Veja a entrevista do atacante Fred concedida ao Esporte Espetacular




Foto: Lucas Merçon / Fluminense FC



Neste domingo, o programa Esporte Espetacular, da TV Globo, exibiu uma entrevista com o atacante Fred. O ídolo tricolor falou sobre a sua traumática saída do clube, recusa de proposta do Flamengo, retorno ao Fluminense, condição física atual e muito mais. Confira a íntegra da entrevista:

Você brincou na live do Flu que queria voltar desde que saiu. Era esse mesmo o sentimento?

– Sem demagogia, eu nunca quis sair. Achava que nunca ia sair do Fluminense, de verdade mesmo. Eu tive um período de cicatrização da minha saída, onde eu fiquei triste com as pessoas por um ano e meio. Quando fiquei triste com essas pessoas eu não queria ver muita coisa do Fluminense porque me atingia emocionalmente falando. Eu ficava pensando ”pô, era para eu estar lá” e isso gerava uma coisa ruim em mim. Depois eu comecei a desfrutar das coisas que passei lá e tudo voltou ao normal. Hoje estou com a sensação de que estou podendo recuperar o tempo perdido que foram pouco mais de quatro anos.

Você disse que ficou triste com algumas pessoas. Na época você teve desentendimentos com o técnico Levir Culpi e com o presidente Peter Siemsen. Ficou alguma mágoa por sair daquele jeito?

– Foram esses episódios que ficaram difíceis para cicatrizar da forma que foi. Analisando um ano e meio depois, já cicatrizado… É que quando você tem um problema você pensa ”fui injustiçado, isso foi sacanagem, eu não merecia”, acaba que você só olha para o seu problema. Hoje, analisando tudo, eu olho e falo ”Deus tinha isso para mim, era o que tinha que acontecer, me amadureceu, me fez mais forte e Deus preparou esse retorno de forma diferente”. Hoje estou podendo desfrutar desse retorno e do carinho que a torcida está me dando.

Você sentia também que precisava voltar para que sua história no Flu não acabasse daquele jeito? Para reescrever o capítulo final?

– A sensação que eu tinha era de que pelo menos mais um jogo pelo Fluminense eu tinha que fazer. E olha que não gosto muito de despedida. Não sei se eu queria um jogo de despedida. Mas eu pensava que tinha que voltar, jogar ou o Carioca ou outra coisa. Só para falar que era o clube que mais marcou minha carreira, que mais me marcou como formação de caráter e homem. Eu devia para minha história no futebol de alguma forma terminar no Fluminense. E graças a Deus o clube abriu as portas para mim novamente.

Do que mais sentiu falta nesses últimos quatro anos?

– O que mais senti falta foi do carinho da torcida. Porque eu passei momentos difíceis no Atlético-MG e no Cruzeiro, momentos bons de muitos gols, mas nos momentos mais difíceis eu não tinha a torcida com uma paciência e carinho grande por mim. Dentro de minha eu tinha a sensação nos outros clubes de que se me deixassem as coisas voltariam ao normal, mas não tinham a paciência para isso. Já no Fluminense, não. Calma que tudo vai voltar ao normal, os gols vão aparecer, vão vir os títulos e ele vai ser o mesmo Fred. Esses cinco jogos, quatro jogos de paciência, que a torcida do Fluminense me dá eu nunca vou ter em nenhum outro clube. Assim as coisas tendem a dar mais certo do que em qualquer outro lugar.

Você chegou a negociar o retorno ao Fluminense em outro momento? O então presidente Pedro Abada disse que conversou com o seu representante no fim de 2017. Houve proposta?

– Não. Naquela época eu tive uma proposta muito grande para ir para o futebol do Catar. Estava com o plano definido de ir com a família. De última hora pintou o Flamengo e o Cruzeiro. Como não tinha condições de ir para o Flamengo pela minha história no Fluminense, eu acabei optando pelo Cruzeiro para permanecer no Brasil, onde tenho minha família inteira, crianças adaptadas. Eu permaneci aqui, mas não houve proposta do Fluminense naquela época.

Você nem quis conversar com o Flamengo pela sua identificação com o Fluminense?

– O Flamengo e o Cruzeiro fizeram propostas, mas foram diferentes. O Flamengo fez proposta via Atlético-MG e iriam ceder jogadores por empréstimo além da parte financeira. Eu não me envolvia muito nas coisas. Quem trabalha comigo sempre via o Flamengo como uma grande vitrine. O clube ainda estava em um período sem ganhar muitas coisas, mas me falavam que o clube voltaria a vencer em breve, que iria atingir um patamar bom pelo trabalho que vinha sendo realizado.

‘Mercadologicamente falando, em termos de projeção de carreira, todos viam o Flamengo como uma grande porta. E realmente é, não tem como negar. Mas quando meus representantes chegaram até a mim com essa informação, ficou praticamente inviável porque eu demonstrei o que acontecia dentro do meu coração. Mancharia toda minha trajetória no Flu”.

– A gente vê muitos trocando de rival assim, eu fiz isso aqui em Minas. Comecei no Cruzeiro, sai, passei pelo Atlético-MG e depois fui direto para o Cruzeiro de novo. Fica uma cicatriz muito grande no torcedor. Não julgo quem faz, inclusive eu fiz. Sendo assim, não dá para falar se é certo ou errado, mas depende muito de cada um, do momento, do que já viveu.

”Não tem como eu jogar no lixo o que aconteceu comigo depois da Copa do Mundo de 2014. Aquilo ali vai além do futebol, né? Mexeu com minha família inteira. Quando eu vi aquela torcida me abraçando, segurando a bronca”.

– Eu estava praticamente descartado por todo mundo, ninguém queria me ver pela frente depois daquela Copa e a torcida me colocou no colo. Ali recuperei minha vida total, eu estava quase abalado para tudo, sem querer jogar bola. Se não fosse essa galera ai, para segurar a bronca, a diretoria, acho que eu ia tomar um rumo muito diferente para minha carreira”.

Como era enfrentar o Fluminense como rival? Você não conseguiu vencer o Flu e sequer marcar gol (teve um anulado pelo VAR). No geral foram atuações apagadas. Era difícil para você?

– Fiz só um bom jogo contra o Fluminense. Foi pelo Cruzeiro, no Mineirão, quando fiz o gol e anularam. Só aquele. Como centroavante ganhei muitas bolas, fiz gol, dei passe, não perdi nenhuma bola. Mas assim, no início era muito difícil jogar contra o Fluminense. Eu via Cavalieri, Gum, nossa…

”No meu estilo de jogo eu tem que trombar, ser um pouco malvado para escorar, colocar o corpo para ganhar a bola. Fazer isso com o Gum, olhar para o Cavalieri… Era difícil demais”.

– Jogar no Maracanã era uma loucura. Por mais que a gente controle as nossas emoções, passa um monte de coisa no meio do campo. Eu tentava focar no jogo. Sempre quis ganhar e fazer gol, mas não deixaram (risos). Eu não consegui, infelizmente. E agora felizmente.

A negociação para o seu retorno demorou alguns meses e deixou a torcida agoniada. Como foi essa espera para você?

Eu sempre tive contato muito forte com o Mário (Bittencourt, presidente do Fluminense), porque é um amigo pessoal meu e da minha família. Temos uma relação muito boa. Torço pelo Mário em tudo, é um cara do bem, louco pelo Fluminense. Nos nossos encontros de amigo, quando o Flu vinha para Belo Horizonte, quando eu ia para o Rio…

”Em praticamente todos os jogos saímos para jantar ”escondido”, porque somos pessoas públicas e era desnecessário falar até em respeito ao meu clube e ao Fluminense. Mas a gente se encontrava e ele sempre falava: ”Faz seu projeto, cumpre seu contrato e quando acabar pode ficar tranquilo que se eu estiver lá ainda quero você, a torcida quer. A forma como você saiu não foi legal, pela história seria legal para todo mundo esse retorno”. Quando eu fiquei sem contrato com o Cruzeiro, ai imediatamente ele mandou mensagem”.

– E quando estava praticamente fechado, veio a pandemia. E ai começou a complicar tudo, até mudou muita coisa. Íamos fechar uma hora ou outra, ia ser muito rápido. Mas a circunstâncias atrapalharam bastante.

Como está fisicamente?

Estou muito bem fisicamente. Estou treinando há mais de quatro meses todos os dias. Tenho folga uma vez por semana. No início, quando fiquei sem clube, a primeira coisa que fiz foi ir pra fazenda com o Jefferson (primo e preparador físico do jogador) e focar. Fiquei quase um mês e meio sem treinar antes disso. Ele programou tudo, viu que eu estava bem acima do peso, fez um trabalho específico para perder peso e depois eu comecei o trabalho normal: técnico, físico, com bola… Então fisicamente eu estou muito bem. Tecnicamente eu estou como todo mundo, parado. Mas acho que fisicamente eu estou melhor que todo mundo.

Dá para jogar no primeiro jogo pós-pandemia?

Se Deus quiser eu quero estar pronto. Vou continuar meus treinos, vou ter dois ou três dias sem fazer nada devido ao grande esforço que foi essa ida de bicicleta para não correr riscos. Depois vou seguir minha rotina de treinos normal com o Fluminense, como o Chico… Creio que o calendário vai dar alguns dias para a parte técnica, para o Odair montar o time, para todos os treinadores montarem a tática. Então eu vou estar bem, à disposição.

No ano passado você fez 21 gols, mas a temporada ficou manchada pelo rebaixamento do Cruzeiro. Como foi vivenciar aquele momento?

– Foi um dos momentos mais complicados que eu vi. A gente tentava tirar força, usar nossa experiência para ver o que podia ser feito para evitar aquilo… Acho que o que mais pesou na queda do Cruzeiro, se for analisar a cronologia… Teve a crise técnica e aí saiu o treinador, o que é ruim, mas normal e pode acontecer em qualquer clube. Teve a crise política, muita briga, mas seguia sendo tranquilo, em todos os clubes acontece e dá para não afetar o campo.

”Mas quando entrou a crise institucional, ai vazou no Fantástico… Ai parecia que a gente chutava a bola e a trave se mexia para ela não entrar. E a gente tentava, teve muita coisa envolvida. Depois da crise institucional a gente não tinha mais a referência de quem conversar para buscar orientação. Entrava um e saia outro. E as coisas começaram a ficar bem difíceis. A gente tentou de alguma forma em campo, mas deu no que deu”.

Qual a sua expectativa para o Fluminense no Brasileirão 2020? Você sempre pedia jogadores rápidos ao seu lado e teve ótimas fases ao lado de atletas como Maicon Bolt e Wellington Nem. Hoje o Fluminense tem Pacheco, Wellington Silva…

– Sou finalizador, hoje muito mais do que antes por causa da idade. Lógico que estou tentando tirar algo dentro da preparação física, alimentação, recuperação… Hoje sou muito mais atleta. Acho que no futebol em geral todos os jogadores estão mais assim, inclusive os mais novos, ainda bem. Estão sendo influenciados pelo Cristiano Ronaldo no caso, isso é bom para a gente. Analisando o time do Odair quando ele estava no Inter era um time de transição muito rápida com o Guerrero fazendo gols. O time hoje tem o Evanílson que está fazendo muitos gols, joga em função do atacante.

”O mais importante para mim é que o Fluminense ama a camisa 9. Ela é diferente. É uma camisa pesada. Estou bem servido, tem o Wellington Silva, o Pacheco, o Marcos Paulo que joga mais próximo, é muito habilidoso, inteligente… Ainda temos Ganso e Nenê, para o centroavante quando esses caras pegam a bola é só se movimentar que eles dão o passe para gol”.

– Trabalhei com o Deco quando ele já tinha uma idade avançada. Quando ele pegava a bola, o pessoal até brincava, de dez ele errava oito. E as dez era para mim. Mas as duas que ele acertava resultavam em gol. Acho que o Nenê e o Ganso jogam muito para o atacante, para mim é muito bom.

Dá pra Fred, Nenê e Ganso jogarem juntos?

– Até por características vai depender muito do que cada jogo vai pedir. Se a gente quer amassar o rival, jogando lá em cima, é possível, quer fazer resultado. Se a gente quer preservar mais, claro que o time vai ficar menos rápido, porém mais técnico e pensativo. No geral, posso falar porque tenho experiência com isso.

”O time do Cruzeiro ficou dois anos ganhando tudo e era zero rápido, mas muito técnico. Time mais fechado, mas que sabia jogar o jogo. No geral é ter o equilíbrio. Se você tem o lento, precisa do rápido. Eu gosto de atacante de velocidade do meu lado porque sou lento. Mas se tiver três rápido e nenhum sabe fazer gol, também teremos problema. Se tiver quatro meias só marcando e dando porrada, vai ter dificuldade também. Temos que encontrar o equilíbrio”.

– O Nenê é mais dinâmico, o Ganso é mais genialidade. Eu sou mais finalizador. É possível, é. Mas vai depender do Odair e vamos fazer o que for melhor para ele. Vai ter jogo que ele vai querer começar com Nenê e Evanílson, estamos ai para ajudar. Eu vou trabalhar para jogar todos os jogos. Estou me esforçando para estar bem fisicamente e aguentar essa pancada.

Qual será seu papel nesse time? Você já viveu título, crise, quase rebaixamento, rebaixamento que não se consolidou…

– Meu papel espero que o mais importante seja fazendo gols. Estou indo para o Fluminense jogar e fazer gols. Esse é o meu objetivo principal e o Mário me contratou para isso. Odair pediu isso também. Minha ideia é essa. Se eu puder fazer gols e ajudar fora de campo porque eu conheço o clube, tenho voz ativa com a minha torcida, vou dar minha vida também, me expor para poder ajudar esse grupo de alguma forma.

Você sabe que a torcida pirou depois que você convocou o Thiago Silva, né? Vai ajudar a trazer o Monstro?

– O Mário até me falou: ”Agora você vai me arrebentar, porque eu estou louco atrás do Thiago, ele tem os projetos dele e tal”. E eu falo também muito com o Thiago, eu fico marcando ele, falei até com o presidente. Disse que estava marcando o Thiago nas redes sociais porque eu sei exatamente o peso que tem o torcedor. Eu quando estava na França, a torcida do Fluminense fez um movimento para me chamar. Naquela época não tinha Instagram, Facebook… Era Messenger, site… Era um site chamado ”Torcida Tricolor”. E a galera começou a se mobilizar, mandar mensagem e um amigo me mandou. Aquilo mexeu com as minhas emoções.

”Estou querendo tocar o coração do Monstro para ver se ele muda os planos. Parece que ele tem vontade de jogar mais alguns anos na Europa e o bacana do Thiago é que a relação que ele tem com o Fluminense ele tem com o PSG, com o Milan, nos clubes que ele passou. É uma referência internacional. De vida esportiva eu tento tocar alguma coisa porque se ele vier será muito bom para ele e para a instituição. E pra torcida, se o Thiago voltar, até eu vou enlouquecer”.

Qual a sensação de ser considerado o segundo maior ídolo da história do clube em eleição recente do GloboEsporte.com com 100 jornalistas, atrás apenas do Castilho?

– Para mim foi orgulho e honra. Não tenho noção de verdade do que é ser isso. Acho que não mereço pela história. Mas assim, vendo essa pesquisa entendo o que acontece quando falam de Fluminense para mim, para minha família, quando falam de mim para a torcida. É um negócio que não consigo entender. Vi que ganhei também a enquete do gol mais bonito, mas ali eu brinquei e pedi votos jogando alguma coisa da minha volta. Achei que o resultado dessa pesquisa tinha sido por causa da brincadeira, mas realmente foram votos dos jornalistas. Fico muito feliz e espero poder me firmar de vez na história do Fluminense e que esse fim de ciclo como atleta seja marcante como foi o início e o meio.

Faltam 12 gols para se tornar o segundo maior artilheiro da história do Fluminense. Já está com essa meta na mira?

– No segundo lugar eu consigo chegar, mas alcançar o Waldo é bem difícil. Uma coisa legal é que contando apenas os jogos oficiais eu sou o primeiro, né? Já me deixa feliz demais. Na geral estar em terceiro é um grande feito para mim, estamos falando de um clube muito grande. Mas é completamente possível chegar na segunda colocação. Esses dias eu estava fazendo conta: desde que saí do Fluminense, eu já fiz cerca de 80 gols. Fui colocando na soma e pensando ”pô, se eu tivesse lá estaria quase chegando no Waldo”. Mas estou feliz por poder chegar pelo menos na segunda colocação.

Já sabe o que vai fazer depois de 21 de julho de 2022? Vai mesmo se aposentar e virar embaixador do clube?

– A ideia é essa mesmo, queria encerrar minha carreira em uma data marcante, simbólica para o clube e para mim, para fazermos uma grande festa. Tem muito caminho ainda para seguir, são dois anos onde tudo é possível, vamos ter que trabalhar muito, ganhar muita coisa, fazer muitos gols se Deus quiser. Mas ai deu, no aniversário do Fluminense em 2022 eu encerro realmente a minha carreira.

”É difícil planejar as coisas, mas hoje estou muito mais próximo do fim do que do meio ou início. Então é mais claro na minha mente, no meu corpo. Encerro e o projeto do Mário e meu é permanecer no Fluminense com algum cargo. Para isso tenho que estudar, me preparar”.

Vou ver se consigo me preparar ainda jogando, mas o foco total hoje é só no futebol. E aí depois, como sempre falei, de alguma forma poder ajudar o clube.

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Por Explosão Tricolor / Fonte: GloboEsporte.com

E-mail para contato: explosao.tricolor@gmail.com

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