Ex-dirigente do Flu alerta sobre gastos em obras do CT




Como toda grande construção, o CT do Fluminense já vai chegando próximo dos 90 dias de obras e vem chamando a atenção de torcedores, dirigentes, moradores da região e ex-dirigentes também. É exatamente de um ex-dirigente que parte o primeiro questionamento envolvendo o Centro de Treinamento. Marcello Gonçalves, ex-vice de marketing, destoa dos elogios de conselheiros, do entusiasmo da gestão de Peter Siemsen e entende não haver controle dos gastos nas obras. Além disso, ele alerta que a comissão formada no Conselho Deliberativo é falha ao fiscalizar o investimento feito por Pedro Antônio Ribeiro da Silva, o vice de Projetos Especiais.

Após quase um ano de atraso, o projeto saiu do papel graças a um acordo feito entre Peter e Pedro Antônio. Pedro se ofereceu para bancar o começo dos trabalhos – pode gastar, após liberação do presidente, na fase inicial, a de aterro e estabilização do solo, R$ 4 milhões, e o clube terá de pagar o valor ou com correção da Taxa Selic (14,15%, atualmente) ou com repasse de eventuais vendas de jogadores, o que, por exemplo, não ocorreu após as negociações de Kenedy e Gerson.

Fred Huber; ct; flu;
Foto do início das obras no CT. (Foto: Fred Hubber)

É aí que entra o questionamento de Marcello. Ao reconhecer não ter avançado no contraponto enquanto estava na gestão (saiu por motivos pessoais no começo do mês), o ex-dirigente entende que Pedro Antônio tem liberdade demais. Questiona, basicamente, dois pontos: falta de concorrência e a necessidade de prorrogar os trabalhos até à noite.

– Pedro Antônio começou a obra com dinheiro próprio, mas não está doando o dinheiro. O Fluminense terá de pagar. Então, o dinheiro não é dele, é do clube. Há, portanto, a necessidade de controle. Hoje, isso não existe. Não há controle. Ele gasta como quiser. Não tenho dúvida nenhuma de que todo o dinheiro será investido no CT. A questão não é essa. O que eu questiono é se está sendo observada a melhor prática de custo. Por exemplo: por qual motivo fazer trabalhos à noite, período notoriamente que exige pagamento maior? Por qual motivo não fazer orçamentos diferentes e apresentá-los à comissão do CT antes de contratar o serviço? Não há concorrência. Do jeito que está, não haverá controle. Apenas uma auditoria ao final dos trabalhos – detalhou Marcello.

O ex-dirigente levantou uma hipótese para tal comportamento. Para ele, o desejo de concluir a obra até o final do mandato de Peter (final de 2016) explica o andamento acelerado:

– Me parece que a obra está sendo tocada a qualquer custo e com muita pressa. É um grande legado, claro. Sou a favor do CT. Mas ele deixará uma dívida a ser paga provavelmente pelo próximo presidente. É o preço de não haver consulta a ninguém. Deram um cheque em branco ao Pedro Antônio.

Mas por qual motivo Marcello não fez a crítica antes dos 86 dias de obras, a serem completos nesta quarta-feira?

– Saí um pouco depois de as obras começarem. Tentei, no passado, ajudar o Pedro Antônio apresentando pessoas. Tricolores donos de construtoras. Ele não se interessou. Ele toca o negócio, então, sem problemas. E imaginava que a comissão iria acompanhar semanalmente, avaliando as possibilidades. Ela fará apenas uma auditoria só para comprovar que o gasto é no CT.

A informação é do site GloboEsporte.com, que procurou a assessoria de imprensa do Fluminense e informou que nenhum dirigente iria comentar as críticas.  O Tricolor repassou um comunicado, no qual alega que o preço da obra está abaixo do mercado, exalta a transparência conquistada após a constituição da comissão do CT e diz que o clube está satisfeito e feliz por contar com o conhecimento técnico de Pedro Antônio, definido como um tricolor apaixonado.

Pedro Antônio, em recente entrevista, revelou que o custo da primeira fase caiu. Com areia e pedras doadas de outras construções, o valor, estimado em R$ 20 milhões, baixou para R$ 5 milhões. O transporte de material feito à noite, alegou, é gratuito. A partir de outubro, quando a fundação começará, o clube terá de buscar mais receita. Os campos, a área de suporte (lavanderia, garagem, depósito para materiais) e a área do futebol (vestiários, departamento médico, fisioterapia, musculação, piscinas e recuperação dos atletas) estão orçadas em R$ 21 milhões. A área de hospedagem (hotel, estrutura administrativa do futebol, sala de imprensa e refeitório), conhecida por torre de cinco andares, ficará para ser construída em um segundo momento. Aí, o valor da obra sobe para R$ 45 milhões.

Conclusão do aterramento (Foto: Bruno Haddad)
Conclusão do aterramento (Foto: Bruno Haddad)

O conselheiro Sergio Poggi foi nomeado presidente da comissão que acompanhará as obras do CT. Formado por 14 pessoas, sete deles indicadas por diferentes grupos políticos do clube, sete de outras comissões permanentes, como finanças e patrimônio, o grupo teve um reunião há duas semanas, a qual organizou a forma de trabalho. Não houve nenhum encontro com Pedro Antônio e tampouco nenhuma entrega de documento:

– Não é possível formar nenhum juízo de valor positivo ou negativo, afinal, as obras estão no começo e não tivemos acesso a nenhuma documentação ou prestação de contas. É um momento importante ao clube. São 113 anos de fundação e já deveríamos ter um CT há 30 anos. É notório que Pedro Antônio tem uma colaboração financeira, com fluxo de caixa e capital de giro. Ele pediu a constituição da comissão, aliás, para dar transparência. Vamos acompanhar com dedicação. A princípio, é uma comissão de acompanhamento. A nossa função é tomar conhecimento e passar as informações ao Conselho.

O aterro foi concluído. O atual estágio é de estabilização do solo. Outubro é para as primeiras estacas começarem a ser instaladas, o que permite, em novembro, começar a construção física. Algo que, de acordo com o clube, torna verossímil cumprir a promessa de inauguração em 2016, inclusive cedendo o local para treinos dos Jogos Olímpicos.

Por Explosão Tricolor / Fonte: Globo Esporte / Fotos: Bruno Haddad e Fred Hubber