As cartas estão dadas

2020, amigos tricolores, é um ano repleto de dúvidas. Essa afirmação vale também para o futebol, já que a pandemia modificou radicalmente o planejamento dos clubes, seja pela queda de arrecadação, pelo calendário ainda mais apertado que o normal, pelos desfalques constantes, pela longa pausa sem atividade, entre outros.

No Fluminense, contudo, muitas delas já foram esclarecidas a essa altura. Nós já sabemos, por exemplo, mais ou menos os níveis máximo e mínimo de desempenho que esse time do Odair pode atingir.

Desde o meu último texto na coluna, apresentamos futebol próximo do nosso pior neste Brasileirão. Com resultados bem diversos – derrota diante do Palmeiras, vitória contra o Inter e empate contra o Bragantino -, a bola foi maltratada de forma bem semelhante nas três ocasiões. Incapacidade de impor nosso jogo, excesso de cautela, pouca criatividade.  

Por um lado, desanima. Sem partidas no meio da semana, é quase um mês de futebol modorrento e desinteressante. Por outro, há um certo conforto no fato de, ainda que estejamos em baixa, não se trata de um nível de exibição capaz de nos afaste da briga pelo tão sonhado retorno à Libertadores, muito menos nos credencia a candidato a rebaixamento, como fomos nos últimos 6 anos.

Afinal, agora já sabemos, o time do Odair é isso aí: organizado, seguro, sabe jogar em mais de um esquema, tem reservas a altura dos titulares para a maioria das posições; mas não arrisca, não cria chances em profusão, não é criativo, não encanta e nem encantará.

Nos maus momentos, veremos a equipe insossa, pouco inspirada, como nas últimas partidas, mas sem nos entregar ao pânico em pleno final de semana. Nos bons, jogaremos melhor que os adversários, com atuações sólidas, mas sem colocar brilho nos olhos de ninguém. 

Apesar das atuações medianas, penso que o trabalho do Odair é bom. Primeiro, porque, entre os times de orçamento mais ou menos no patamar do nosso, salvo o brilhante Fortaleza do Ceni, não acho que ninguém tenha jogado mais que a gente, em média. 

O Vasco de Ramon Menezes começou bem, mas caiu vertiginosamente até sua demissão; o Bragantino agora vive boa sequência, mas começou mal demais; o Athletico idem; o Corinthians do Vagner Mancini se organizou defensivamente, mas do meio para frente é um deserto. 

Segundo, porque nossa diretoria impôs dificuldades irrazoáveis ao treineiro. Vendeu o titular incontestável da lateral direita (Gilberto) e não repôs; vendeu o centro avante titular e melhor jogador do time (Evanilson) e trouxe o Lucca para a vaga; por fim, perdeu o melhor volante do time (Dodi). Sem contar os dois surtos de covid que castigaram o elenco. 

Em especial após a perda do Lewanilson, Odair teve que reconstruir a equipe, porque não havia 9 a altura para manter o 4-2-3-1 daquele momento. E o fez muito bem, encontrando uma nova forma de jogar no 4-3-3, com o outrora descartável Hudson liderando o adiantamento da marcação e a bola parada ofensiva. 

É o bastante? Muita gente importante na mídia tricolor acha que não, que é pura mediocridade. E é claro que não é, nosso Fluminense é muito mais que isso. Mas falo do nosso Fluminense dos sonhos, como descrevi em texto anterior. Para o Fluminense do mundo real, é um avanço em relação aos últimos anos, que pode ajudar a recolocar o gigante nos trilhos.

Para alcançar o objetivo, a volta à Libertadores, nossos adversários e o nível de jogo deles também já é conhecido. O foco deve estar no Santos e no Inter que, apesar de terem melhores jogadores que nós, não têm a perspectiva de jogar a bola dos demais concorrentes. Precisamos terminar na frente de pelo menos um dos dois para conquistar o G7. É essa a nossa luta. 

E é possível conseguir. O Inter, que jogou muito com Coudet, está em franco declínio. Já o Santos, de Marinho e Soteldo, é bastante irregular. Um mês atrás, chegou inclusive à marca de 180 minutos sem acertar uma bola no gol dos adversários.

Dá para levar. O Fluminense dos sonhos, indispensável nossas pretensões de longo prazo, a gente pode deixar para o momento de planejar a próxima temporada.

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NENÊ E FRED

Infelizmente, o vovô Nenê é importante para o nosso elenco. Após a saída do Lewanilson, não tínhamos ninguém com a mínima afinidade com o balançar das redes. Só que agora o cenário mudou.

Primeiro, porque o vô tem estado off nos últimos tempos. Se ele já não apresentava muito para além da finalização, agora até nelas tem pecado; para a bola parada, apareceu o Danilo Barcelos, que é melhor. Segundo, Marcos Paulo, que vai bem na posição dele, cresceu de rendimento. Finalmente, para mexer no placar, passamos a ter o Fred, que fez boas partidas antes de se lesionar outra vez.  

Fred, aliás, escancara um grande erro na montagem do nosso elenco: ao mesmo tempo, é sabido que não se pode contar com ele para jogar todas as partidas e a função dele é uma das mais carentes do grupo. O planejamento, provavelmente, era ainda ter o Lewanilson, mas nossos ilustrados gestores não contaram com a chance da venda do atleta, que sequer era nosso.

Não que nos faltem centroavantes. É que, com a característica de preencher a área, exigida pelo esquema do treineiro, só temos o Dom e o perna-de-pau Felippe Cardoso. Por ali, sem dar referência, o MP não se foi bem; e o Lucca ainda não teve tantas oportunidades para que possamos avaliar.  

Por causa disso, Fred talvez seja o jogador de substituição mais difícil do nosso 11 inicial, hoje. Um absurdo semelhante ao que ocorria com Egídio até pouco tempo atrás, quem, apesar de entregar pontos diversos, só tinha como sombra o Orinho, inapto para a série A.

Diante desses argumentos, acho que devemos preparar duas alternativas. A principal seria com Fred e MP atrás dele, barrando Nenê. Sem Fred, contudo, penso ser necessário que o vovô jogue, atrás de um centroavante mais “ponta de lança”, que pode ser o Lucca. Vale o teste?

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ATÉ AQUI NOS ANOS ANTERIORES:

2018 – Brasileirão: 28 pontos (12ª colocação); Sul-Americana: classificado às quartas de final, após eliminar o Deportivo Cuenca-EQU; Copa do Brasil: eliminado na 3ª fase pelo Avaí.

2019 – Brasileirão: 25 pontos (15ª colocação); Sul-Americana: classificado às quartas de final, após eliminar o Peñarol-URU; Copa do Brasil: eliminado nas oitavas de final pelo Cruzeiro.

Vale dizer que insisto em comparar com as temporadas a partir de 2018 porque este foi o primeiro ano que nos planejamos após termos a noção do rombo deixado pela gestão Peter Siemsen. É o ponto mais baixo do clube desde a saída da Unimed, que revelou o tamanho da nossa pobreza. A recuperação, portanto, começa a partir dali.

VENCE O FLUMINENSE!

Tarik Moussallem