainda do que ele foi já é.
O Banco Itaú BBA fez um estudo recentemente que estatisticamente comprovou: os times que disputam os títulos no mundo inteiro, especialmente no Brasil, são os que mais têm dinheiro e que mais gastam dinheiro com o seu time de futebol. Por uma questão simples: a temporada é longa, o Campeonato Brasileiro tem 38 rodadas e quem tem mais dinheiro, tem peças de reposição da mesma qualidade. E clubes como nós, como o Bahia, Botafogo, Vasco, enquanto não organizarem a casa, refizer os alicerces, vão ter dificuldades para contratar, buscar peças de reposição… Quando tem propostas de venda, acabam tendo que fazer a operação da venda para poder salvar a dívida enorme que foi deixada anteriormente e, mesmo assim, nós estamos conseguindo montar times competitivos e, como você mesmo falou, ano passado tivemos algumas grandes descobertas nessas apostas que nós fizemos. O Allan, Caio Henrique, o Nino… E temos uma divisão de base que nos traz grandes jogadores todos os anos. Jogadores que podem ir suprindo essas faltas. Nós vamos continuar com a mesma filosofia, realista, austera e de pés no chão, tentando buscar boas oportunidades com o pouco dinheiro que a gente tem.

Renovações com veteranos

– É óbvio que a gente comete erros e tem acertos aqui dentro. Só que a gente tem os dados estatísticos e técnicos. O que é ser velho para jogar futebol? O Leonardo Silva renovou o contrato com o Atlético-MG diversas vezes, o Mauro Galvão foi campeão titular pelo Grêmio da Copa do Brasil com 41 anos de idade. O Nenê tem 39 anos de idade e tem uma performance física aqui dentro nos treinos físicos semelhante a dos atletas de 27 anos.
Ano passado, a nossa média de idade era muito baixa. E o que que isso comprova para nós? Os times que chegam no topo da tabela, que tem melhor performance, além da questão financeira, são times mais maduros. O que é considerado um time maduro? Um time com média de idade entre 27 e 28 anos. Só que quando a gente fala de média, a gente fala da média dos 30 jogadores que compõem o elenco. A média do Flamengo é quatro anos maior do que a nossa. A nossa média de idade do elenco hoje é de 24 anos.
“Ah, não aproveita a base”. Isso é a coisa que eu mais leio. Como o Fluminense não aproveita a base? Dos três jogadores de frente, dois são de Xerém. O Fluminense não tem 11 jogadores da base no time titular. Quem é que tem? Aí por que a gente aproveita mais a base? A gente aproveita mais a base porque tem menos dinheiro e quem tem menos dinheiro, aproveita mais a base. E quem tem menos dinheiro tem mais dificuldade de comprar jogadores entre 27 e 28 anos ou de pegar emprestado. Por que? Porque é o jogador mais maduro. E quem pega o jogador mais maturado é quem tem mais grana. É assim.
A gente tenta encontrar jogadores que ainda consigam ter alta performance mesmo com a idade avançada, tenham uma saúde. Paulo Angioni sempre fala isso nas entrevistas dele: futebol é saúde e inteligência. Tem que ter saúde e tem que ter inteligência para jogar. Então o Nenê, por exemplo, é um jogador que tem saúde e inteligência. O Matheus Ferraz ainda tem saúde e ainda tem inteligência. O Fred ainda tem saúde e ainda tem inteligência. Sabe quantos jogadores nós temos no elenco acima de 30 anos? Nós temos oito jogadores acima de 30 anos no elenco todo. Temos 13 entre 24 e 30 anos, que é a média da maturidade. E temos 20 jogadores abaixo de 24 anos, ok? De todo mundo que está aqui. Eu incluo jogadores que sobem e descem do Sub-23.
E por que a gente iniciou essas renovações? Porque o campeonato acaba em fevereiro e os contratos acabavam em dezembro. Se eu chegasse em dezembro e tivesse disputando a Libertadores e perdesse oito jogadores por término de contrato, eu ia ser execrado. Quando a gente senta para renovar em razão de uma pandemia, a culpa não foi nossa, mas nós tínhamos vários contratos acabando em dezembro. A gente senta com equipe técnica, com médico, com fisiologista, com fisioterapeuta, com preparador físico, com treinador e pergunta: Esse jogador aqui eu posso estender o contrato? Nesse caso específico de 2020, nós temos ainda o agravante de que nós tínhamos grande parte dos contratos do elenco acabando em dezembro, e nós íamos perder metade do time faltando doze, quinze rodadas para acabar o Campeonato Brasileiro. Nós íamos ficar sem time.

Divergência sobre porcentagens no portal da transparência

– Por isso que vamos botar a terceira coluna. Quando assumi, pedi a lista de percentual que tínhamos dos jogadores para saber quanto o Fluminense detinha. Recebemos que tínhamos 100% de direitos econômicos do Marcos Paulo. E nós, realmente, temos. Mas existem contratos anteriores à minha gestão, contratos legítimos, de bônus para o próprio atleta, de exclusividade no comissionamento na venda para os empresários do atleta e também para pessoas que descobriram o atleta no passado, quando ele tinha 12, 13 anos. Se acontecer uma operação do Marcos Paulo, as pessoas vão dizer “mas poxa, o Fluminense vai receber só 70, 80%?”. É exatamente o mesmo caso do Gilberto. O instituto jurídico “direito econômico é nosso”, mas na receita líquida da venda teremos que cumprir contratos. Vamos abrir uma nova coluna para podermos clarear a cabeça do torcedor e de você também, porque não temos nada o que esconder. Vamos abrir de todos os jogadores.

Futuro de Marcos Paulo

– Um jogador tem três “setas”: performance esportiva, imagem e valor econômico. Por que o Marcos Paulo é a bola da vez, o jogador que tende a sair na janela? Por que ele subiu, performou, está se transformando em um jogador com uma imagem excelente e ele tem valor de venda. Vamos continuar vendendo jogadores. Vamos tentar fazer a melhor venda possível. O mercado está estagnado, é muito raro ter uma proposta. Certamente o valor que pode vir pelo Marcos Paulo será menor do que antes da pandemia. E com relação a renovação de contrato, temos uma relação muito boa com o jogador e o estafe que cuida da carreira do jogador. O Marcos Paulo tem uma gratidão enorme pelo Fluminense e sempre reforça que jamais sairá daqui sem que o Fluminense seja recompensado.

Projeto de reforma do Estádio das Laranjeiras

–  O tema se tornou um tema político. Todas as vezes em que o Fluminense tem um revés ou tem um tipo de insatisfação, o tema Laranjeiras é usado para tirar atenção da gestão. Quando eu me coloco de maneira realista sobre o tema, as pessoas fazem política, dizendo que eu sou contra. Em nenhum momento, ao longo da minha história como candidato, eu disse: “Vou fazer um novo estádio em Laranjeiras”. O meu plano de gestão dizia: “Vamos dar uma nova destinação às Laranjeiras, revitalizar o patrimônio”. Revitalizar não significa fazer a vontade de alguém sem nenhum embasamento técnico (…).
Exista uma corrente que defende a revitalização do estádio do jeito que ele está, para cinco, seis mil pessoas, para jogos de menor porte. Algumas pessoas dizem que tem que revitalizar para jogar os jogos deficitários. Desculpa, os jogos deficitários têm que acabar no futebol brasileiro. Estão me propondo construir um estádio para jogar jogos deficitários? Se você conta isso para qualquer cara especialista em finanças, ele vai dar uma gargalhada. Um clube que não paga imposto, que tem dificuldades para pagar salários, quem tem uma dívida de quase R$ 700 milhões está falando em construir um novo equipamento para suprir os jogos deficitários?
Nós recebemos um grupo de pessoas que diz ter um projeto para que o estádio possa ter 12 mil espectadores. E que na verdade o Fluminense tem que apoiar o estudo para eles arrecadarem uma receita para começar o estudo. Eles não estão falando que vão construir o estádio e nem sabem se é viável. O projeto é arrecadar fundos para saber se o estádio é viável. A nossa equipe interna que cuida de arenas, que cuida de estádio, a nossa equipe de finanças, não vê como um estádio de 12 ou 14 mil pessoas nas Laranjeiras consiga se pagar naquele lugar depois que ele estiver pronto. Com todo respeito, ninguém que faz parte do grupo trabalha em arena, jamais geriu uma arena. Vou colocar a nossa equipe de arenas, os nossos especialistas para mostrar ao grupo qual é o entendimento de quem trabalha com isso, de quem vê.
O projeto diz que nós venderíamos cinco mil cadeiras cativas para pagar a construção do estádio. Um estádio com 12 mil pessoas, que você tem que tirar do público 10% de gratuidade, 10% de visitante, se você vender cinco mil cadeiras cativas, você só vai ter quatro mil ingressos para o sócio-futebol. E hoje nós temos quase 40 mil sócio-torcedores. Nenhum clube grande do Brasil que desenvolve um programa de sócio-futebol caminha para ter uma arena menor do que 40 mil lugares. Nós temos um contrato hoje com uma arena que tem 60 mil, e nós estamos discutindo descer para uma arena de 12?
Não é que eu sou contra, sou realista de que nós temos que estudar o seguinte: se nós revitalizamos Laranjeiras para 12 mil ou 15 ou 8 ou 5, nós teremos resultado positivo? Ninguém tem esse estudo, porque a discussão é embrionária. E ainda disse mais: eu fico vendo as pessoas nas redes sociais, pessoas de 20 anos de idade, 18 anos, falando sobre a volta das Laranjeiras, como se a volta das Laranjeiras fosse garantir um crescimento exponencial da instituição e como se a gente fosse passar a ganhar título porque vai jogar nas Laranjeiras. Aí eu vou dar um dado que é o seguinte: o Fluminense ficou sem jogar em Laranjeiras de 1970 a 1986, ganhou o Brasileiro de 70, dezenas de estaduais e o Brasileiro de 1984, jogando no Maracanã. Aí depois Laranjeiras reabre de 1986 a 2003. De 1986 a 2003, nós não ganhamos nenhum título nacional e fomos rebaixados, jogando em Laranjeiras. E depois que Laranjeiras fecha, a gente ganha mais dois títulos nacionais e uma Copa do Brasil, e outros estaduais.
Virou uma obsessão, em um momento que o clube passa de dificuldade financeira, de reconstrução para que um dia possa voltar a ter dinheiro para investir num grande time de futebol.

Renovação com Pablo Dyego

– O contrato ia terminar. Ele tem um dos salários mais baixos. As pessoas mentem, atribuem valores aos salários dos jogadores que não existem, falam sobre um contrato que elas nunca viram. Ele tem salário ainda proporcional à base. Tem jogador que subiu da base e ganha o dobro. Aí, na proporção do tamanho do salário pelo tempo de contrato, com as possibilidades que ele tem de, de repente, ter uma venda para Japão, China, Coreia ou para outro clube do Brasil, ou empréstimo que remunere o Fluminense, fizemos a opção no momento, até porque a gente estava em início de temporada e precisávamos ter um elenco para começar o campeonato.
É óbvio que tem jogador que vamos renovar e acertar. Todas as decisões que tomamos não significa que não vamos errar. Todo mundo vai errar. Mas acho que no fim do meu dia, do meu mês, do meu ano, eu acerto mais do que eu erro. Foi o Paulo Angioni que trouxe o Caio Henrique, o Allan, que descobriu o Nino. Aí quando ele traz o jogador que não dá certo a filosofia dele é um lixo? Ah, pelo amor de Deus. Esse é o mal que assola o país. As pessoas ficam, com todo respeito, na rede social dando opinião sobre tudo que elas não tem nenhum conhecimento.

Escolha por Odair Hellmann 

– Por que nós escolhemos o Odair? Porque o Odair tirou o Internacional de uma série B e levou para Libertadores com limitações financeiras de elenco. Porque o Odair é um treinador que trabalhou a vida inteira na base, então ele gosta de trabalhar com a base. E como nós precisamos aqui trabalhar com a base, precisávamos de um treinador que faz essa transição. É por isso que nós trouxemos o sub-23.
A gente trabalha com foco, não significa que vai dar o resultado que queremos. A espera que dê. Se tiver que fazer ajuste no meio do caminho a gente faz. Eu trabalho com a verdade. E a verdade é: nós temos uma dificuldade enorme financeira, nós temos um time que é talvez a 11ª ou 12ª folha do futebol brasileiro, talvez até um pouco mais para baixo. A nossa meta é chegar na pré-libertadores. A gente acha que mesmo com pouco dinheiro a gente montou um time excelente e competitivo. E acreditamos que podemos, ainda nesse ano, retornar à Libertadores.

Manutenção do elenco

– Precisamos tentar manter uma base e fortalecê-la porque não temos dinheiro. Quem não tem dinheiro, tem que manter a base para tentar um bom ano. Estamos tentando solidificar um elenco para tentar manter o máximo possível para o ano seguinte para ter esse diferencial, já que a gente não pode fazer um investimento. O que eu tentei foi de 2019 para 2020 perder o mínimo de jogadores possível, e agora reforçando para que a gente possa ter uma unidade, uma base, uma solidificação de um trabalho.

Meta para o Brasileirão

– Por isso que eu falo de pré-libertadores, porque pré-libertadores eu posso me classificar em oitavo, em sétimo. “Poxa, você não acredita que o Fluminense possa ir mais longe?” Acredito. Acredito pelo grupo de jogadores que tem aqui, acredito pelo caráter que esses caras tem, acredito porque nosso time é bom. Só que para um campeonato muito longo, nós temos dificuldade de reposição.
Ficamos de 1985 a 2008 sem disputar a Libertadores. Agora estamos ausente desde 2013 (…). Não posso, neste momento, pegar uma instituição que é centenária, grandiosa e protagonista e cometer um descalabro financeiro para agradar as pessoas – e não sei se conseguirei o resultado. Eu peguei uma missão. Eu me comprometi a resgatar, reconstruir uma instituição para que, talvez, na minha gestão ou duas para frente, possamos voltar a disputar Libertadores e Brasileiro todo ano.

Processos da FERJ

– A Federação é uma pergunta que você deveria fazer para eles. Eles ajuizaram cinco queixas-crime e cada um diretor, individualmente, fez uma contra mim. Fizeram uma ação cível contra mim, uma ação cível contra o Fluminense – que nem deveriam fazer, porque o Fluminense é o fundador da Federação – única e simplesmente porque eu me posicionei contrário a volta do futebol naquele momento e, com todo o respeito, eu estava certo. O futebol do Rio de Janeiro faz questão de ser líder em recordes negativos. A relação está na Justiça.

Relação com Celso Barros 

– Ele segue como vice-presidente geral do clube porque assim foi eleito. Não está no comando do futebol desde o ano passado. Em algumas ocasiões nos falamos cordialmente, mas eu queria fazer um desagravo à minha equipe e também à uma acusação que sofremos recentemente sobre o lançamento do livro, da FluFest. Por uma questão de saúde, ele não foi convidado a participar do evento dentro do campo. Nós estamos no meio de uma pandemia ainda, ele tem quase 70 anos de idade e, além de tudo, no ano passado teve um problema de saúde especificamente no pulmão. Então, por uma questão de saúde, optamos em não trazê-lo pro evento. Foi muito mais para preservá-lo como ser humano. O fato de ele não estar mais no departamento de futebol não significa que a gente não o respeite, não goste dele e que não vá respeitar a história que ele construiu dentro do Fluminense.

Auditoria de gastos das últimas gestões

– O Fluminense sempre foi auditado, porque é uma obrigatoriedade que você audite as contas do clube. Essa auditoria era feita sempre pela mesma empresa. Como nós ganhamos as eleições no meio do caminho, no meio de 2019, nós não tínhamos como trocar essa empresa, porque ela já vinha auditando as contas do clube no ano. Fomos buscar a contratação de uma empresa Big Four. O Fluminense ficou tanto anos com desorganização administrativa que nenhuma empresa Big Four se comprometeu a nos auditar enquanto a gente não organizar a documentação do clube. Nós iniciamos esse trabalho de organização em janeiro de 2020, mas o trabalho paralisou em razão da pandemia, em março. Vamos tentar nesse fim do ano botar na mão de uma empresa Big Four toda documentação do clube para que a gente possa ser auditado. Uma empresa que certamente vai colocar o Fluminense em outro trilho, especialmente de abertura de toda esse passado que a gente vai tirando os esqueletos da gaveta. (…) A gente caminha administrativamente para uma maior organização do clube para que uma grande empresa de auditoria queira fazer auditoria no Fluminense. “Primeiro organiza esses 50 anos de desorganização para que a gente possa em um ano apresentar um trabalho”. (…) Um dos instrumentos que a gente está criando, e a auditoria faz parte, é que a gente possa deixar um legado para quem que quem venha depois se obrigue a continuar fazendo o que a gente está fazendo. Não adianta nada a gente fazer isso tudo, vir um outro presidente lá na frente e desfazer o que a gente construiu. A gente vai, inclusive, tentar criar regras internas de que os próximos que vierem tenham que estar obrigados a cumprir manter as reformas administrativas, as auditorias externas…

Medida Provisória 984/2020

– A maneira que foi feita, sem uma discussão prévia, sem participação dos players… Essa discussão, tinham que ter sentado na mesa os clubes, as emissoras que têm interesse, a CBF, para discutir algo que pode mudar, definitivamente a história dos direitos de transmissão do país. Não poderia ter sido feita no meio de uma pandemia, de maneira precária, sem nenhum rebusque jurídico e, principalmente, deixando uma brecha para que se destrua contratos e atos jurídicos celebrados anteriormente à edição dela. Da maneira que ela está, ela se apresenta como um modelo que faliu os grandes campeonatos de alguns lugares da Europa. O modelo de direito de mandante sem negociação coletiva destruiu o campeonato português. Se for do jeito que está, mal feito, vai destroçar, definitivamente, a possibilidade dos clubes de meio de tabela alcançarem novamente o topo da tabela. Por que o Fluminense não assinou o manifesto, assim como Botafogo, São Paulo, Grêmio? Por causa da forma como foi feita, sem nos ouvir. E isso não pode, porque os clubes são os principais participantes do futebol brasileiro. Acho que isso tudo deverá ser discutido. E enquanto não tiver uma discussão ampla, continuaremos a manter essa posição.

Meta de sócios

– Meu sonho de consumo é 60 mil sócios-torcedores. Tínhamos uma meta traçada no orçamento que é maior do que temos hoje. Quando preparamos o orçamento em janeiro, fevereiro, não imaginávamos que teria o coronavírus. Nossa meta previa os jogos normalmente. Acho que crescemos bastante, mas temos que esperar um pouco. O cenário ainda tem muita neblina ainda. Brasileirão termina em fevereiro, não sabemos se vai chegar uma vacina até lá, como serão as vendas de jogadores, sobre questões de transmissão em razão da medida provisória… O que posso dizer é que conseguimos sair muito melhor do que imaginávamos da paralisação dos jogos.

Processos e acordos

– Sobre Boston River e Independiente del Valle. São duas dívidas, uma grande e outra nem tanto, mas de jogadores que o Fluminense comprou e não pagou. Quando cheguei, as dívidas estavam batendo na porta, com chance de punição dura na Fifa. E buscamos repactuá-las. Só não esperávamos que teria uma pandemia. A primeira parcela do acordo com o Del Valle estava prevista para março e não conseguimos pagar por causa da pandemia. Entramos em contato com eles para repactuar para agosto – acreditávamos que a pandemia duraria menos tempo. Essa semana conseguimos pagar, mas foi quase R$ 1,8 milhão de uma parcela só – mais de 50% da nossa folha do futebol. E pagamos mais R$ 300 mil de uma parcela ao Boston River. Vamos continuar sofrendo esses problemas e vamos ter que continuar sobrevivendo, administrando com cuidado, ligando para os credores… Tem outras coisas que não estamos conseguindo pagar. Não temos dinheiro para pagar tudo. Não tem só acordos que fizemos, tem acordos que foram deixados e foram cumpridos. E não temos dinheiro no caixa para pagar todos os acordos, todas as dívidas. Se tivéssemos, o clube estava resolvido. Nossa diferença é que montamos um gabinete de crise, com o presidente, o depto. financeiro e o depto. Jurídico. Todo problema urgente atacamos imediatamente. Mas não atacamos só tecnicamente. Recentemente conseguimos levantar uma penhora da FluTV. É igual uma parede cheia de buracos que está saindo água. São 50 buracos, você tapa o primeiro, o segundo e não tem gente suficiente para tapar todos os buracos. Quando a gente não consegue pagar a gente liga para explicar. E estamos tendo a compreensão dos credores. Conseguimos, por exemplo, suspender todos os acordos por 90 dias em razão da pandemia. Todos aceitaram esticar para frente. Readquirimos a credibilidade. Hoje as pessoas acreditam no que o Fluminense fala, no que faz. Que o Fluminense não tem dinheiro, todo mundo sabe. Mas ninguém acha que não temos porque estamos investindo em algo que não era para investir agora. Sabem que estamos investindo no departamento de futebol porque é importante ter um bom time para se manter disputando as competições. Mas sabe que o Fluminense hoje é transparente, fala a verdade, não fazemos recursos para atrasar os processos. Nós lidamos de peito aberto. Por que pagamos o caso da Fifa? As punições da Fifa são as piores que um clube pode ter, que é ficar impedido de transferir jogador, compra, vender e perda de ponto, rebaixamento.

Recado à torcida

– Vamos continuar tendo bastante mares revoltos a enfrentar ao longo da gestão. Mas estamos extremamente otimistas com essa missão de recuperar o clube. A aprovação do orçamento ontem por unanimidade é uma comprovação do que estou falando. Os conselheiros também acreditam na gestão. Fizemos um orçamento extremamente realista. Não concorri duas vezes à eleição para vir aqui ficar de ufanismo. Viemos aqui para recuperar o clube. E recuperar o clube passa por toda essa luta que está tendo. E tenho muito orgulho dela. Estou muito animado para continuar, muito comprometido. Dói no corpo, machuca a saúde… Mas é um prazer, de alguma forma, contribuir com o Fluminense. Estou acertando em muitas coisas, mas também cometo alguns erros. Não sou super-herói, nem tenho pretensão de ser. Sou um tricolor apaixonado, viciado em trabalhar e vou continuar com meu foco, direção, planejamento. Se daqui a dois anos as pessoas entenderem – e eu e minha família também quisermos – que minha passagem foi importante e desse grupo também, pois não fazemos tudo sozinho, está fazendo um bom caminho para reerguer a instituição, deem um voto de confiança. Se entenderem que não, o Fluminense é o clube mais democrático do Rio de Janeiro.

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Por Explosão Tricolor 

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