Se interesse por nós, Fluminense




Foto: Vinicius Toledo / Explosão Tricolor

O maior desafio de uma gestão de crise é reconhecer que a crise está acontecendo. Coincidentemente, também é o primeiro passo para pensar e tomar as medidas cabíveis. O bom e velho “aceita que dói menos”. Ninguém gosta de estar em crise. O sentimento de reconstruir terra arrasada em determinado espaço de tempo – geralmente curto – é uma verdadeira bomba relógio. Primeiro pela pressão da contagem regressiva, o prazo não é maleável e cada segundo conta. Depois pela real possibilidade de fracassar. A expectativa dos outros sobre a solução dos problemas é uma preocupação a mais nesse momento caótico. 

A quatro rodadas do fim do campeonato, com um time limitado, cansado e com o torcedor exausto de lutar contra o rebaixamento todo ano sem ser devidamente valorizado, pergunto: podemos identificar quando começou a nossa crise? É possível determinar exatamente o ponto que degringolou essa situação caótica na qual nos encontramos? Virão torcedores de todos os lugares com diversos palpites, que sempre são justos. Demissão de técnicos, jogadores que não rendem ou lesionados, vendas abaixo do esperado, novas eleições, penhoras, processos judiciais, divergências políticas internas, etc. O cenário é caótico ao extremo e o clube demorou muito tempo para aceitar essa dura verdade. Ao que parece, porém, aceitou. Aos 47 do segundo tempo, no melhor estilo Washington de cabeça.

A verdade é que o torcedor tricolor não tem paz há muito tempo. Nem nas vitórias a gente consegue ficar tranquilo. E não falo do corneteiro que insiste em falar mal de tudo e de todos, sem reconhecer as (poucas) coisas boas. Falo de quem gasta o suado dinheiro em um sócio-torcedor pouco interessante, que se fantasia de benefício, mas é considerado por muitos um ato de caridade. De quem faz a defesa institucional sem receber um centavo por isso. De quem programa a semana em cima dos jogos. Do maior ativo do clube que, insisto, é pouquíssimo valorizado.

Valorizar o torcedor é diferente de jogar sobre ele a responsabilidade do sucesso. O sucesso do Fluminense pode acontecer, claro, com a torcida abraçando a causa. Porém quem vai se submeter a abraçar alguém que não demonstra querer ser abraçado? Voltando para a crise: é fácil terceirizar a responsabilidade. Quando a coisa aperta, muitos preferem apontar dedos a assumir erros. Não cabe aqui falar sobre o caráter de cada um, o assunto é Fluminense. E o pobre torcedor caridoso vai precisar, mais uma vez, ser generoso. Mostrar que a paixão está acima de achismos ou convicções políticas. 

É inocente, porém, esperar que todos tenham essa benevolência. O primeiro passo para gerir a crise do Fluminense nessa reta final é baratear os ingressos o máximo que conseguir. O dever de casa das finanças vai ter que esperar 2020. Atrair o público, plano de metas de venda, campanha nas redes sociais, divulgação em tempo real. Lembrando que esses malucos precisam de combustível, promoção de cerveja dentro do estádio. Não basta só isso: quem ainda não gastou dinheiro com o clube até final de novembro, precisa gastar em até 15 dias. Uma mega Black Fluday. Promoção (de verdade, não os 10% do sócio) em artigos, frete grátis, personalização com desconto. Queima de estoque generalizada em todas as lojas, inclusive nos próprios dias de jogo. Jogar baixo, apostar na emoção, na paixão, na irracionalidade que nos move nessa relação pouco recíproca, porém incondicional.

A missão do Fluminense é complexa, mas, se bem trabalhada (e perene), tem muitas chances de dar certo. Por perenidade, entendo que 2020 já começou. É a nossa última cartada. A gestão de crise começou tarde, mas começou. Hora de se despir de vaidades, deixar aflorar o sentimento verde, branco e grená e vestir o sangue do encarnado. Hora de cantar essa paixão que vem de dentro. Loucos da cabeça nós já somos. Se interesse por nós, Fluminense.

Isabelle Suarez