
De um galho no Dois Irmãos, ela iniciou sua última jornada pelo céu do Rio. Lá de cima, viu de tudo. Milhares de pontinhos barulhentos andando de um lado para o outro, os braços abertos do Cristo, as ondas de Ipanema lambendo o calçadão, o Maracanã lotado. Irmã do sol, suas penas brilharam grená até o fim da tarde, quando repousam juntos, o sol no horizonte, ela nas Laranjeiras.
Já estava escuro quando um grande borrão de luz tomou o céu da rua Pinheiro Machado. Os moradores olharam estarrecidos. O cheiro de queimado incomodava as narinas. De repente a chama apaga e das cinzas surge um movimento discreto. Muitos nem notaram e voltaram pros seus quartos. O pequeno pássaro surgiu timidamente.
Como uma fênix, o Fluminense acabava de renascer.
Tudo na vida são ciclos e isto é fato dado. É uma questão de sensibilidade reconhecer os trânsitos e os tamanhos de cada um. Há quem enxergue apenas os ciclos como os de Fred, de 8 anos. Há quem veja maiores, o da Unimed, de 15. Os anciões enxergam ainda os de uma vida, 70, 80, às vezes menos.
Mas o Fluminense é eterno. Seus ciclos são como os de uma fênix, que ressuscitam de suas cinzas tão logo morrem, fadados a eternidade. Estamos no início de um ciclo. A saída da Unimed foi uma ferida grande, daquelas terminais, que o Siemsen fez questão de piorar. 2017 agonizamos. Morremos.
Em Janeiro de 2018 éramos todos um monte de pó. Mas nascemos. E lá estava Abel, o escolhido. Nosso pai. O paizão da torcida. O pai do elenco. O pai de João Pedro.
Quando todos foram dormir, após aquele clarão inexplicável na Pinheiro Machado, Abel ficou exaltado. De roupão e chinelo foi às Laranjeiras, os olhos esbugalhados, a cara vermelha. Encontrou uma pequena ave, sem penas ainda, apenas uma frágil e combalida ave.
Colocou três zagueiros, fez um queixudo jogar o inexplicável e tirou das cinzas do Fluminense jogadores que honram sua camisa. Desde dezembro sabíamos como jogaria o time, e assim ele está jogando. Uma defesa sólida, um esquema bem definido em que todos os jogadores sabem exatamente o que fazer e, por isso, crescem. Crescem os jogadores, cresce o time, cresce a fênix.
O elenco limitado, mas extremamente comprometido, que quer provar para si e para o mundo seu potencial. Vez ou outra chegam reforços pontuais, acertados, que invariavelmente agregam e nos dão esperanças de bons tempos. Quem encostasse nas cinzas de uma fênix ganhava a vida eterna, diziam os romanos. Pois quem encosta neste elenco tricolor ganha fôlego eterno, e corre como se três pulmões tivesse.
O Fluminense está crescendo ao seu ritmo sagrado. Com o trato de Abel, o escolhido. Frente às intempéries do mundo competitivo e da gestão incompetente. Mas é assim mesmo: as árvores precisam da chuva para crescer.
Com reforços pontuais e a manutenção do trabalho, algo grandioso está por vir. Nós estamos prestes a presenciar a ascensão de uma equipe com potencial para ficar na história: os moleques de Xerém e o paizão Abel pintando o céu do Rio de grená, voando bem acima de qualquer urubu.
Porque é este seu destino, seu único futuro possível.
Tenham paciência.
Guilherme de Almeida
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