Show de horrores




Lelê (FOTO DE LUCAS MERÇON/FLUMINENSE FC)

Show de horrores (por Lindinor Larangeira)

Foram 18 dias de treinamento até a estreia contra o Alianza Lima, no Peru. Mas parece que, ao invés de evoluir, o time regrediu tática, técnica e fisicamente. O que vimos na noite de ontem, no Estádio Alejandro Villanueva, foi um verdadeiro show de horrores.

Alguns dirão: “O time tinha muitos desfalques”. Essa afirmativa, em minha opinião, substitui desculpas, como: “altitude”, “condicionamento físico”, “falta de tempo ideal de treinamentos”, etc.

Repetindo: tivemos 18 dias de treinamento. Apesar dos desfalques, o time poderia ter apresentado um futebol minimamente decente. Ou melhor, poderia ter apresentado algum futebol.

As opções de escalação começam questionáveis, já a partir do banco. Foge à minha compreensão a preferência por Felipe Alves, que até o momento nada demonstrou, para ser o reserva imediato de Fábio. Se o parâmetro for o carioca, Vitor Eudes demonstrou ser um goleiro muito mais pronto para alguma eventualidade.

Outra presença entre os reservas, e essa, devido ao nome do seu agente, eu até entendo, é a do péssimo Antônio Carlos. A contratação de mais um jogador de Eduardo Uram, para mim, foi uma decisão profundamente infeliz da diretoria. Emprestar o promissor zagueiro Luan Freitas e ficar com esse atleta, que nunca se destacou em clube algum, também é algo difícil de engolir.

Falando agora dos 11 que entraram em campo, não entendi a escalação de um Renato Augusto, visivelmente fora de sintonia e talvez com problemas físicos. Ou terá sido mera coincidência ele ter saído ainda do decorrer do primeiro tempo? O pior é que, mesmo com a oportunidade de fazer o que, para mim e para muita gente parece ser uma obviedade: adiantar Marcelo para ser o nosso armador principal e colocar Alexsander fazendo o lado esquerdo, pôs em campo o esforçado Lima. Nenhuma crítica ao jogador, que avalio como extremamente útil ao elenco. A questão é que a opção, além de conservadora, me pareceu equivocada, sob o ponto de vista de que Lima n&at ilde;o tem as características para ser o homem de criação da nossa equipe.

Só não tenho uma opinião mais definida sobre qual foi o jogador que mais me irritou na partida de ontem: Lelê, pela total incompatibilidade com a bola, ou Terans, pela completa indolência e descompromisso com um jogo de Libertadores.

Não só esses dois foram muito mal. Praticamente o time todo. Só livro a cara de Marquinhos. Não somente pelo gol, mas também por nunca ter se omitido do jogo, e de Arias, o que já é lugar comum. Para mim, o colombiano é hoje o melhor jogador em atividade no futebol brasileiro.

Sobre a partida, ao longo dos 90 minutos, o Fluminense teve 79% de posse de bola. Apesar de controlar o jogo, deu apenas dois chutes em direção ao gol do Alianza Lima. A primeira finalização aconteceu somente aos 21 minutos do segundo tempo, em cabeçada fraca de, para variar, Lelê. Ou seja: foram 66 minutos sem concluir ao gol adversário…

Só não saímos derrotados pela total fragilidade do Alianza, que teve, pelo menos, três oportunidades de liquidar o jogo, ainda no primeiro tempo, em erros de passe da dupla Thiago Santos e Felipe Melo. Esse fato me lembra outra das desculpas para o momento ruim do time: “a ausência do Nino.”

É preciso lembrar que a “reposição” do Nino foi o Antônio Carlos. Isso quer dizer que um zagueiro de verdade tem que ser contratado. Talvez a diretoria ainda espere o retorno de Thiago Silva, que, em minha opinião, não volta. Então, se não contratamos, por que não testar na zaga o garoto Felipe Andrade, que já demonstrou ter personalidade, bom passe e boa saída de bola?

Outro problema que ficou claro no jogo de ontem é que não dá para fazer marcação alta com um lado esquerdo defensivo formado por Marcelo e Felipe Melo. Minha constatação (e opinião) é que Marcelo não pode e não deve jogar na lateral. Na ausência de Ganso, porque não o testar no meio-campo?

No final das contas e do jogo, o ponto conquistado fora pode ser considerado lucro? Tenho bastante dúvida. Creio que perdemos dois pontos. Se o time de ontem tivesse alguma organização tática, poder ofensivo e criatividade, a vitória seria certa. Porém, vimos uma equipe repetindo os seus piores momentos: falta de compactação. Concessão de espaços ao adversário. Erros de passes. Pouca profundidade, e, sobretudo, uma quase completa falta de coragem e de ambição em chutar ao gol da equipe rival. Com esses defeitos, não adianta ter um percentual absurdo de posse de bola, já que o time não sabe o que fazer com a redonda.

Já temos torcedor bradando: “Fora Diniz”. Não é o meu caso. Sou fã confesso desse profissional. Mas isso não me isenta de fazer críticas, no sentido de que se retome o bom futebol que nos levou à conquista da Libertadores.

Por enquanto, mesmo com o título da Recopa, o Fluminense de 2024 é um time que joga um futebol burocrático, previsível e ineficiente. E por que não dizer: irritante?

Terça-feira é mais uma batalha. Agora na nossa casa. Que o time finalmente estreie neste ano.

PS: não tenho dúvida de que o time de garotos do Marcão, com Felipe Andrade, Luan Freitas, Isaac, Arthur, João Neto, Justen , Rafael Monteiro e mais quatro reservas, venceria bem o possante Alianza Lima.