A zona proibida




Buenas, tricolada. Depois de uma meia semana sabática, tempo em que não tive forças para rabiscar algumas linhas aqui no Explosão Tricolor sobre o confronto do Flu diante do Ceará, cá estou eu de volta. Um pouquinho (muito pouquinho mesmo) menos revoltado do que na peleja anterior, mas disposto a descrever os meus sentimentos e a minha avaliação sobre o duelo contra o nosso eterno algoz, Vasco da Gama.

Sim, dominamos os dois períodos de jogo. A equipe cruz-maltina teve apenas duas ou três chances de gol, na primeira etapa, em chutes de fora da área, e zero – ou meia – na segunda. O time da Colina Histórica abdicou de jogar!

É impressionante a nossa incapacidade de balançar as redes adversárias. A meta dos oponentes, quaisquer deles, é zona proibida! Pra variar, desperdiçamos oportunidades claras de abrir o marcador em profusão. Marcos Paulo, Daniel, Ganso, Nino, Digão, Yony… Porra, que parto empurrar uma bolinha pra dentro do gol inimigo, caceta!

Creio que as “botinadas” nas finalizações tricolores estejam acima de um simples treinamento de fundamentos. Tratam-se do nervosismo e da intranquilidade. Do acúmulo de patacadas vindas dos gabinetes de Álvaro Chaves. Das contas no vermelho em consequência de atrasos salariais. Dos desmandos acumulados. Da penúria institucional em que o (outrora) gigante FFC se vê inserido. Do descrédito. Do discurso efêmero. Da opacidade daqueles que deveriam abraçar as causas verdes, brancas e grenás (no plural, mesmo), mas somente as maquiam. Das incertezas. Enfim, o Fluminense hoje é um balaio de gato! As tramas rodrigueanas do apaixonado Nélson perdem-se na obscuridade das ações e depoimentos de TODOS. Do porteiro do clube, passando pelo roupeiro, ao Presidente! Não há explicações, caramba!

O Marcão escalou os onze titulares muito próximo daquilo que considero mais viável e ideal para o momento. Talvez eu experimentasse os Lucas, Calegari e Claro, nas vagas de Gilberto e Digão, respectivamente. Mas, a bem da verdade, ambos os preteridos pelos meus juízos atuaram direitinho. Não comprometeram e ainda realizaram as suas funções a contento. Prova cabal de que poderíamos quebrar temporariamente a indesejável escrita contra os portugas neste sábado, pela trigésima rodada do Brasileirão 2019. É, galera, faltam apenas oito guerras para decidirmos o nosso 2020 – e talvez o nosso futuro no velho e violento esporte bretão!

Fizemos um primeiro tempo melhor do que o segundo, mas enquanto a pelota permanecer com vida própria, teimosa e desafeiçoada das três cores que traduzem tradição, o destino debochará das nossas faces ruborizadas – de raiva e vergonha!

Ao contrário das últimas contendas, o Muriel foi (quase) um mero expectador. Nino esteve ótimo, tanto nas interceptações quanto nas coberturas e saídas de jogo. Caio Henrique bem que tentou… Levou um calor do ensaboado Rossi, em alguns embates diretos, mas apresentou-se no campo de ataque sempre que via o corredor esquerdo à sua espera.

A meiúca esteve mais sólida defensivamente, com Yuri e Allan na contenção. Aliás, o segundo voltou a ter participação efetiva numa pugna. Inverteu várias jogadas com maestria, sempre com lançamentos e passes longos – e precisos. O PH Ganso retomou o seu cetro e atuou num nível mais elevado. Descobriu seguidamente os nossos avantes desmarcados, enfiou bolas com açúcar, deu boa dinâmica no meio e errou poucos passes. Além disso, operou com menores responsabilidades defensivas… Ele flutuou na frente, nas ocasiões em que o Bacalhau propunha o jogo, mas recompôs a nossa cozinha em diversas circunstâncias. Daniel ainda é a formiguinha do setor. O garoto desloca-se, busca os companheiros, tenta, não teme as vaias e ainda meteu um pombo no travessão do Fernando Miguel, na primeira metade do confronto.

O ataque é que permanece peregrinando! A nossa última bola sempre encontra as paredes adversárias bem postadas, por cima ou por baixo. E a impressão é a de que as suas labutas ali atrás são facilitadas – os caras demonstram mínimos esforços para interromper as nossas infrutíferas tentativas de tentos. Os arremates do Tricolor Carioca a gol, então, putz!

Nos últimos dez minutos da batalha deste sábado vimos uma avalanche tricolor! Eram tabelas na entrada da área inimiga, bolas alçadas – pelos dois lados, chutes daqui e de lá, de perto e de longe… Mas a perversidade dos deuses do futebol nos obrigou a digerir um indigesto zero a zero. Um empate razoável pros caras – mas o azar é o deles – e desesperador pro Flu! Repito: restam-nos apenas oito intermináveis escaramuças!

Sobre o Marcão, vi alguns torcedores criticando as suas substituições. Vamos lá… OK, com a gente necessitando da vitória como um faminto precisa de um prato de feijão, retirar o Yuri e colocar outro volante, o Dodi, remontava um certo conformismo – ou covardia. Oras, mas se eu apostasse na troca de um homem de contenção por um atacante, como defenderam muitos, estaria contradizendo os meus próprios conceitos. Afirmei, taxativo, no começo da coluna, que a escalação inicial do Flu foi contígua com a que almejava para o nosso momento. Mesmo com os nossos guerreiros dispondo de maiores cuidados defensivos, os vascaínos encaixaram uns três contra-ataques perigosos, no final da peleja. Confesso que sucumbiria a mais um partida a qual dominávamos, perdíamos gols e, no apagar das luzes, os malandros nos ensacassem.

Ademais, sairiam quaisquer dos volantes e entrariam… entrariam… Wellington Nem? Guilherme? Jotapê, que anda numa má fase infindável? Um dos problemas, quem sabe o maior, é não vermos o Zé Ricardo sequer relacionado pro banco de reservas… Esse moleque deve treinar mal a rodo! Ou fez uma cagada fenomenal dentro do Fluminense!

Após tal alteração, o Marcão sacou o Ganso e pôs o Nenê. Eu venho criticando o camisa 77 sistematicamente aqui no Explosão, mas a aposta do nosso treinador-estagiário foi válida. Ele tentou dar mais mobilidade e poder de finalização ao time. Talvez a saída do camisa dez não fosse a melhor opção, mas eu estaria, mais uma vez, me contradizendo: preguei várias vezes que não gosto da formação da equipe com Ganso e Nenê juntos. Portanto, penso que tenha prestado os devidos esclarecimentos sobre a opção do técnico e sobre a troca, sob a minha ótica. Ainda que não a tenha aprovado completamente.

Em suma, rapaziada, o fato é que o Fluminense Football Club, pela enésima vez nesta temporada, viu esvair-se pelo ralo as boas chances de calar os críticos e de startar, de novo, o seu protagonismo diante das causas impossíveis – além de bater o Vasco, merda!

A superação sempre nos foi par, mas a hora de provar estas realidades está escasseando. O relógio é nosso oponente, o nosso êmulo e o nosso impugnador! Se não espremermos já o limão, enquanto ele ainda está agridoce, a nossa caipirinha nos causará severos males e indigestões.

Na Série B não teremos limões. Quiçá “degustaremos” um mequetrefe refresquinho quente, constituído predominantemente de água salobra, tal qual aqueles vendidos nos finais de festa, nas madrugas, nas cercanias de alguns eventos menos concorridos.

Saudações eternamente tricolores!

Ricardo Timon