Motivo da saída, leva boa de camisas dez, domínio na base, caso Diego Souza e muito mais; confira a entrevista completa com Marcelo Teixeira






Marcelo Teixeira está fora do Fluminense

Após o anúncio de sua saída, o ex-diretor das categorias de base do Fluminense, Marcelo Teixeira, concedeu uma longa entrevista ao portal GloboEsporte.com. Confira abaixo:

Motivo da saída

O cargo que eu ocupo é de muita confiança, então, quero deixar o próximo presidente à vontade para tomar a decisão dele, para escolher a pessoa que deseja para Xerém. Mas o principal motivo é tirar uns dias de descanso. São quatro anos de Manchester United e oito de Fluminense sem férias. Quero descansar um pouco, viajar, ver pessoas e ficar com a cabeça tranquila.

Como tomou a decisão de sair do Fluminense?

Venho pensando alguns caminhos. Um poderia ser esse, o da saída. Outro, ficar se eu sentisse alguma confiança. Outro, aceitar alguma proposta. Existiam possibilidades e eu amadureci essa decisão.

De sair ou de aceitar proposta?

Como estou saindo, posso aceitar alguma proposta. Na verdade, recusei duas ofertas de times grandes na semana passada. Um deles até anunciou uma pessoa para chefiar a base ontem. E, agora, tenho algumas possibilidades que me agradam. Mas é muita coisa para ser pensada e tomar uma decisão. Então, a minha decisão foi: vou sair, tirar uns dias de férias, viajar aos Estados Unidos e ficar por 10 dias lá. Vou ver meus amigos, ver futebol, clubes e organizar a minha mente para voltar e tomar uma decisão.

Mas isso tudo tem a ver com o sentimento de que os principais candidatos não desejam continuar contigo…

É claro, óbvio. Não vou negar isso. Eu poderia procurar eles e ver se desejam contar comigo. Mas eu preferi não fazer isso pois acho que eles não contam comigo. O cargo é de confiança de ambas as partes, é uma mão dupla. Tinha relacionamento bom com Peter (Siemsen, ex-presidente) e com o Abad, mas eu não tenho relacionamento com os dois (Mário Bittencourt e Ricardo Tenório). Acho que não faria sentido.

Não tem relacionamento ou o relacionamento é ruim?

Não tem motivo para ser ruim. Nunca briguei com nenhum dos dois, nenhuma vez. Eles podem até não gostar de mim, mas nunca teve uma briga.

O cenário, especialmente de infraestrutura, era ruim na chegada a Xerém, não?

Não, não era. Os problemas de infraestrutura foram resolvidos antes, com o Peter. Quando eu cheguei, lancei algumas coisas que achava que tinham de ser implementadas. O Fluminense tem hoje uma metodologia de desenvolvimento de atletas, acho que é a melhor do Brasil. Uma análise de desempenho, que antes não existia. A nossa captação saiu de duas pessoas para 10 pessoas. Montamos projeto de qualificação dos profissionais. O Samorin, que todo mundo bate… o técnico campeão da Copa Nike (Thiago Macedo) passou por lá, ele tem a licença Uefa B. O Gustavo Leal, técnico do sub-20, chamado para a seleção também passou por lá. Então, levamos a base do Fluminense para disputar torneios em todos os locais do mundo. Estou elaborando um relatório de tudo que foi feito no período…

Com quais informações?

Por exemplo, os direitos econômicos. Hoje o Fluminense tem uma média de ter 90% dos direitos dos jogadores. Claro que a mudança na legislação em março de 2015, que proibiu terceiros de terem parte dos direitos, nos ajudou. Mas melhoramos nisso.

Como melhoramos a captação, pegando os meninos desde pequeno, passamos a ter quase que 100% dos direitos. Se pegar de outros clubes, ainda posso dividir os direitos.

O Samorin foi um erro?

Ele estava em um contexto do projeto internacional. Se pegar os números desse projeto, que tinha como objetivo levar os jogadores a outros mercados para melhorar a formação… o Ailton a gente vendeu e gerou limpo para o Fluminense 1 milhão de euros. A gente levou para jogar torneios fora, foi emprestado no Azerbaijão e em Portugal… Ele rendeu isso. Só o Ailton pagou esse dito prejuízo que as pessoas falam. Vendemos ainda o Samuel e o Eduardo. O Léo Pelé, no plano de carreira, a gente emprestou para o Londrina, voltou e depois foi para o Bahia e rendeu R$ 3,5 milhões.

O Samorin, realmente, não deu certo pois o Fluminense, naquele momento, deu um passo maior do que a perna. Não tinha como dar esse passo. Foi um erro pela dificuldade financeira por não poder arcar com o projeto. Ele era fantástico, continuo achando isso e ninguém me tira isso da cabeça.

No primeiro ano da gestão Abad, dividiu a base com o profissional. Foi um período conturbado.

Percebi que, no Brasil, é humanamente impossível tentar implementar um projeto de longo prazo no futebol profissional. A pressão só faz pensar no jogo de domingo. Tem a cobrança, a torcida, a direção e os conselheiros. Aí, não se consegue pensar no longo prazo. Se fosse um clube empresa, talvez fosse diferente. O problema é ser uma associação sem fins lucrativos

Mas houve erros, como a dispensa de sete jogadores ao final de 2017. Considera que houve esse erro?

O que posso falar é que a decisão foi tomada por um colegiado de vices e do presidente e eu fui o responsável por executar. A decisão chegou para o (Paulo) Autuori, que tinha acabado de chegar ao clube (assumiu como diretor executivo). Então, caiu para mim. Eu tive que acatar.

Mas não poderia argumentar?

Não tinha espaço para isso, eu não mandava. Isso foi feito por muita gente em vários momentos.

Mas foi um erro?

Eu simplesmente executei. Em algumas reuniões, dei a minha opinião como outros profissionais deram.

Outro problema ocorreu com a venda do Diego Souza pelo Sport ao São Paulo. Ao escrever um e-mail, autorizando “em nome do presidente”, que Eduardo Uram, empresário do jogador, negociasse com o Sport “a parte relativa ao Fluminense” por R$ 1 milhão, considera hoje um erro?

Eu não posso falar sobre isso. O caso está na Justiça.

Marcos Paulo e João Pedro, dois destaques da base no atual elenco profissional, são um legado do trabalho desenvolvido em Xerém?

Legado é que no ano passado foram 25 finais, 16 títulos nos últimos dois anos. Neste ano, ganhamos as duas competições que jogamos. Claro que eles representam o trabalho desenvolvido a longo prazo, um trabalho com metodologia, captação, controles e processos.

Não são os únicos…

A gente tem dominado as categorias sub-14, sub-15 e sub-16 no Brasil. Eu considero que vem uma leva de camisas 10 boa. Miguel na sub-17, o Kayky na sub-16 e o Arthur na sub-15. Nas três seleções, o camisa 10 é do Fluminense. Essa nossa metodologia tem cinco anos já e vai mostrar resultados. João Pedro e Marcos Paulo são a ponta do iceberg.

De acordo com o Boletim Informativo de Registro de Atletas (BIRA) da Ferj, o Fluminense tem 115 jogadores sob contrato. Isso não evidencia que houve equívocos na formação, afinal, boa parte não é aproveitada pelo clube?

Todo o clube faz uma aposta nos jogadores da base. Quando o menino é novo, se faz um contrato para prender ele no clube. Fizemos apostas que deram certo e deram errado. Se pegar a conta dos que foram vendidos, é muito melhor. Tem jogadores sob contrato que não são da base, né? Isso é uma realidade que acontece com todos os clubes no Brasil.

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Por Explosão Tricolor / Fonte: GloboEsporte.com

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