
SAF no Fluminense
SAF no Fluminense? Essa daí, não (por Lindinor Larangeira)
Demorei um pouco para abordar o assunto, e, em primeiro lugar, afirmo que não sou contrário a que o Fluminense Football Club venha a se tornar uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Porém, um tema que mexe com o futuro do clube, com a paixão de milhões de tricolores em toda a Terra, deve ter total transparência e clareza. Neste sentido, como “tricolor nato e hereditário”, não me eximo de opinar, de meter a minha colher nessa discussão.
Proposta boa para quem?
Depois de ler o documento com a proposta, até agora a única apresentada, o que me transparece, além de um claro conflito de interesses, em que vendedor e comparador estão no mesmo lado da mesa, o negócio parece ser muito bom para o corretor e adquirente. Bem como para os futuros profissionais a serem contratados para gerir a SAF. E, em caso de contratação do atual presidente, que coordenou todo o processo, em parceria com o seu vice, provável futuro presidente do clube, temos mais um grave conflito de interesses.
Além disso, tenho muitas dúvidas, se a proposta apresentada vai resolver mesmo os problemas do Fluminense, como a profissionalização da gestão, já que os proponentes afirmam não ver qualquer problema em ter atuais gestores do clube associativo, participando da administração da futura SAF.
Na real, dinheiro novo é R$ 250 milhões
Os bilhões da proposta, se fizermos uma reflexão, não passam de R$ 250 milhões. Os outros 250, viriam “em até dois anos”. Ou seja: o pulo do gato é comprar o Fluminense, com o dinheiro gerado pelo próprio Fluminense.
Nesta temporada, somente as vendas de jogadores, mesmo o clube sendo um péssimo vendedor, somaram mais de R$ 180 milhões. A premiação da Copa do Mundo de Clubes da Fifa é de mais de R$ 300 milhões, e ainda existem possibilidade de engordar o caixa com uma posição de parte de cima da tabela no Brasileirão, e uma possível, embora difícil, conquista da Copa do Brasil.
Um clube com o potencial de geração de caixa, nos últimos anos, na casa dos R$ 500 milhões, merecia uma proposta melhor.
Assunção da dívida: talvez, a parte positiva da proposta
Transparência é algo distante da atual gestão tricolor. O presidente afirma em todas as longas e tediosas entrevistas coletivas que concede, que “a dívida está equacionada”. Dívida, que, nos dados apresentados na proposta da SAF, com o compromisso da assunção do montante, está em R$ 871 milhões. Esse parece ser um ponto positivo da proposta. Porém, assumir a dívida não significa quitação no curto ou médio prazo, mas uma negociação, podendo levar a um importante deságio, como a um reescalonamento de prazos. Enquanto isso, o clube segue gerando receitas.
Elenco atual é estimado em R$ 593 milhões. E Xerém?
De acordo com o site especializado Transfermarkt, o elenco do Fluminense tem o valor de mercado de 94,10 milhões de euros, cerca de R$ 593 milhões, ao câmbio do dia 13/10. Ainda segundo o site, os atletas mais valorizados são Martinelli (14 milhões de euros), e Hércules (10 milhões de euros).
Mas talvez a grande mina de ouro seja Xerém. A proposta não me traz clareza do processo de transição dos atletas para o time principal e sobre o controle efetivo do clube associativo sobre esse patrimônio. Com todas essas dúvidas, é preciso buscar os esclarecimentos no debate, e hoje, como torcedor e sócio do clube, meu voto seria, obviamente, NÃO. Assim mesmo, com letras maiúsculas.
PS: Quinta-feira é dia de acabar com uma recente e incômoda freguesia.