1942: o ano em que o Flu declarou guerra ao Nazismo




Desde 1942, quando a Segunda Guerra Mundial estava a todo vapor, e surgiram os primeiros rumores de que o Brasil poderia entrar no conflito, que o termo nazi-fascismo não entrava tanto em voga. Naquela ocasião, o país resolveu aderir aos Aliados, capitaneados pelos Estados Unidos e pela União Soviética contra as forças do Eixo.

O ingresso do Brasil até aquele momento era considerado improvável, até porque, segundo relatos históricos, o presidente Getúlio Vargas nutria certo apreço pelos regimes fascista da Itália e nazista da Alemanha. Tanto que, duvidando dos boatos, jornalistas ridicularizavam a possível adesão, dizendo que era mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra.

Tudo mudou quando submarinos alemães e italianos torpedearam embarcações brasileiras, na costa do Oceano Atlântico. Os ataques, trazendo vários prejuízos à frota do país, duraram de fevereiro a agosto, e foram seguidos de uma enorme pressão popular para que o país rumasse ao conflito na Europa.

Porém, na primeira metade do Século 20, o Brasil ainda era majoritariamente rural e de população analfabeta. Sem infraestrutura para se juntar a um conflito de ordem mundial, foram necessários diversos investimentos militares, tecnológicos e humanos, de modo que o país pudesse, enfim, se juntar ao comando Aliado.

A solução encontrada pelo governo brasileiro foi o lançamento de um projeto com objetivo de angariar doações de aviões e materiais para a compra ou construção de aeronaves, ampliação de hangares ou construção de campos de pouso para aeroclubes. A Campanha Nacional de Aviação (CNA) teve a meta de consolidar a aviação civil no país, investir na formação de pilotos e na movimentação no espaço aéreo nacional. Foi a forma encontrada para monitorar aeronaves inimigas no território brasileiro. É neste momento que a guerra cruzou o caminho do Fluminense Football Club.

Após o bicampeonato carioca de 1940 e 1941, o Tricolor seguia tranquilo rumo ao tri, sobretudo depois de conseguir dez vitórias nos primeiros onze jogos da competição. Mas o mundo vivia um clima tenso – devido à guerra, não houve sequer condição para a realização da Copa do Mundo entre os anos de 1938 e 1950 – e a diretoria tricolor resolveu esquecer o futebol após o time enfrentar uma sequência de derrotas, e entrar de cabeça na CNA, disposta a colaborar com a missão brasileira.

Uma cotização de sócios, liderada pelo ex-jogador e então presidente Marcos Carneiro de Mendonça -primeiro goleiro da história da Seleção Brasileira – , conseguiu Cr$ 155.000,00, quantia suficiente para adquirir um monomotor, modelo Fairchild PT-19, a ser utilizado pela Força Expedicionária Brasileira (FEB).

Diante dos aplausos de torcedores e com as hélices envoltas na bandeira tricolor, o avião foi apresentado pelo clube a autoridades civis e militares, no dia 11 de outubro de 1942. A solenidade ocorreu nas Laranjeiras e a aeronave fora batizada de Coelho Netto, em homenagem póstuma ao escritor, patrono e sócio do clube, falecido em 1934

Ainda no mesmo ano, para além da doação do avião, o Fluminense preparou um curso de Enfermagem formando pracinhas que seriam designados à guerra. Finalmente, em 1944, 25 mil militares brasileiros desembarcaram no Monte Castelo, na Itália. Contrariando a opinião dos jornalistas da época, a cobra fumou na 2ª guerra e o Fluminense fez parte do movimento que libertou o mundo da ameaça do nazi-fascismo naquela ocasião.

Por Fagner Torres / Fonte: Aqui é o Flu/ESPN / Foto: Nelson Perez