O novo centro de treinos do Fluminense é um luxo a que os seus jogadores e adeptos não estavam habituados.
Depois de anos a fio a treinar nas Laranjeiras, local que o ex-treinador do clube Muricy Ramalho garantiu ter ratos, o Tricolor trabalha agora no moderno Centro de Treinamento Pedro Antônio Ribeiro da Silva, a principal obra deixada pelo ex-presidente Peter Siemsen.
Faltou apenas acertar um detalhe: a vizinhança.
A academia do Flu está situada na zona oeste do Rio de Janeiro, mais concretamente em Jacarepaguá, que além de sediar um mítico autódromo é também a região da Cidade de Deus, perigoso bairro carioca que batizou até um inesquecível e premiado filme do realizador Fernando Meirelles.
Por isso, os jogadores – e os treinadores, restante staff do clube e jornalistas – trabalham sob o som de tiroteios.
Quando as balas parecem mais próximas é até costume toda a gente se baixar para garantir a segurança.
Uma situação limite aconteceu durante o jogo treino entre o Fluminense e o Serra Macaense, quando toda a gente se escondeu durante a partida até que o tiroteio parecesse terminar.
Noutra ocasião, criminosos invadiram a academia com o objetivo de pilhar o local, trocando tiros com seguranças, primeiro, e com a polícia, depois.
Entrar e sair do Pedro Antônio Ribeiro da Silva também não é tarefa fácil. Por isso, o Comando Vermelho, segunda maior organização criminosa do Brasil (a seguir ao paulista Primeiro Comando da Capital) e principal autoridade da Cidade de Deus combinou um código de segurança com os funcionários tricolores para que a convivência possa ser o mais segura possível.
Ao site UOL, dirigentes, seguranças e jogadores do Flu admitiram off the record que quando chegam ao local de trabalho diminuem a velocidade e acendem os piscas para que os membros do Comando Vermelho os reconheçam e lhes permitam a passagem sem problemas.
Em redor do centro de treinos, inscrições com as iniciais CV e barricadas improvisadas durante tiroteios com a polícia sinalizam que o local é uma espécie de zona de guerra.
A TV Globo, que acompanha a maioria dos treinos do gigante carioca e é líder de audiências no Brasil há décadas, não arrisca e faz as suas equipas de reportagem deslocarem-se ao local em carros com escolta.
No futuro, a tendência é que o clima melhore. O presidente do Flu Pedro Abad disse estar consciente da situação, preparando ações sociais junto à comunidade da Cidade Deus mas também a construção de um muro, uma medida muito na moda no mundo de hoje.
