Fim dos termos racistas no futebol: por quê tanta gente se incomoda?




Foto; Vinicius Toledo / Explosão Tricolor



Salve, aristocrática torcida tricolor! Volto essa semana para abordar um tema delicado e que vem mobilizando a torcida do Fluminense no maior Fórum de debates do planeta: o Twitter. A FluTT está em chamas por conta do debate acerca do termo de conotação racista “molambo”, que foi retirado de uma canção de arquibancada da torcida “ Bravo 52”. Enquanto cidadão brasileiro, carioca e negro, acho que posso falar com certa propriedade sobre o tema. De antemão, parabenizo a atitude e, sobretudo a CORAGEM da referida torcida pela atitude.

Vivemos em um país extremamente racista, foram mais de TREZENTOS anos de trabalho escravo, genocídio negro, estupros, torturas e toda sorte de crueldades durante esse período. Com o fim do trabalho escravo, as coisas não mudaram tanto, como pensam alguns. Os negros foram marginalizados de maneira oficial mesmo “livres”. Ações governamentais os impediram por exemplo, de ter acesso a posse de terras, educação e livre circulação, e embora tais medidas não existam mais, as cicatrizes nos marcam até hoje. A segregação racial que existiu nos EUA, aparece no Brasil na forma da injustiça social: negros fora das esferas de poder, insultados diariamente e vulneráveis economicamente, mesmo sendo a etnia majoritária no Brasil. 

Dito isso, vamos a questão do cântico. Parece que ficou pequena diante de tantos problemas, né? O que é um mero cântico de torcida frente à todos esses problemas citados? Não, não é uma questão menor. Atravessamos um período de mudanças, de conscientização, uma revolução nas relações sociais. E uma SIMPLES mudança de uma torcida pode fazer toda diferença. Nos faz refletir, encarar nossos preconceitos , talvez mudar. A troca do termo vai acabar com o racismo? Por óbvio que não, mas gerou um debate que ultrapassou os limites da nossa torcida, e isso já é uma vitória, estamos debatendo, concordando, discordando, enfim o tema veio à luz.

O Fluminense é o PIONEIRO do futebol no Brasil, aproveitemos essa oportunidade para sermos também pioneiros no debate sobre esse tema. É uma questão humanitária, urgente e que atinge à todos, de uma maneira, ou de outra. E para o Fluminense ser de fato, o “Time de todos”, precisamos abraçar essa causa, sem politizar ou relativizar o debate. Só assim poderemos evoluir enquanto sociedade.

Para os que acham “exagero” o fim dos termos racistas, recomendo uma análise de consciência e uma busca pela história do Brasil. Tendo um mínimo de humanidade, tenho certeza que pelo menos, você vai refletir. Deixo também o  meu respeito democrático à todas as opiniões.

Vitor Costa. Professor, historiador e tricolor (Twitter: @vitorcosta1111)