Coletiva completa de Roger Machado: necessidade de reforços, dificuldades financeiras, expectativa para a disputa da Libertadores e muito mais




Roger Machado (Foto: Lucas Merçon / Fluminense F.C.)



Roger Machado concedeu a sua primeira entrevista coletiva como treinador do Fluminense

Recém-contratado pelo Fluminense, o técnico Roger Machado foi apresentado oficialmente na manhã deste sábado (27), no CT Carlos José Castilho. O treinador concedeu a sua primeira entrevista coletiva pelo Tricolor. Confira abaixo todas as respostas do novo comandante do time das Laranjeiras:

Acerto com o Fluminense

“Confesso que esse momento ele para mim foi esperado por muito tempo. Poder estar sendo anunciado como treinador do clube depois de 13 anos como atleta profissional aqui, e tendo tido parte da minha vida aqui na instituição. Sei o desafio que tenho em mãos, o tamanho da responsabilidade, mas tenho certeza, dando continuidade ao trabalho feito até o momento, temos possibilidade de seguir construindo a história do clube com conquistas. É uma honra grande, muito obrigado.

Evidentemente o fator decisivo dessa combinação que me trouxe até aqui foi entender o planejamento, o projeto que me mostraram, e passei a entender o que gostaria de fazer para esse momento, de poder ajudar a reformular o clube. Disputar competições importantes, trabalhar com o que eu entendo, que é essa combinação importante de revelações, que Xerém nos dá, e a experiência de jogadores mais vividos. Mas não posso deixar de dizer que emocionalmente teve uma decisão muito forte de voltar para casa, a esse ambiente que 13 anos atrás convivi com muita intensidade. De me relacionar com pessoas que muitas delas ainda estão por aqui, construindo a história do clube, e pude participar durante três anos (2006, 2007 e 2008), uma das fases mais importantes que vivi.

Tem as motivações profissionais, mas sem dúvida o coração falou bem alto no momento da decisão dessa parceria.”

Ideias e conceitos de jogo

“O time tem que ter a cara que o torcedor deseja ser representado dentro de campo. Time competitivo, que saiba jogar bom futebol, com conceitos atuais e modernos, cada vez construindo mais com linhas próximas, agressividade no campo de ataque, sempre buscando o gol. Parte sobretudo da qualidade do material humano que tem à disposição. O que tenho visto nos jogos, dos jogadores jovens, temos capacidade de ter não só uma forma de jogar, mas ter alternativas para superar dificuldades no jogo. Vamos construir uma equipe que na maior parte do tempo vai buscar a vitória, e o torcedor vai se sentir representado. Com o Marcão ao lado, isso tudo entra no dia a dia, para continuar esse caminho das vitórias e conquistas. Queremos um time que a torcida se identifique.”

Mudanças graduais no jeito de jogar da equipe

“Mesmo com pouco tempo de recesso entre uma e outra temporada, é conseguir dar qualidade ao treinamento. Pela forma como a temporada acabou com o Marcão à frente, junto com o Aílton, um trabalho brilhante, encontrei muita similaridade com o que a gente tem como filosofia de trabalho. Encontrar já um caminho construído, é parte da comissão nova entender o processo com pouco tempo de treinamento e gradativamente ir inserindo conteúdos.

Claro que com pouco tempo, uma mexida abrupta na equipe poderia ser mais prejudicial do que favorecer a construção do trabalho. É entender isso, mas com a certeza pela proximidade, similaridade com quem estava aqui. Joguei com Marcão, com o Aílton, e nossas ideias se aproximam muito das que comungo como profissional.”

Rejeição de parte da torcida

“Não há unanimidade no futebol brasileiro. Para mim o ponto mais importante são alguns rótulos e narrativas em torno da profissão de treinador. Hoje no Brasil, felizmente ou infelizmente, quem tem aceitação por parte de todos se resume muitas vezes ao treinador revelação da temporada. Que já fui eu em 2015, passando pelo Jair Ventura, Tiago Nunes… E nos insucessos, considerados trabalhos posteriores, se há desconfiança natural. A do que é sucesso na profissão demanda muito da expectativa do trabalho em que se está inserido e as respostas.

Isso varia de acordo com quem está analisando. Hoje, com exceção desses treinadores destaque do ano, a bola da vez hoje talvez seja o Lisca, ou o Louzer da Chapecoense, e com exceção desses treinadores estrangeiros, todos os outros chegam com um nível de desconfiança. O que tenho visto é essa aceitação com o torcedor, ligada a minha história no clube. Isso se torna vantagem, mas quando a bola rola eu vou ser julgado pelos resultados de campo. Mas me considero um treinador jovem, em construção da minha carreira, e aqui considero continuar construindo com conquistas.”

Respaldo da diretoria tricolor 

“Nós, como treinadores, não estamos à parte do que rege as regras de qualquer outra profissão. Vamos ser analisados pelos resultados. Todos somos. E a produtividade do que a atividade propõe. Porém, o que a gente questiona é que sejamos avaliados para além dos resultados. A história de um clube centenário vai continuar sendo construída ao longo dos anos, por vezes um insucesso em algumas circunstâncias fortalece o caminho, dá muitas vezes base para futuros sucessos. O que nós como profissionais pregamos para além dos resultados é que conheçam o dia a dia, entendam o momento, e possam colocar isso na conta final do processo também.

Estar ao lado de profissionais que entendem dessa forma (diretoria), não tenha dúvida gera muita segurança. Pelo imediatismo da nossa profissão, de ser mais pragmáticos, com conceitos de futebol visando resultado imediato, imagina-se essa instabilidade que o mercado proporciona muitas vezes. Essa confiança (da diretoria) dá tranquilidade para iniciar o processo, e desde o começo colocar os princípios e desejos dentro dessa construção sem que corra o risco de pular as etapas. Não acredito em vencer de qualquer jeito.”

Necessidade de reforços

“Tenho a certeza pelo ano como finalizou, como a equipe está estruturada, os resultados positivos que conquistamos, isso me dá convicção de que temos um grupo forte, quase que completo. Associando ao nosso grupo a juventude dos meninos de Xerém, que se mostraram promissores, com a experiência de jogadores mais vividos, acho que essa parceria é combinação ideal para uma equipe competitiva. Claro que uma equipe grande sempre deve estar aberta a prospectar novos talentos.

Mas, mediante o conhecimento mais aprimorado, vamos sentar e programar questões para um futuro imediato, a médio prazo e longo prazo. Tudo partindo do princípio do que a gente tem à disposição nesse momento mostrou ser de grande capacidade e futuro. A gente já vai ver no Estadual com esses jovens valores que Xerém está acostumado a revelar.”

Dificuldades financeiras

“Dificuldades financeiras no futebol brasileiro não estão restritas ao Fluminense. Sobretudo depois da pandemia que a gente atravessa, impede torcedores nos estádios, gera perda de arrecadação… Tudo que nós já sabemos. O que me foi prometido foi um ambiente de trabalho e a capacidade de honrar os compromissos que nós assumirmos. A possibilidade com essa mescla juventude e experiência, a gente ter um ambiente estruturado e seguir construindo, reformulando o clube para conquistas que em sua história sempre teve. Não me foi prometido nada mirabolante.

Conheço o Mário, o Paulo, sei que são profissionais que, muito embora otimistas e entusiasmados, têm os pés no chão no que diz respeito à administração. Não nos impede de sonhar e planejar grandes conquistas. Esses foram critérios e bases dessa parceria que eu acredito muito. Na organização, no ambiente… O talento pode decidir dentro de uma estrutura organizada para se desenvolver. É o que eu vejo no Fluminense nesse momento que cheguei.”

Utilização do meia Paulo Henrique Ganso

“Quando falei dos jogadores experientes, fiz questão de nominar o Paulo Henrique (Ganso) porque entendo que a principal base de avaliação de jogador de futebol é o talento para desempenhar dentro de campo. Tenho planificações táticas e posso usá-lo em uma ou outra posição. O Paulo sempre jogou no meio, atrás do centroavante, com o Diniz jogou mais baixo no campo para construir. Todo treinador deseja atletas para adaptar estruturas diferentes. O Nenê, por exemplo, joga em um 4-3-3 aberto pelo lado, ou atrás do centroavante como meia-atacante, pode jogar recuado em uma linha de três meias…

Jogador que estiver a minha disposição vai ser avaliado no dia a dia, com relação a sua característica, e avaliado dentro de cada estrutura. A mistura dos mais experientes com jovens é muito importante. Essa juventude que vai nos dar suporte para os jogadores mais experientes oferecerem o que têm de melhor, e vice-versa. Isso o dia a dia vai nos mostrar. Quando chego em um ambiente novo, respeito a história de cada atleta, construída no clube ou trazida de outros lugares. Mas a partir daquele momento a história de cada atleta vai ser construída comigo. Evidente que desejo ter, e o talento do Paulo Henrique vai ser muito útil.”

Expectativa para a disputa da Libertadores

“Me considero um profissional bem experiente em Libertadores, tanto como jogador quanto treinador. É uma competição muito particular, todo clube deseja estar disputando. Vejo que, da forma como acabamos a temporada, o nível de futebol, nos dá um otimismo muito grande. Uma amostra sobretudo daqueles jogadores de peso, o peso relativo do lugar de onde vem, Xerém tem muito peso, isso nos anima a ponto de criar essa expectativa. Associando ao peso a jogadores importantes, mais vividos e com experiência nessa competição, isso me deixa tranquilo de entrar sabendo que temos força necessária para conseguir vislumbrar um futuro mais longo nessa competição.

A história do clube dentro do torneio mostra isso. É uma competição dura, disputei sete ou oito como jogador. Venci a primeira, achei que era fácil por ter vencido a primeira (risos). Só vim disputar a minha segunda final 13 anos depois, aqui nessa casa. Essa trajetória me dá uma experiência importante de entender a competição, que embora dura nós temos muitas chances de estar na final, disputando fases importantes. A organização é importante do ponto de vista tático, mas o que define é o talento. Precisa organizá-lo para continuar como tem sido, bem feito.”

Pouco tempo de preparação para a Pré-Libertadores

“Temos que enxergar possíveis problemas à frente. Mas a continuidade do Marcão e as singularidades atenuam os problemas. Ter um time com jovens e experientes dá outra estrutura e suporte importantes nisso tudo. É quase uma continuidade de uma temporada para outra, o pouco tempo de preparação é atenuado em função da pouca parada. Se fala muito de descanso físico, fisiológico, mas falo muito da questão emocional.

Jogadores já não fizeram uma temporada regular, e no período que teve, na densidade desse jogos entre 48 e 72 horas de distância, isso impacta do ponto de vista emocional. Às vezes a recuperação neurológica é mais dura do que a física. O fato de nas fases preliminares da Libertadores você pegar um time da altitude, isso tudo é um elemento a mais. São fatores que você vai linkando, te dá vantagens e desvantagens.

Mas tenho certeza que a juventude associada à experiência é um fator importante a nosso favor. Torna o trabalho mais prazeroso. Tenho prazer trabalhar com juventude porque a margem de evolução é muito grande.”

Desempenho do Fluminense na temporada 2020

“A continuidade do trabalho do Odair na figura do Marcão mostrou questões importantes dentro do campo. A estrutura tática é diferente, mas é um time extremamente organizado, a gente consegue entender qual a proposta de jogo, a forma e os elementos inseridos dentro daquela construção. O que eu gostaria de frisar é algo que percebi quando cheguei. Todos os elementos técnicos e táticos foram reproduzidos em campo porque se produziu um ambiente de muita cooperação entre todos os setores.

Acredito muito que os acertos, a estrutura acima do campo harmoniosa, isso vai chegar dentro do campo. Isso eu consegui enxergar nitidamente e faz entender a razão dessa campanha que o clube fez no Brasileiro: o talento do Odair de organizar dessa forma, a continuidade com Marcão e essa união da juventude com jogadores mais maduros. Minha vivência como atleta, quando se é jovem, tem o ímpeto da juventude, mas precisa do mais experiente. Não dá para fazer time só com experientes, porque a gente busca trazer o jogo com nossa velocidade, o ideal é sempre o equilíbrio.

O jovem precisa dessa segurança, desse suporte, esse guarda-chuva dentro de campo. Sobretudo no último jogo, com estádio vazio, você consegue ouvir dentro de campo. Vi muitas vezes isso acontecer com Fred, Nenê, Ganso, uma hora com cobrança, com incentivo, pedindo uma atitude que poderia ter sido diferente. A gestão desse ambiente é que pode nos levar a essas conquistas. (…) Com 20 anos, joguei uma final de Libertadores, e logo tomamos um gol. A reação do jovem é procurar os mais experientes. Procurei o Luís Carlos Goiano, que disse: “Calma, neguinho, não aconteceu nada, o jogo está normal”. Ele me deu a tranquilidade de seguir na partida.”

Projeto sub-23

“Eu sempre busquei nos compromissos assumidos trabalhar com uma categoria de passagem para o profissional. Porque o que eu entendo e vivo no futebol há 30 anos, especialmente nos últimos 20, 15 anos, os jogadores cada vez mais jovens estão sendo lançados no profissional. Muitos deles ou já amadurecidos tecnicamente, taticamente, com nível de inteligência do jogo adequado, porém, emocionalmente em alguns momentos não completamente desenvolvidos. Outros emocionalmente desenvolvidos, mas tecnicamente ou taticamente ainda precisando de uma lapidação.

À medida que esses meninos são lançados no profissional, o ambiente vai pressioná-los para performance em todos os sentidos. Alguns vão conseguir sobrepor essas dificuldades, mas outros tantos talentos podem ser perdidos dentro desse processo. Então, ao me deparar com essa estrutura já montada no Fluminense, com essa fórmula de estarem muito próximo do profissional, eu consigo estar junto. Agora pela manhã estava vendo o treinamento dos meninos que vão iniciar o Estadual. Tive oportunidade de falar brevemente com eles, e uma das questões que salientei foi justamente isso, atleta precisa de continuidade de performance para continuar se desenvolvendo.

Isso se dá no treino, mas sobretudo no jogo. Se um jogador jovem passar um ano inteiro só treinando no profissional não vai se desenvolver próximo do limite de suas capacidades. Para mim, isso é fundamental. Em todo ambiente que cheguei eu busquei isso e vou trabalhar futuramente para completar esse gap que na minha opinião falta ao futebol brasileiro. Alguns conseguem aos 16, 17 anos, aguentar a pressão de um ambiente profissional, só que esses são as exceções. A gente não pode medir as exceções como regra.”

Sombra de Marcão

“Sombra não, eu tenho a responsabilidade de continuar construindo, agora a duas mãos, o que o Marcão deixou. (…) Cada treinador tem um pouco da sua forma de jogar, seu jeito. Vou desejar que o time tenha um jogo um pouco mais apoiado, acho que a gente pode evoluir na velocidade da troca de passes, mas isso tudo dentro da mesma linha do Marcão. Além de ter jogado com ele, fomos colegas de curso nas nossas licenças, e já naquele momento a gente discutia muito e já se identificava com a maioria dos princípios. E vamos discutir conjuntamente, sou um profissional que não tenho nenhum tipo de vaidade. Sou um líder de um processo, mas sei muito bem ser ouvinte também. Tenho certeza que ter o Marcão ao lado não é sombra, será um acréscimo. E o melhor acréscimo que eu poderia ter.”

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Agenda do Fluminense:

1ª rodada da Taça Guanabara

04/03 – Quinta-feira – 18h – Resende x Fluminense – Maracanã

2ª rodada da Taça Guanabara

07/03 – Domingo – 16h – Fluminense x Portuguesa – Maracanã

3ª rodada da Taça Guanabara

14/03 – Domingo – 18h – Flamengo x Fluminense – Maracanã



Por Explosão Tricolor

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